Artigo Original 4
Resumo
Complicações Mais Freqüentes em Pacientes Atendidos em um Pólo de Atendimento ao Paciente com Estoma no Interior do Estado de São Paulo
O tempo de atendimento no programa dos pacientes variou de dois dias a 20 anos, com média de dois anos, porém, o tempo de realização da cirurgia variou de sete dias a 50 anos, com média de cinco anos, sendo assim, paciente permanece um longo período sem o atendimento do serviço de referência à pessoa com estoma.A International Ostomy Association, por meio da Declaração dos Diretos dos Estomizados, tem como objetivo principal garantir a todas as pessoas com estomas o direito a uma qualidade de vida satisfatória 16. Isso só ocorre quando os pacientes são respaldados por políticas públicas que garantam o acesso destas pessoas a serviços com equipe especializada para seu atendimento e a equipamentos adequados.Ao investigarmos o tipo de estoma realizado, foi constatado que 270 (61,93%) apresentavam colostomia, 118 (27,06%) ileostomia e 36 (8,36%) urostomia. A Tabela 02 apresenta dados de caracterização dos sujeitos em relação à classificação do estoma.Quanto à construção do estoma, 169 (38,76%) são terminais, sendo que o percentual de não informados 173 (39,96%) foi elevado, levando a reforçar a importância da efetiva anotação de todos os dados dos pacientes em seus prontuários. Este dado colabora com estudo o encontrado por Robertson, que ressaltou a importância do registro adequado de dados em prontuários, para os levantamentos estatísticos, efetividade e continuidade do atendimento ao paciente e construção de pesquisas8.Em relação ao tempo do estoma, a maioria dos estomas (48,17%) era definitiva. Devido à população ser caracterizada predominantemente por pessoas com colostomias, a localização do estoma era em quadrante inferior esquerdo 138 (31,65%).
Ao analisarmos o diagnóstico médico, verificou-se que o diagnóstico mais significativo foi a neoplasia (53,21%). Por outro lado, foi identificado que os estomas eram originários também de doenças inflamatórias (10,32%), acidentes/trauma 21 (4,81%), mal-formações 10 (2,29%) e outros, 97 (22,24%). Este achado colabora com estudos anteriores em que a maioria dos estomas foi confeccionada devido a neoplasia9,13. Este dado é esperado devido ao câncer de cólon e reto ser um dos tumores malignos mais freqüentes em países industrializados, sendo o segundo em freqüência, e a sua incidência tem um predomínio nas idades mais avançadas em consonância com o envelhecimento da sociedade13.As complicações relacionadas aos estomas acometeram 310 (71,10%) pessoas com estomas. Em estudos nacionais e internacionais há grande variação na incidência de complicações, no entanto, seu aparecimento está intimamente relacionado ao local de confecção do estoma9, 11,13.Isso ressalta a importância da demarcação do local de construção do estoma.As principais complicações encontradas neste estudo foram dermatite (42,89%), hérnia periestoma (12,16%), retração (12,16%), estoma plano (11,24%), edema (7,57%), granuloma (6,42%), prolapso (6,42%) e diarréia (5,73).A Tabela 3 correlaciona as complicações em relação às variáveis: tempo de cirurgia; idade; forma e tempo de exteriorização da alça.
Observou-se uma correlação significativa entre as complicações edema, sangramento e separação ou deslocamento mucocutâneo com o tempo de cirurgia, sendo mais comum em pacientes com até um ano de cirurgia.A idade foi significativa para o aparecimento de hérnia, sendo mais presente em pessoas com mais de 60 anos. Em relação ao tempo de cirurgia, foi significante o aparecimento de hérnia periestoma, sendo que apareceu em pessoas com estomas há mais de seis anos. Ainda em relação à hérnia, houve uma correlação estatística com a forma de exteriorização da alça, aparecendo predominantemente em terminais e em estomas definitivos.Este achado colabora com dados descritos em estudos anteriores, em que a hérnia periestomal é uma das complicações que está relacionada à confecção de um orifício abdominal grande, pacientes obesos, mal estado geral, ou ainda, pelo aumento da pressão intraabdominal e envelhecimento.Deste modo é possível notarmos que a presença da hérnia está intimamente relacionada à redução do tônus muscular. Esse dado foi também discutido por Paula, que apresentou em seus dados que 60% dos estomizados com hérnia periestoma pertenciam à faixa etária maior que 65 anos12.O prolapso aparece significativamente em pacientes com estomas temporários.A protusão da alça intestinal sobre o plano cutâneo do abdome pode ser derivada de fatores, os quais aumentam a pressão intraabdominal. O prolapso pode-se originar a partir da parede abdominal, quando o segmento intestinal utilizado no estoma foi muito longo, ou a partir da cavidade peritoneal, quando ocorreu falha de fixação e a alça intestinal desliza através da parede abdominal9.Verificou-se também correlação significante entre a diarréia e o tempo de realização da cirurgia, sendo que ocorreu em pacientes com mais de cinco anos de cirurgia.O enfermeiro precisa adquirir habilidades práticas e experiência no cuidado. Cuidar e orientar é compartilhar conhecimentos, troca mútua de ensinar e aprender, relação interpessoal importante entre enfermeiro e paciente. Com conhecimento, o enfermeiro fica mais confiante no cuidado que presta, valorizando ainda mais seu trabalho.Ressalta-se a importância de o enfermeiro conhecer a epidemiologia das complicações para realizar o adequado planejamento das ações de enfermagem, a fim de prestar a assistência de acordo com cada tipo de complicação, evitando desperdício ou falta de equipamento.As intervenções frente às complicações em estomas, sejam estas imediatas, precoces ou tardias, devem ter como base o histórico de enfermagem e a avaliação física da pessoa com estoma,. considerando as condições nutricionais, psicológicas, sociais e econômicas, que possam estar associadas a essas complicações, ou que representam fatores potencialmente favoráveis ao aparecimento dos problemas futuros.Paralelamente, o autocuidado deve ser constantemente estimulado e envolver um membro da família, ou alguém significativo, que possa atuar no cuidado da pessoa com estoma quando este se encontrar impossibilitado de fazê-lo.Considerações FinaisO presente trabalho vem reforçar a importância do trabalho interdisciplinar na assistência a pessoas portadoras de estoma, visando a reabilitação das práticas diárias, a reintegração social e a melhora da qualidade de vida. Esta pesquisa demonstrou uma elevada freqüência de complicações junto aos estomas nesta população. Observa-se a necessidade de estudos sobre as intervenções de enfermagem pertinentes não só ao tratamento, mas à prevenção de complicações relacionadas ao estoma.
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Política Nacional de Saúde das Pessoas com Estomas –

