Artigo Original 2
Abstract
Caracterização de Pessoas Estomizadas atendidas em Consulta de Enfermagem do Serviço de Estomaterapia do Município de Belém-PA
Figura 1: Distribuição de pessoas estomizadas atendidas em consulta de enfermagem no Serviço de Estomaterapia da Unidade de Referência Especializada, segundo o sexo. Belém-PA, 2010.Quanto ao estado marital, o estudo mostrou que houve uma prevalência entre os casados, 47,45%, seguido dos solteiros com 39,42%, viúvos com 9,98% e separados com 3,16% dos casos (Figura 2). Este resultado revela a importância da participação da família, principalmente do cônjuge, na recuperação do estomizado. Isso se justifica porque a confecção de uma estomia, geralmente, causa restrições à vida sexual do estomizado, que passa a ver a estomia como uma mutilação anatômica. Sendo assim, os familiares passam a constituírem peças fundamentais para execução de um plano terapêutico, de reabilitação e reinserção social.
Figura 2: Distribuição de pessoas estomizadas atendidas em consulta de enfermagem no Serviço de Estomaterapia da Unidade de Referência Especializada, segundo o estado marital. Belém-PA, 2010.Em relação à faixa etária, a mais acometida foi a população com mais de 60 anos de idade, sendo 141(31,83%) dos casos; em segundo lugar, com 19,64%, destacou-se a faixa etária entre 50 e 59 anos; em terceiro, com 16,48%, enquadra-se a população entre 40 e 49 anos; em quarto, com 14,67%, destacou-se a faixa etária entre 20 e 29 anos (Figura 3). A importância local deste fato devese à constatação das projeções da Organização Mundial da Saúde para 2025, nas quais o Brasil estará entre os 10 países do mundo com maior número de idosos7. No ano 2000, os idosos representavam 5% da população total de brasileiros; em 2050, esse índice subirá para 18%, igualandose com a população jovem de zero a 14 anos8.Quanto à procedência, 274 (61,85%) eram procedentes da capital do estado e 169 (38,15%) eram oriundos do interior do estado (Figura 4).Atribui-se este resultado provavelmente ao fato de as instituições de saúde do interior do estado não disponibilizarem de serviço especializado em atenção a essas pessoas, havendo a necessidade de deslocamento para o município de Belém-PA, principalmente para adquirir o equipamento coletor e adjuvantes, essenciais a suas vidas.
Figura 3: Distribuição de pessoas estomizadas atendidas em consulta de enfermagem no Serviço de Estomaterapia da Unidade de Referência Especializada, segundo a faixa etária. Belém-PA, 2010.
Figura 4: Distribuição de pessoas estomizadas atendidas em consulta de enfermagem no Serviço de Estomaterapia da Unidade de Referência Especializada, segundo a procedência. Belém-PA, 2010.Quanto ao nível de escolaridade, percebeuse que a maioria (56,98%) possuía o ensino fundamental incompleto; 5,12% com ensino fundamental completo; ensino médio incompleto 7,67%; ensino médio completo 16,28%; ensino superior incompleto 1,63%; ensino superior completo 4,42%; analfabetos apresentaram-se com 7,91% (Figura 5). Este resultado revela um perfil preocupante quando nos reportamos à cidadania e ao respeito aos direitos, pois sabemos que quanto mais baixa a escolaridade, mais desfavorável é o capital linguístico dos sujeitos para questionar os profissionais acerca de seus problemas de saúde, do cuidado a ser efetivado e sobre os direitos que lhes são inerentes8. Vale ressaltar que essa situação não interfere na atuação junto a essas pessoas, pois a interação entre usuário, serviço e profissionais de saúde tem proporcionado a superação das dificuldades impostas por essa variável.Ao analisarmos a ocupação, observou-se que o aposentado foi a condição profissional que mais se destacou (33,83%), seguido dos desempregados com 24,86% dos casos; 11,94% trabalham sem carteira assinada, 9,45% exercem a profissão do lar, 8,95% recebem algum tipo de benefício, 7,21% são estudantes e apenas 3,73% trabalham com carteira assinada (Figura 6). Uma das alterações ocasionadas pela estomia é a alteração do papel e do status social do cliente na família e na sociedade10. É comum após a cirurgia, o estomizado (que trabalhava) ser aposentado, deixando assim de ser o provedor da família, tornando-se, então, dependente desta em relação a seu cuidado.
Figura 5: Distribuição de pessoas estomizadas atendidas em consulta de enfermagem no Serviço de Estomaterapia da Unidade de Referência Especializada, segundo a escolaridade. Belém-PA, 2010.
Figura 6: Distribuição de pessoas estomizadas atendidas em consulta de enfermagem no Serviço de Estomaterapia da Unidade de Referência Especializada, segundo a ocupação. Belém-PA, 2010.A renda familiar é compreendida entre um e dois salários mínimos (66,51%), havendo um destaque também para aqueles que recebem menos de um salário mínimo (24,88%) (Figura 7). Estudo semelhante revelou ganhos familiares abaixo de três salários mínimos mensais9. Esta informação nos remete a concluir que a população estudada possui um baixo poder aquisitivo e, consequentemente, poderão ter dificuldades em adquirir os equipamentos coletores, essenciais para o seu processo reabilitatório.
Figura 7: Distribuição de pessoas estomizadas atendidas em consulta de enfermagem no Serviço de Estomaterapia da Unidade de Referência Especializada, segundo a renda familiar. Belém-PA, 2010.Com relação à causa básica que levou a confecção da estomia, 53,48% resultaram de neoplasias, seguidos de traumas, 16,55%, e das doenças inflamatórias, com 16,31% dos casos (Figura 8). Estes dados coincidem com a literatura: de acordo com estimativas para 2010 e 2011 do INCA, serão diagnosticados 56 mil novos casos de câncer de intestinos até 2011, 28 mil por ano4.
Figura 8: Distribuição de pessoas estomizadas atendidas em consulta de enfermagem no Serviço de Estomaterapia da Unidade de Referência Especializada, segundo a causa básica da estomia. Belém-PA, 2010.Dentre as estomias intestinais, houve o predomínio das colostomias, com 63,53% dos casos, seguidas das ileostomias, com 20,94%, e outros tipos, com 15,53% (Gráfico 9). Estes resultados aproximam-se de outros estudos, nos quais se revela o predomínio das colostomias5,11,12.
Figura 9: Distribuição de pessoas estomizadas atendidas em consulta deenfermagem no Serviço de Estomaterapia da Unidade de ReferênciaEspecializada, segundo o tipo de estoma. Belém-PA, 2010.Quanto ao caráter da estomia, 51,24% foi permanente e 48,76% de caráter provisório (Figura 10). A permanência ou não das estomias está diretamente relacionada com as causas que motivaram a sua construção. A definitiva se associa mais frequentemente ao câncer colorretal e urogenital e a temporária ao trauma5.
Figura 10: Distribuição de pessoas estomizadas atendidas em consulta de enfermagem no Serviço de Estomaterapia da Unidade de Referência Especializada, segundo o caráter do estoma. Belém-PA, 2010.Dentre as pessoas estomizadas atendidas no Serviço de Estomaterapia da Unidade de Referência do município de Belém-PA, 67,90% possuem o diâmetro de sua estomia entre 20 a 39 mm; 20,79% são referentes ao diâmetro entre 40 e 59 mm; 7,62% enquadram-se até 19 mm; 3,23% estão entre 60 e 79 mm e 0,46% possuem diâmetro igual ou superior a 80 mm (Figura 11). Esse dado é relevante ao contribuir para a previsão e provisão de equipamentos e adjuvantes para estomias.
Figura 11: Distribuição de pessoas estomizadas atendidas em consulta de enfermagem no Serviço de Estomaterapia da Unidade de Referência Especializada, segundo o diâmetro do estoma. Belém-PA, 2010.Analisando o tempo de estomizado, a maioria, 60,51%, apresenta a estomia com o tempo inferior a dois anos; 13,16% possuem estomia entre dois a quatro anos; 13,63% entre quatro a seis; 3,23% são estomizados entre seis e oito anos e 9,47% apresentam a estomia há mais de oito anos (Figura 12). Quanto mais recente a situação de convivência com a estomia, maiores são as dificuldades para se manejarem as novas necessidades e maiores são os constrangimentos sofridos pelas pessoas9.
Figura 12: Distribuição de pessoas estomizadas atendidas em consulta de enfermagem no Serviço de Estomaterapia da Unidade de Referência Especializada, segundo o tempo (em anos) de estomizado. Belém-PA, 2010.No que diz respeito às complicações relacionadas à estomia, 36,89% dos casos estavam relacionados ao prolapso; 14,75% à retração e 48,36% a outro tipo de complicação (Figura 13). O surgimento do prolapso resulta da exteriorização de segmentos intestinais móveis, distantes da fixação anatômica e geralmente associados a hérnias paracolostômicas, bem como aos fatores relativos à técnica cirúrgica, e outros de ordem geral, como aumento da pressão intra-abdominal e redução do tônus muscular, que colaboram para a incidência de tais complicações13.
Figura 13: Distribuição de pessoas estomizadas atendidas em consulta de enfermagem no Serviço de Estomaterapia da Unidade de Referência Especializada, segundo complicações relacionadas à estomia. Belém-PA, 2010.Ao analisarmos as complicações relacionadas à pele periestomal, detectamos que 82,39% dos casos apresentavam dermatite; 14,08% lesões pseudoverrugosas e 3,52% apresentavam outro tipo de complicação (Figura 14). Ocorre que as dermatites são causadas, provavelmente, por inadequação do tamanho ou modo de recorte do orifício da placa, quando esta é maior do que a estomia, com isso, a pele fica exposta ao contato do efluente. A utilização de bolsas com colantes e sua constante troca retiram as camadas protetoras da pele.
Figura 14: Distribuição de pessoas estomizadas atendidas em consulta de enfermagem no Serviço de Estomaterapia da Unidade de Referência Especializada, segundo complicações relacionadas à pele periestomal. Belém- PA, 2010.Quanto ao tipo de dispositivo, 84,42% dos estomizados utilizavam equipamento coletor do tipo sistema duas peças e 15,58% utilizavam sistema único (Figura 15). Com o avanço tecnológico e a diversidade de equipamentos no mercado, torna-se essencial estar familiarizado com esses dispositivos, e assim selecioná-los adequadamente de acordo com as necessidades individuais de cada pessoa estomizada.
Figura 15: Distribuição de pessoas estomizadas atendidas em consulta de enfermagem no Serviço de Estomaterapia da Unidade de Referência Especializada, segundo o tipo de dispositivo utilizado. Belém-PA, 2010.Considerações finaisEsta pesquisa traz resultados importantes ao planejamento de ações de saúde à pessoa estomizada, e ainda fornece o retrato dessa população aos profissionais que prestam assistência na Unidade.Observamos que, entre o grupo de pessoas estomizadas, não há uma predominância significativa do sexo, havendo uma equivalência entre eles. A maioria é casada. Prevaleceu a idade superior a 60 anos, aposentados com baixa renda, entre um a dois salários mínimos. A maioria da população é procedente da capital do estado. O nível de escolaridade que se destacou foi o ensino fundamental incompleto.Com relação à causa básica geradora da estomia, identificamos a neoplasia como de maior frequência, sendo as colostomias o tipo mais prevalente. Quanto ao caráter da estomia, prevaleceram os que apresentam estomia permanente e com o diâmetro medindo entre 20 e 39 mm. Em se tratando de tempo de estomizado, a maioria possui tempo inferior a dois anos. Quanto às complicações relacionadas à estomia, houve o predomínio do prolapso, e com relação às complicações relacionadas à pele periestomal, o destaque foi para as dermatites, como as mais frequentes. Um considerável número de pessoas estomizadas utiliza como equipamento o sistema do tipo duas peças.Dentre as limitações do estudo, destaca-se o deficiente preenchimento no prontuário dos usuários no que se refere a algumas variáveis do estudo, inviabilizando o seu uso durante a coleta dos dados. Estes dados são fundamentais para que se possa traçar um perfil mais aproximado da realidade local, com vistas a fornecer informações aos gestores da saúde para subsidiar a melhoria no atendimento à saúde das pessoas. É fundamental que o enfermeiro compreenda a importante necessidade de se notificar corretamente os dados da clientela.O Serviço de Estomaterapia do município de Belém-PA possui uma função importante na reabilitação das pessoas estomizadas, por isso, destacamos alguns pontos que deveriam ser melhorados: o preenchimento fidedigno dos dados de identificação e caracterização da estomia; a elaboração de cursos e/ou palestras de capacitação dos profissionais de enfermagem que atuam no serviço; e a ampliação da estrutura física onde funciona o atendimento ao usuário. O Serviço de Estomaterapia exerce uma função essencial na vida das pessoas estomizadas, demandando ainda profundas melhorias e investimentos dos gestores da saúde de nosso estado.É de extrema importância que o estado e o município planejem em conjunto a descentralização do Serviço Especializado, haja vista que cresce cada vez mais o número de atendimento por parte deste, evitando com isso o deslocamento desnecessário dos usuários para a capital do estado. Espera-se que, a partir deste estudo, outros trabalhos dessa natureza sejam elaborados, em que se divulgue a estimativa real do número de estomizados em nosso estado e consequentemente em nosso País.
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Agradecimentos: Às enfermeiras Sandra Regina Monteiro Ferreira e Marta Solange Camarinha Ramos Costa pelo apoio durante a coleta de dados no Serviço de Estomaterapia do município de Belém-PA.
