Artigo Original 2

Authors

  • Gilson Oliveira Acadêmicos do Curso de Enfermagem da UNIP São José do Rio Preto SP.
  • Caroline do Valle Chemzarian Maritan Acadêmicos do Curso de Enfermagem da UNIP São José do Rio Preto SP.
  • Cristina Mantovanelli Acadêmicos do Curso de Enfermagem da UNIP São José do Rio Preto SP.
  • Geovana Regina Ramalheiro Acadêmicos do Curso de Enfermagem da UNIP São José do Rio Preto SP.
  • Thamires Caroline de Alencar Gavilhia Acadêmicos do Curso de Enfermagem da UNIP São José do Rio Preto SP.
  • Adriana Aparecida Delloiagono de Paula Enfermeira Doutora em Enfermagem. Docente do Curso de Enfermagem da UNIP São José do Rio Preto SP.

Abstract

Impacto da Estomia: Sentimentos e Habilidades Desenvolvidos Frente à Nova Condição de Vida


ResumoO modo de vida das pessoas que necessitam de uma cirurgia para a realização de uma estomia sofre alterações profundas desdea fisiologia gastrointestinal, a auto-estima e a imagem corporal, entre outras. Este estudo objetivou avaliar o impacto da estomiadefinitiva na vida de estomizados pertencentes ao Grupo de Ostomia do Ambulatório Regional de Especialidades de Catanduva.Tratou-se de um estudo de natureza exploratória descritiva com abordagem qualitativa. Após aprovação por Comitê de ética,os dados foram coletados com 19 indivíduos estomizados, por meio de entrevistas semi-estruturadas. Utilizou-se a técnica deanálise de conteúdo, especificamente, a temática. Dez (52,6%) pacientes eram do sexo feminino; 63,8 anos em média; baixaescolaridade (63,2%); 18 (94,7%) colostomizados e 89,5% com menos de 5 anos de estomizados. A análise do impacto daestomia abordou os seguintes temas: causa da estomia, mudanças pessoais ocorridas após a realização da estomia, cuidadosrealizados com a estomia, alteração nas atividades de lazer, mudanças na vida sexual e a participação da família em todo oprocesso. O medo do desconhecido implicou no desenvolvimento de desconforto íntimo e psicossocial. Para ajudar o pacienteestomizado no enfrentamento de sua nova condição de vida e respectiva reabilitação, é fundamental que o pessoal de Enfermagemconheça e desenvolva uma compreensão adequada do nov estilo de vida dessas pessoas. Para tanto, estrutura adequada deatendimento profissional é necessária.Descritores: Estomia. Emoções. Impacto Psicossocial.AbstractThe lifestyle of patients who must have a colostomy is deeply affected by the procedure; changes may occur, for example, at thelevel of gastrointestinal physiology, self esteem and body image. The objective of this study was to evaluate the impact of ostomyon the lives of patients of the Ostomy Group of the Regional Specialty Outpatient Clinic in Catanduva, SP, Brazil. This wasan exploratory, descriptive study with a qualitative approach. After approval from the Research Ethics Committee, data werecollected through semi-structured interviews with 19 ostomy patients. Thematic content analysis was used. The participants hada mean age of 63.8 years and low educational level (63.2%); 10 (56.2%) of patients were females, 18 (94.7%) had acolostomy, and 17 (89.5%) had an ostomy for less than 5 years. The evaluation of the impact of ostomy addressed the followingissues: indication for the ostomy, personal changes that occurred after the ostomy surgery, ostomy care, changes in recreationactivities, changes in sexual life, and family involvement throughout the process. The fear of the unknown resulted in psychosocialand intimate discomfort. In order to help ostomy patients face changes in their lives, it is of fundamental importance that theRev Estima - vol8 (1) 2010 p. 19 - 25Artigo Original20 - Rev Estima - Vol 8 (1) 2010nursing staff know more and understand about the new lifestyle of these individuals. For this purpose, an appropriate structureof professional care is necessary.Descriptors: Ostomy. Emotions. Psychosocial Impact.ResumenLos hábitos de vida de las personas que necesitan de una cirugía para la realización de una ostomía sufren cambios profundosdesde la fisiología gastrointestinal, la autoestima hasta su propia imagen. Este estudio evaluó el impacto de la ostomía definitivaen la vida de los ostomizados que pertenecen al Grupo de Ostomía de los servicios externos Regional de Especialidades deCatanduva. Estudio de naturaleza exploratorio, descriptivo con abordaje cualitativo. Después de la aprobación por el Comitéde Ética, los datos fueron recolectados con 19 pacientes ostomizados, por medio de encuestas semi-estructuradas. Fue utilizadola técnica de análisis de contenido, específicamente, la temática. Diez (52,6%) pacientes fueron mujeres; promedio de 63,8 años;baja escolaridad (63,2%); 18 (94,7%) colostomizados y 89,5% con menos de 5 años con la ostomia. El análisis del impactode la ostomía incluyó los siguientes temas: causa de la ostomía, cambios personales después de la cirugía de la ostomía, cuidadosrealizados con la ostomía, cambios en las actividades de ocio, cambios en la vida sexual y participación de la familia en todo elproceso. El miedo a lo desconocido provocó el desarrollo de incomodidad íntima y psicosocial. Para ayudar al paciente ostomizadoa enfrentar su nueva condición de vida y rehabilitación, es fundamental que el personal de enfermería conozca y comprenda sunueva manera de vivir. Por lo tanto, es necesaria una estructura adecuada de cuidado profesional.Palabras-clave: Ostomía. Emociones. Impacto psicosocial.IntroduçãoAs palavras ostomia, ostoma, estoma ouestomia são de origem grega. Elas significam bocaou abertura e são utilizadas para indicar aexteriorização de qualquer víscera oca no corpo.Conforme o segmento exteriorizado, as estomiasrecebem nomes diferenciados: no intestino grosso= cólon = colostomia, no intestino delgado = íleo= ileostomia. A técnica da estomia é a abertura deum órgão por meio de ato cirúrgico, formandouma boca que passa a ter contato com o meioexterno para eliminações de dejetos, secreções,fezes e/ou urina 1. A realização de uma estomiapode ser decorrente de patologias do sistemagastrointestinal, traumatismos colo-retais,anomalias congênitas e hoje principalmente detumores colo-retais. Evidenciados de que “onúmero de casos novos de câncer de cólon e retoestimados para o Brasil no ano de 2008 é de 12.490casos em homens e de 14.500 em mulheres. Estesvalores correspondem a um risco estimado de 13 casos novos a cada 100 mil homens e 15 paracada 100 mil mulheres2.” Dependendo da etiologiada doença, o cirurgião indica a realização de umaestomia temporária ou definitiva. As estomiastemporárias são realizadas para proteger umaanastomose, tendo em vista o seu fechamento numcurto espaço de tempo. As estomias definitivas sãorealizadas quando não existe a possibilidade derestabelecer o trânsito intestinal, geralmente nasituação de câncer. Os pacientes com estomiasdefinitivas requerem apoio contínuo, pois seusproblemas são duradouros e cíclicos.Independentemente de ser temporária oudefinitiva, a realização desse procedimento acarretauma série de mudanças na vida do paciente taiscomo: necessidade de realização do autocuidadocom a estomia, aquisição de material apropriadopara a contenção das fezes ou urina, adequaçãoalimentar, convivência com a perda do controleda continência intestinal ou vesical, eliminação deodores, alteração da imagem corporal, bem comoalteração das atividades sociais, sexuais e cotidianas3.Alterações profundas são causadas no modo devida das pessoas que necessitam ser submetidas àrealização de uma cirurgia e conseqüentemente ade uma estomia, onde altera a sua fisiologiagastrointestinal, auto estima, imagem corporal,entre outras. E para o enfermeiro fica o desafiopara o cuidado com estes indivíduos4. A falta deRev Estima - Vol 8 (1) 2010 - 21conhecimentos destes indivíduos é observadaquando eles se deparam com parte de seu intestinoexteriorizado em seu abdome, tendo dificuldadede enfrentar sua nova condição5.Após a cirurgia, o estomizado até pensa emcomo reiniciar sua vida, como adotar maneiraspráticas de manter suas atividades sociais,interpessoais e de lazer, anteriores à cirurgia etambém a inclusão de novas rotinas como:freqüência ao médico, como saber lidar com asdificuldades que possam aparecer e até mesmo à aquisição de dispositivos6, porém o impacto muitasvezes resulta em sentimentos negativos para esteindivíduo, sentimento de perda, inaceitação, faltade privacidade, inutilidade, desgosto, depressão eaté mesmo o isolamento que ele próprio colocoupara si, afeta ainda a vida sexual da pessoaestomizada e preocupações que surgem no seu diaa dia em vários aspectos7.Boa parte das dificuldades sexuais mostradasem alguns estudos se origina do estado psicológico,pela vergonha frente ao parceiro, sensação de estarsujo e repugnante, gerando medo de ser rejeitadopelo outro. Isso ocorre porque todo ser humanoconstrói, ao longo de sua vida, uma imagem deseu próprio corpo, onde tem haver com oscostumes e ambiente em que vive, para ter suasnecessidades atendidas e se situar em seu própriomundo. A imagem corporal esta ligada a conceitosde juventude, beleza, vigor, integridade e saúde, paratanto aqueles que fogem ao conceito de belezacorporal podem experimentar ao senso de rejeiçãoe de estar sendo excluído8.Diante do exposto o estomizado aindabusca alcançar uma melhor qualidade de vidapossível, de bem estar e de autonomia, além de suavolta às atividades diárias e de lazer. E a reabilitaçãoé a meta principal da equipe que assiste aoestomizado, inseri-lo novamente na sociedade,ajudá-lo a identificar e ultrapassar os obstáculos queenvolvem dimensões físicas, psicológicas, sociais eespirituais9.Com a experiência adquirida o estomizadoutiliza estratégias de enfrentamento, com as quaispassa a lidar com os problemas/modificaçõescotidianas ocorridas em função do novo, a suaestomia6.O processo de cuidar do ser humanoestomizado, visa à identificação das necessidadesassistenciais individuais, o estabelecimento do nívelde ajuda profissional exigido e o suficiente eadequado provimento de recursos para areabilitação. Para tanto, tornam-se elegíveis comoprincípios norteadores desse cuidar, a competênciaespecializada dos profissionais e, especificamente,do enfermeiro; a reabilitação e a qualidade de vidacomo pano de fundo para a busca do autocuidadoou do cuidado compartilhado, onde paciente efamília atuem como elementos fundamentais noprocesso de tomada de decisões10.As implicações do impacto do estomaincidem diretamente sobre o paciente e,indiretamente, sobre a família 11. Diante destesaspectos procurou-se conhecer melhor o impactodo estoma sobre a clientela atendida em umserviço de saúde localizado no interior do estadode São Paulo.ObjetivoAvaliar o impacto da estomia na vida doindivíduo.MétodosTrata-se de um estudo de naturezaexploratória descritiva, com abordagem qualitativa.O estudo foi realizado em um AmbulatórioRegional de Especialidade (ARE) na cidade deCatanduva, interior de São Paulo.O projeto de pesquisa foi submetidoà apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa dasFaculdades Integradas “Padre Albino” deCatanduva, recebendo parecer favorável para a suarealização sob nº 25/09.A amostra foi constituída por 19pacientes que participam do grupo de estomia eque atenderam os critérios pré-estabelecidos econcordaram em participar do estudo apósassinarem o termo de consentimento livre eesclarecido. A coleta de dados ocorreu no mês dejulho de 2009.Este grupo desempenha atividades, a nívelambulatorial, visando avaliar a reabilitação dasatividades de autocuidado da estomia e peleperiestomal, bem como o retorno à participaçãosocial. Tem por princípio que a convivência dapessoa estomizada com outras já reabilitadas,poderá ser uma estratégia facilitadora no processode reabilitação. A troca de idéias concernentes àvida familiar e social entre os estomizados podecontribuir ou eliminar o isolamento, o sentimentode rejeição e aumentar a autoconfiança da pessoaestomizada, influenciando de modo positivo nareabilitação11.O grupo, no período em que os dadosforam coletados, era composto por 44 pacientes,porém deparou-se com recusa na participação porparte de quatro pacientes, 12 foram excluídos pornão atenderem os requisitos pré-estabelecidos deinclusão na amostra (ter idade igual ou superiora18 anos, estar em condições mentais satisfatóriase capacidade de compreensão), quatro estavamviajando no período de coleta de dados, umencontrava-se hospitalizado e quatro não foramlocalizados após várias tentativas de contato. Aamostra do estudo foi constituída por 19 (43%)pacientes estomizados definitiva e quefreqüentavam o grupo de estomia do ARECatanduva.Utilizou-se como estratégia entrevista semiestruturada,onde se abordou os seguintes temas: acausa da estomia, mudanças ocorridas após oprocedimento cirúrgico, o auto-cuidado, alteraçõesnas atividades de lazer, mudanças na vida sexual ea participação da família no processo. Estes temasforam estabelecidos com base nas literaturasestudadas sobre o tema. Este instrumento foisubmetido à validação aparente e de conteúdo, portrês juízes, profissionais de enfermagem, quepossuem conhecimentos prévios do temaproposto, isto é, estomia.Os indivíduos da investigação foramesclarecidos sobre a pesquisa no Grupo por ocasiãodas reuniões mensais. Após o consentimento, oindividuo foi novamente contatado por telefonesendo agendada em sua residência a entrevista.Para avaliação dos resultados, foi procedidauma adaptação dos princípios da Análise deConteúdo priorizando a técnica da AnáliseTemática12. Inicialmente procurou-se caracterizara amostra e posteriormente foi realizado análisedos temas buscados na entrevista.ResultadosCaracterização da amostraCom relação ao sexo identificamos 10(52,6%) do sexo feminino, sendo 18 (94,7%)portadores de colostomia e 02 (5,3%) portadoresde ureterostomia, ressalta se que um paciente eraportador de ambas estomias, a média de idadeentre os pacientes foi de 63,8 anos. O tempo derealização da ostomia variou de 1 a 14 anos darealização da cirurgia, sendo que a maioria (89,5%)encontrava-se em um período menor que 5 anos.Quanto à atividade profissional, os pacientesforam unânimes (100%) em responder que nãorealizavam nenhuma atividade profissional. Supõeseque tal fato se deve a faixa etária dos pacientesestudados, encontrarem-se a maioria acima de 60anos (73,7%).Quanto ao nível de escolaridade, percebeuseque a maioria dos indivíduos entrevistadosenquadra-se nas categorias de ensino fundamental(63,2%). Na clientela estudada não houve nenhumcaso com formação superior. Bellato et al13enfatizam que o conhecimento da escolaridade dosestomizados pelo enfermeiro permite que este seadeque ao nível de entendimento dos mesmos.Impacto da OstomiaAo se perguntar a causa da ostomia para ospacientes, constata 18 (94,7%) das respostasrelacionando a causa com câncer e 1 paciente comDoença de Crohn (5,3%). Observa-se pelasrespostas apresentadas que além do estigma docâncer e de sua localização corporal, os pacientestiveram suas preocupações agravadas pelarealização de uma estomia.Segundo Cascais et al07 mundialmente, emRev Estima - Vol 8 (1) 2010 - 23cada ano ocorrem cerca de 945 mil casos novosde câncer que acometem o cólon e o reto, sendo oquarto tipo mais comum de câncer no mundo e asegunda em países desenvolvidos. O prognósticodeste tipo de câncer, segundo o INCA2 pode serconsiderado de moderado a bom, dado ser osegundo tipo de câncer mais prevalente no mundo(depois do câncer de mama), com uma estimativade 2,4 milhões de pessoas vivas diagnosticadas nosúltimos cinco anos. Ressalta-se que estes dadosdependem da precocidade do diagnóstico e doestadiamento do tumor.

Para Maruyama14 a vivência de um câncere de uma colostomia, a qual mudapermanentemente a vida diária do sujeito, constituium dos momentos mais críticos da vida de umapessoa, por implicar um sistema complexo deanálise e reflexão da própria biografia, cujossignificados foram construídos ao longo das suasexperiências de vida.

Com relação a mudanças pessoais ocorridasapós a realização da estomia, apenas 4 (21%)relataram não terem tido mudanças no estilo devida, sendo que 15 (79%) afirmaram terem sofridomudanças após a realização da estomia....Ah, eu acho que mudou bastante coisa comesse trequinho aqui do lado, eu não consigo agachar.Vários autores afirmam que a realização deestomia acarreta alterações profundas nos modosde vida das pessoas. A pessoa submetida a este tipode intervenção enfrenta várias modificações no seudia-a-dia, as quais ocorrem não só em nívelfisiológico, mas também em nível psicológico,emocional e social. A presença de uma estomiapode resultar assim, num primeiro momento, emuma morbidade psicológica, contribuindo para umadiminuição/deterioração da sua qualidade de vida.A este questionamento, as respostasabrangeram ainda manifestações de sentimentosnegativos que envolveram a realização da estomia,tais como choro, tristeza, infelicidade, perda davontade de viver e revolta. Esta negatividade foimuito enfatizada pelo paciente de menor idade daamostra estudada, da faixa etária de 30+ 40 anos.Com relação aos cuidados realizados com aestomia, todos os pacientes foram unânimes (100%)em afirmar que no início necessitaram de ajuda,de familiares e/ou profissionais para o manuseiodevido o fato de não se encontrarem em condiçõespara tal, porém a necessidade os levou a manusearo estoma.

              ...No começo era minha irmã que ponhava ne mim, ela limpava, enxugava do jeito que a enfermeira ensinou, um dia minha irmã foi na igreja e a bolsinha escapou e eu tive que me virar,fui na frente do espelho e daí nunca mais eu chamei ela.

Tal afirmativa corrobora com os achadosde Barnabé e Dell'Acqua6. Os autoresanteriormente citados identificaram relatos ondeos pacientes tiveram ajuda para cuidar da bolsapor alguma dificuldade que possuíam, mas com opassar do tempo, a maioria deles passou a realizaro autocuidado. Neste momento identificou-se, tal comoBarnabé e Dell'Acqua6, a denominação dada aoestoma pelos pacientes como “aquela coisa,trequin ho, esse negócio, bolsinha”.Quanto a alteração nas atividades de lazer,os pacientes foram unânimes (100%) em afirmarque as atividades que realizavam antes doprocedimento não foram retomadas após omesmo, afirmando que preferem ficar em casa asair para se distrair....Ah, após eu não pratiquei mais nada porqueeu viajava muito, mas antes eu jogava futebol...risos.Além das dificuldades emocionais, a estomiagera uma série de alterações de ordem física queprejudica o convívio social, principalmente aquelasrelacionadas à falta do ânus e à presença de umorifício no abdome por onde passa a eliminar asfezes. Para Santos15 como conseqüência, a pessoa,não raramente, sente-se muito diferente das outrase até mesmo excluída.Os pacientes estomizados enfrentam aperda da auto-estima, o que pode levar a umsentimento de desprestígio diante da sociedade. Aperda percebida pela pessoa imediatamente apósa estomia é a da função fisiológica e anatômica dedefecar. Com isso, o estomizado é uma pessoaque não irá sentar-se num vaso sanitário, tendo que,24 - Rev Estima - Vol 8 (1) 2010discretamente, despejar suas fezes e enfrentar umânus artificial que não possui mais controle.Com relação à atividade sexual após aestomia, os pacientes foram unânimes (100%) emafirmar que mudou....Antes era normal, após mudou radical, maso médico me falo que isso depois a gente colocauma prótese, eu fico até chateado, sempre fui ativo...(choro).Segundo Cassero e Aguiar16 os estomizadosrelatam que é difícil reassumir a atividade sexualtanto pela vergonha de sua nova imagem ou a nãoaceitação por parte do parceiro como porcomplicações cirúrgicas que estão associadas àinsegurança, à eliminação involuntária dos flatos,ao odor, ao medo da bolsa estourar e ao medo derejeição, principalmente no que se refere ao parceiro.Alguns estudos mostram que boa parte dasdificuldades sexuais também tem origempsicológica, sobretudo devido à vergonha frenteao parceiro, sensação de estar sujo e repugnante,gerando medo de ser rejeitado pelo parceiro/a.Observa-se que o medo e a dor afastam os desejos sexuais e que a falta de orientação e diálogo não deixam que o prazer e a sexualidade voltem a fazer parte da vida desses casais. A orientação para o casal usar práticas alternativas é de suma importância, uma vez que no homem durante a cirurgia de colostomia muitas vezes ocorre secção de artérias ou nervos responsáveis pela ereção peniana, com conseqüente disfunção eretiva. A satisfação do parceiro sexual, utilizando modos alternativos pode ser satisfatório para ambos. Os profissionais de saúde, principalmente os enfermeiros, necessitam de preparo para intervir junto à integridade geral e sexual desse casal17.Com relação à participação da família em todo o processo, a emoção dos pacientes novamente se destacou, pois com lágrimas nos olhos compartilharam (100%) como foi e está sendo o apoio da família....Ah, foi tudo, minha família apoiou tudo senão fosse eles ai... (choro)...e você não sabe minha esposa teve câncer na mama, quando eu fiquei Artigo Original sabendo acabou tudo, ela me ajuda muito.Freitas e Pelá17 referem que os pacientes estomizados masculinos recebem maiores cuidados físicos das parceiras sexuais no pósoperatório, tornando-se dependentes físicos, e as mulheres portadoras de colostomias recebem ajuda dos filhos, vizinhos, irmãs ou outro parente ou amiga mulher.Maruiti e Galdeano18 relatam que em geral observa-se que o foco da assistência de enfermagem é o atendimento às necessidades do paciente. No entanto, o paciente não é o único a sofrer com a doença e com a hospitalização, os familiares e outras pessoas envolvidas diretamente com o paciente, compartilham a angústia, o medo e o sofrimento desse momento. Sendo assim é importante que o profissional de saúde dispense atenção aos familiares, com objetivo de facilitar o enfrentamento dessa nova experiência.Segundo Cesaretti11 as implicações do impacto do estoma incidem diretamente sobre o paciente e, indiretamente, sobre a família. Afirma ainda que, sendo a família o primeiro grupo social do paciente, esta desempenha papel fundamental de apoio em todas as fases enfrentadas pelo paciente.Para Cassero e Aguiar16 a alternativa para continuar vivo realçou o entendimento de que se submeter a uma estomia intestinal significava a possibilidade de vencer, ou seja, era uma alternativa de vida....A gente vai amadurecendo, convivendo, senão fosse a bolsinha eu não estava aqui.As habilidades desenvolvidas pelos indivíduos quanto à troca da bolsa, higienização, foram aprimoradas através da experiência de cada dia e adquiridas com o apoio da família e principalmente do grupo de estomizados que eles freqüentavam.Pereira e Pelá19 ressaltam que participar de um grupo permite ao homem o desenvolvimento de suas habilidades nas suas realizações pessoais, execução de tarefas, divertir-se, oferecer e receber ajuda. É comum, no interior do grupo, o Rev Estima - Vol 8 (1) 2010 - 25 desenvolvimento de um clima de solidariedade, companheirismo e troca de experiências comuns.ConclusãoConclui-se que, no grupo estudado, a causa da estomia foi devido câncer (94,7%). A realização do estoma acarretou mudanças no estilo de vida das pessoas, envolvendo a necessidade de aprendizagem da realização do autocuidado, alterações em relação ao estilo de vida das pessoas quanto à participação social e implicações sexuais.Todo o impacto da estomia, para o grupo, foi amparado pela participação dos familiares proporcionando apoio e cumplicidade entre paciente e familiar para lidar com a situação vivenciada.

Downloads

Download data is not yet available.

References

Gemelli LMG, Zago MMF. A interpretação do cuidado com o estomizado na visão do enfermeiro: um estudo de caso. Rev Latino-am Enfermagem 2002 janeiro-fevereiro; 10(1):34-40.

INCA Instituto Nacional do Câncer. Estimativa 2008. Disponível em: <http://www.inca.gov.br/estimativa/2008/index.asp>. Acesso em: 15 mar.2009

Maruyama SAT. A experiência da colestomia por câncer como ruptura biográfica, na visão dos portadores, familiares e profissionais de saúde: um estudo etnográfico [tese]. Ribeirão Preto (SP): USP/EERP/Programa de Pós-Graduação em Enfermagem Fundamental; 2004.

Sonobe HM, Barichello E, Zago MMF. A visão do colestomizado sobre o uso da bolsa de colestomia. Rev Bras Cancerol 2002 julho-agosto-setembro; 48(3):341-48.

Mendonça RS, Valadão M, Castro L, Camargo TC, et al . A importância da consulta de enfermagem em pré-operatório de estomias intestinais. Rev Bras Cancerol 2007 outubrodezembro; 53(4):431-35.

Barnabé NC, Dell'Acqua MCQ. Estratégias de enfrentamento (coping) de pessoas estomizadas. Rev Latino-am Enfermagem 2008 julho-agosto; 16(4):712-19.

Cascais AFMV, Martini JG, Almeida PJS. O impacto da estomia no processo de viver humano. Texto Contexto Enferm. 2007 janeiro-março; 16(1):163-67.

Silva AL, Shimizu HE. O significado da mudança no modo de vida da pessoa com estomia intestinal definitiva. Rev Latino-am Enfermagem 2006 julho-agosto; 14(4):483-90.

Matheus MQ, Leite SMC, Dázio EMR. Compartilhando o cuidado da pessoa ostomizada. Anais do 2º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária; 2004 setembro 12-15; Belo Horizonte; Brasil; 2004.

Santos VLCG, Cesaretti IUR. Assistência em estomoterapia: cuidando do estomizado. 1ED. São Paulo: Atheneu; 2000.

Cesaretti IUR. Impacto do estoma sobre o paciente e a família, e a atuação da equipe de saúde. Acta Paulista Enfermagem 2003 São Paulo; 16(14):96-102.

Bauer MW, Gaskell G. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som. Vozes 2002.

Bellato R, Pereira WR, Maruyama SAT, Oliveira PC, et al. A convergência cuidado-educação-politicidade: um desafio a ser enfrentado pelos profissionais na garantia aos direitos à saúde das pessoas portadoras de estomias. Texto Contexto Enferm. 2006 abril-junho; 15(2):334-42.

Maruyama SAT, Zago MMF. O processo de adoecer do portador de colestomia por câncer. Rev Latino-am Enfermagem 2005 março-abril; 13(2):216-22.

Santos VLCG. Fundamentação teórico-metodológica da assistência aos estomizados na área da saúde do adulto. Rev Esc Enf USP 2001 março; 34(1):59-63.

Cassero PAS, Aguiar JE. Percepções emocionais influenciadas por uma estomia. Rev Saúde e Pesquisa 2009 maio-junho; 2(2):23-7.

Freitas MRI, Pelá NTR. Subsídios para a compreensão da sexualidade do parceiro do sujeito portador de colestomia definitiva. Rev Latino-am Enfermagem 2000 setembrooutubro; 8(5):28-33.

Maruiti MR, Galdeano LE. Necessidades de familiares de pacientes internados em unidade de cuidados intensivos. Acta Paulista Enferm. 2007 janeiro-março; 20(1):37-43.

Pereira APS, Pelá NTR. Atividades grupais de portadores de estoma intestinal definitivo: a busca da aceitação. Rev Enfermagem UERJ 2006 outubro-dezembro; 14(4):574-79.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Paulista UNIP, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Enfermagem, sob orientação da Profa Dra Adriana Aparecida Delloiagono de Paula, 2009.

Published

2016-03-23

How to Cite

1.
Oliveira G, Maritan C do VC, Mantovanelli C, Ramalheiro GR, Gavilhia TC de A, Paula AAD de. Artigo Original 2. ESTIMA [Internet]. 2016 Mar. 23 [cited 2024 Apr. 19];8(1). Available from: https://www.revistaestima.com.br/estima/article/view/55

Issue

Section

Article