Atualização 1

Authors

  • Kelly Cristina Strazzieri Pulido Enfermeira estomaterapeuta do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo “Octavio Frias de Oliveira”. Mestranda do Programa de Pós-Graduação na Saúde do Adulto da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo.
  • Vera Lúcia Conceição de Gouveia Santos Enfermeira estomaterapeuta (TiSOBEST). Professora Associada do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo.

Abstract

Superfícies de Suporte: Parte II*

Support Surfaces: Part II Superfícies de Soporte: Parte II


ResumoVisando a promover um entendimento comum da terminologia referente às superfícies de suporte, o National Pressure Ulcer Advisory Panel propôs uma série de termos e definições. Na primeira parte deste artigo de atualização, foram apresentados os conceitos físicos relativos às SS. Nesta segunda e última parte, esses conceitos elucidam como as SS são capazes de redistribuir a pressão.Descritores: Camas. Úlcera de pressão. Enfermagem.AbstractIn order to promote a common understanding of the terminology regarding support surfaces, the National Pressure Ulcer Advisory Panel proposed a list of terms and definitions. In the first part of this review article, physical concepts related to support surfaces were presented. In this second and last part, these concepts are used to explain how support surfaces redistribute pressure.Descriptors: Beds. Pressure ulcer. Nursing.ResumenCon el objetivo de promover la comprensión de los términos cerca de las superficies de soporte, el National Pressure Ulcer Advisory Panel propuso una serie de términos y definiciones. En la primera parte de este artículo de actualización fueron presentados los conceptos físicos a cerca de las superficies de soporte. En la segunda y última parte, estos conceptos explican como las superficies de soporte son capaces de redistribuir la presión.Palabras-clave: Lechos. Úlcera por presión. Enfermería.IntroduçãoNo início de 2007, o National Pressure Ulcer Advisory Panel1 propôs a padronização da terminologia referente às Superfícies de Suporte (SS). Na primeira parte deste artigo, foram apresentados os termos e definições relacionados aos conceitos físicos das SS. Nesta segunda e última parte, o leitor poderá constatar como as propriedades mecânicas e físicas dos vários tipos de SS se comportam na redistribuição da pressão1-3.* Baseado na iniciativa do National Pressure Ulcer Advisory Panel para a padronização dos termos e definições relacionados às superfícies de suporte.Componentes das superfícies de suporte• Ar - contido em células conectadas ou não entre si. Nas SS, essas células devem ter altura suficiente para manter o corpo suspenso, sem contato com o estrado ou o colchão em que a SS estiver apoiada. Células muito infladas aumentam a pressão de interface, enquanto que células murchas levam ao bottoming out. SS de ar não-elétricas redistribuem a pressão por imersão e envelopamento; já as elétricas, por transferência alternada do peso corpóreo1-6. Whittemore6 relatou pressões de interface menores nos colchonetes de ar não-elétricos do que nos colchões hospitalares convencionais.• Espuma - polímero resiliente capaz de retornar ao seu formato original após sofrer uma deformação. Chamada de memória, essa característica está presente em maior ou menor grau entre os diversos tipos de espuma. Uma boa espuma deve suportar a carga sem que sua tendência a retornar à forma original seja forte o suficiente para ocasionar uma alta pressão de interface.3-4,7 Firmeza, altura e densidade são fatores limitantes para imersão e envelopamento. Espumas macias envelopam melhor que as firmes, mas não necessariamente têm densidade e altura suficientes para suportar a carga e impedir o bottoming out. Espumas de alta densidade podem ser suaves e com pouca altura, enquanto que as de baixa densidade podem ser muito firmes e altas. Para aperfeiçoar seu desempenho, a SS pode ser constituída de espumas de firmeza, altura, densidade e formato variados3-4,8. No tipo elástico, o ar entra e sai das células rapidamente devido à grande densidade; já no viscoelástico entra e sai devagar, permitindo ao material responder mais lentamente. Termo-sensível, quando aquecida confere imersão e envelopamento mais eficazes do que a espuma elástica1,3-4,7. A espuma viscoelástica deve apresentar resiliência máxima de 20%, deformação permanente máxima de 10% e uma densidade mínima de 45 kg/m3,9. Segundo Revisão Cochrane recente10, as SS de espuma são uma alternativa aos colchões de espuma convencionais e podem reduzir a incidência de UP em pacientes de risco. • Gel - líquido com comportamento de sólido. Sua baixa tensão superficial permite-lhe ajustar-se ao contorno do corpo e minimizar fricção e cisalhamento; o conseqüente aumento da área de contato por si só equaciona a pressão. O gel mantém a temperatura da pele constante por duas horas de contato ininterrupto. Quando saturado, a transferência de calor cessa e a temperatura aumenta. Por não ser poroso, aumenta em 22,8% a umidade relativa da pele durante a primeira hora de contato. Laváveis, as SS de gel não necessitam de energia, contudo são pesadas e de difícil reparo1-2,4,11.• Água - a redistribuição da pressão acontece segundo as Leis de Pascal e de Ação e Reação de Newton. Pensando num corpo sobre uma SS, depreende-se que a pressão exercida será transmitida a todos os pontos da SS. Em contrapartida, a SS retransmitirá essa pressão, porém redistribuída ao longo de sua área. Apesar da eficiência, existem alguns inconvenientes como peso excessivo, vazamentos e enchimento dificultoso. Mudanças de decúbito e transferências tornam-se mais árduas nessas SS. Devido à capacidade da água em conduzir calor, os colchões devem ser aquecidos para evitar hipotermia. São inapropriadas para unidades de pacientes críticos por inviabilizarem massagem cardíaca. Além disso, seu desnivelamento durante as elevações da cabeceira e dos pés, anula a Lei de Pascal3-4.• Fluido viscoso - substância gelatinosa capaz de correr ou se expandir como os líquidos e os gases, mas com maior resistência à pressão. Contido em células conectadas ou não entre si, conforma-se aos contornos do corpo redistribuindo a pressão por imersão. Sua distribuição sob o corpo deve ser monitorada, pois o fluido pode concentrar-se sob as proeminências ósseas devendo ser removido manualmente. O controle da temperatura depende da natureza de cada tipo de fluido viscoso, assim como a umidade, do material de suas capas. São exemplos de fluido viscoso o silicone e o polivinil1,3,11.Características das superfícies de suporte• Ar fluidizado – sistema integrado à cama em que o ar é bombeado através de um lençol de esferas sólidas obrigando-as a se comportarem como um líquido. Dois terços do corpo ficam imersos e envelopados nesse lençol de esferas fluidizadas, envoltas por uma capa de poliéster que reduz a tensão superficial. Apresenta os melhores índices de imersão e envelopamento dentre as SS. Auxilia ainda na redução do cisalhamento e da evaporação devido à permeabilidade e à umidade. O ar pressurizado aquecido pode ser benéfico para pacientes com dor, mas nocivo para aqueles com esclerose múltipla, por exemplo. Pode provocar também desorientação e desidratação, além de osteopenia devido a pouca carga sob os ossos longos. Como os fluidos corpóreos também circulam pelo lençol de esferas, uma boa pressurização evita contaminações, assim como uma desinfecção periódica. Na vigência de parada cárdio-respiratória ou durante as mobilizações, deve ser desligada para que se torne firme1,4,7.• Pressão alternada - constituída de células de ar ou de fluidos que inflam para suportar o corpo enquanto outras desinflam, essas SS redistribuem a pressão por transferência alternada do peso corpóreo. Seu movimento cíclico caracteriza-se pela freqüência, duração, amplitude e taxa de troca desses parâmetros que, além de redistribuir o peso, cria um gradiente de pressão favorecedor dos fluxos sangüíneo e linfático periféricos. As células devem ter altura suficiente para manter o corpo suspenso. Além disso, células super infladas ou murchas comprometem a redistribuição da pressão. A eficiência do controle da temperatura e umidade depende do material de sua capa. A eficácia dessas SS ainda não está bem estabelecida1-6,10.• Baixa perda de ar - células porosas conectadas entre si que inflam e permitem a circulação e escape do ar bombeado, auxiliando no controle do calor e da umidade. A redistribuição da pressão dá-se por imersão e envelopamento. Suas capas lisas de nylon e politetrafluoretileno ajudam a diminuir o coeficiente de fricção e, apesar de permitirem a passagem do ar, são à prova d’água, impermeáveis às bactérias e fáceis de limpar. A pressão do ar nas células deve ser calibrada de acordo com as necessidades individuais, considerando-se altura e peso, além da distribuição do peso corpóreo. Esse ajuste é fundamental, não somente para a máxima redistribuição da pressão, mas também para a utilização segura do equipamento. Alguns tipos possuem superfície multi-zonal, ou seja, ajuste específico para a redistribuição da pressão na cabeça, tronco, pelve ou pés, enquanto outros apresentam apenas uma zona com capacidade simples de redistribuição da pressão. Em caso de parada cárdio-respiratória, pode-se rapidamente nivelar sua superfície. Apesar dos bons resultados apontados por alguns estudos no tratamento de UP, sua eficácia não ficou bem estabelecida10. Além disso, há relatos de hipotermia e insatisfação dos usuários. O alto custo desses equipamentos é outro empecilho para sua utilização. Instabilidade na coluna vertebral, baixo peso e pouestatura contra-indicam esse tipo de SS1-7,12.Considerações FinaisConhecer o mecanismo de ação das SS é fundamental para o aprimoramento da prática clínica especializada assim como para o embasamento dos estudos científicos.

Downloads

Download data is not yet available.

References

National Panel Ulcer Advisory Panel. Terms and definitions related to support surfaces. Disponível em http:// www.npuap.org em 29 de janeiro de 2007.

Maklebust JA. Take the load off by choosing the right support surface. Nursing 2004;34(Med/ Surg Insider Supplement):12-15.

Brienza DM, Geyer MJ. Using support surfaces to manage tissue integrity. Adv Skin Wound Care 2005;18:151-7; quiz 162-3.

Nix DP. Support surfaces. In: Bryant RA, Nix DP, editors. Acute and chronic wounds: current management concepts. 3th ed. Missouri: Mosby Elsevier; 2007. p. 235-48.

Maklebust J. Choosing the right support surface. Adv Skin Wound Care 2005;18:158-61; quiz 162- 3.

Whittemore R. Pressure-reduction support surfaces: a review of the literature. J Wound Ostomy Continence Nurs 1998;25 (1): 6-25.

Thompson P, Anderson J, Langemo D, Hanson D, Hunter S. Support surfaces: definitions and utilization for patient care. Adv Skin Wound Care 2008;21(6):264-6.

Polyurethane Foam Association. Flexible polyurethane foam terms handout. Disponível em http://www.pfa.org/ce/handout2.html em 02 de janeiro de 2009.

Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). NBR 13579- 1: padrões mínimos aceitáveis para um colchão de espumas no Brasil. Disponível em http://www.abnt.org.br em 02 de janeiro de 2009.

McInnes Elizabeth, Bell-Syer Sally EM, Dumville Jo C, Legood Rosa, Cullum Nicky A. Support surfaces for pressure ulcer prevention (Cochrane Review). In: The Cochrane Library, Issue 4, 2008. Oxford: Update Software.

Stewart S, Palmieri V, Van G, Cochran B. Wheelchair cushion effect on skin temperature, heat flux and relative humidity. Arch Phys Med Rehabil 1980;61:229-33. 12. Allman RM et al. Air-fluidized beds or conventional therapy for pressure sores. Ann Intern Med 1987;107-641.

Published

2010-06-01

How to Cite

1.
Pulido KCS, Santos VLC de G. Atualização 1. ESTIMA [Internet]. 2010 Jun. 1 [cited 2024 Oct. 6];8(2). Available from: https://www.revistaestima.com.br/estima/article/view/272

Issue

Section

Article

Most read articles by the same author(s)

1 2 3 4 > >>