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  • Revista Estima

Abstract

A Participação da Indústria na História da Estomaterapia

A Participação da Indústria na História da EstomaterapiaA indústria participou historicamente na Estomaterapia mundial e brasileira. Algumas empresas tiveram papel fundamental para a melhoria da qualidade de vida dos pacientes ostomizados, que diante da necessidade de equipamentos especiais foram altamente beneficiados com o surgimento das novas tecnologias. Paralelamente, a enfermagem buscou aprimoramento técnico e científico e o paciente passou a ser assistido como um todo.

Jan Paul

 

Marcos Brêda

 

Marcelo Cunha


A história da indústria e da especialidade se misturam. Vários profissionais foram responsáveis pelo crescimento da Enfermagem em Estomaterapia e pelo avanço tecnológico dos produtos para o atendimento aos ostomizados. A revista Estima levantou dados curiosos a respeito dessa “parceria”. Encontrou até mesmo uma das lendas vivas da indústria, Jan Poul Ladessa Sórensen, que trouxe a empresa Coloplast para o Brasil e dedicou anos de sua carreira no atendimento aos profissionais que atuam na especialidade, dentre os quais destaca-se a Enfermagem em Estomaterapia.Hoje, Jan Poul dedica-se à área do turismo, na cidade do Rio de Janeiro. É diretor da Banani Turismo e Ecologia, atividade bem mais tranqüila, porém tão empolgante quanto a Estomaterapia. “Fiz o que pude para ajudar a Estomaterapia e melhorar o nível de produtos e conhecimentos no Brasil”, reconhece ele, que pela vivência na área poderia escrever um livro. Nessa primeira etapa, ele volta ao tempo e conta que a primeira bolsa descartável de colostomia foi desenvolvida por uma enfermeira dinamarquesa de nome Lisa Sórensen, que vendeu a patente da bolsa para uma colega casada com um pequeno produtor de produtos plásticos. Assim nasceu a Coloplast, na Dinamarca, em 1955, que passou a fabricar bolsas de uma peça com adesivo de óxido de zinco.

 

Vinte anos depois, nascia a ConvaTec, nos Estados Unidos, que ampliou a tecnologia de adesivos para atender o mercado da ostomia em todo o mundo. “Eram adesivos mais suaves para a pele, dando início aos estudos da ‘stomahesive’, por meio do Instituto de Pesquisa Farmacêutica da Squibb, e ao sistema de duas peças”, esclarece Jan. Logo em seguida, surgiu a Hollister Inc., que criou a Karaya, e mais tarde a Coloplast desenvolveu o Curagard.Atrelado à evolução tecnológica está o interesse de melhorar a qualidade de vida dos pacientes com ostomias, feridas e incontinências. Atualmente, no entanto, o avanço tecnológico das indústrias está voltado para as feridas, pois muitos produtos comercializados surgem do desenvolvimento da bioengenharia e da engenharia genética, que permitem produzir materiais que cada vez mais favoreçam a reparação tecidual.Para falar sobre a visão atual da indústria, a revista Estima entrevistou os profissionais Marcelo Ferreira Carlos Cunha, gerente da Hollister do Brasil, e Marcos Fernando Dias Brêda, gerente regional da Coloplast.ESTIMA – Faça um resgate histórico da tecnologia para o cuidado ao ostomizado.MARCELO – No início existiam bolsas simples, sem nenhuma proteção para a pele periestomal, que é sem dúvida uma das principais preocupações para o ostomizado. A Hollister foi a primeira empresa a lançar uma bolsa com uma resina que tinha como objetivo proteger a pele periestomal (em torno de 1984), que era a resina de karaya. Após isso, tivemos a resina sintética com esse mesmo objetivo, também fabricada pela Hollister. Evoluímos para os outros dispositivos para a proteção desta pele, como a pasta e o pó protetores de pele e as barreiras convexas para os ostomas complicados, como exemplo o ostoma retraído. Hoje em dia, é possível manejar a maioria dos ostomas, pois há uma gama muito grande de produtos que podem atender a quase todas as necessidades.BRÊDA – Historicamente, a tecnologia para esse tipo de cuidado surgiu a partir da necessidade de desenvolver barreiras protetoras de pele para os ostomizados. Profissionais da área de saúde que prestavam assistência à clientela ostomizada em parceria com empresas iniciaram trabalhos de pesquisa para o desenvolvimento de equipamentos de ostomias visando à proteção e segurança para os ostomizados e também para o profissional. A Coloplast dá sua contribuição para ajudar a melhorar a qualidade de vida dos pacientes com o desenvolvimento de produtos e dispositivos agregando a eles prestação de serviços, sendo empresa pioneira comprometida com toda a comunidade de saúde.ESTIMA – De que maneira a sua empresa alcança o objetivo de aumentar a qualidade de vida do paciente?MARCELO – São várias ações que contribuem para isso e interagem simultaneamente. Poderia citar que trazer novos produtos para o Brasil, prestar atendimento de excelência por meio da contínua educação e saber ouvir o mercado (ostomizados e estomaterapeutas) são as principais ações, mas saber ouvir as necessidades e trabalhar ao encontro delas é o principal pilar para atingir esse objetivo.BRÊDA – Trabalhamos diariamente para ajudar a melhorar a qualidade de vida dos pacientes ostomizados. A Coloplast iniciou com o primeiro desenvolvimento de um dispositivo para ostomia. Desde então, essa organização trabalha continuamente desenvolvendo produtos direcionados às necessidades de seus clientes, e para isso está sempre ouvindo profissionais e usuários com o objetivo de trazer ao mercado um conjunto de ações e produtos que representam qualidade, eficácia, custo/benefício e serviços.ESTIMA – Em qual área da Estomaterapia acontecem, atualmente, os maiores avanços tecnológicos: feridas, incontinência ou ostomias, fístulas, cateteres e tubos? Por qual razão?MARCELO – Em toda a especialidade, há contínuos avanços tecnológicos, mas eles variam de acordo com a natureza de cada área. Em ostomia, por exemplo, existe a busca constante de adaptar produtos novos ou melhorá-los, com o intuito de aumentar o conforto, o cuidado com a pele e a conveniência de uso e/ou descarte. Em cuidados com feridas, os avanços técnicos normalmente baseiam-se na ciência da fisiologia da cicatrização, embora produtos novos ou melhorados possam buscar a facilidade no manejo com as feridas ou melhorar a relação custo/ benefício desse tratamento. Em incontinências, os avanços atingem uma faixa mais ampla de melhorias. Há necessidade desde os métodos diagnósticos, de manejo das incontinências, os tratamentos medicamentosos, os tipos de dispositivos e a educação do paciente — ou a combinação de todos estes. Mas, no Brasil, atualmente, é provável que encontremos mais alternativas de produtos para o cuidado de feridas, justamente pela demanda de diferentes gêneses e características, sendo que a maioria é crônica e de tratamento especializado.BRÊDA – Nas três áreas podem-se notar grandes avanços, com testes de uso, baseados em estudos feitos pela comunidade de saúde e principalmente pela contribuição da Estomaterapia em nosso país. Na área de ostomia, além da importância de se oferecerem adesivos que tenham capacidade de dar segurança, é importante ainda manter a pele íntegra, fixar e tratá-la ao mesmo tempo. Em curativos, é destaque a capacidade de manejo de exsudato, promoção de meio úmido e facilidades no desbridamento autolítico, o que proporciona benefícios relativos à melhora na qualidade de vida do paciente, além da positiva relação custo/benefício. A Coloplast preza o desenvolvimento das divisões de Ostomia, Feridas e Continência igualmente. Cada divisão tem um departamento de pesquisa e desenvolvimento independente e grande parte do investimento da empresa está voltado para a área de pesquisa e desenvolvimento. Como exemplo de alguns avanços obtidos na área de ostomia, temos o Sistema Alterna de Bolsa e o Obturador Conseal; na área de Feridas, temos curativos ativos como os hidrocolóides com prata; na área de Continência, os cateteres internos autolubrificados para cateterismo intermitente.ESTIMA – Em contato direto com Enfermeiros Estomaterapeutas, como você analisa as reais necessidades do mercado e dos seus clientes diretos e indiretos — enfermagem e pacientes?MARCELO – Como já comentamos, as ETs, constantemente, buscam a reciclagem profissional. As necessidades variam muito de acordo com suas experiências pessoais e também em função das diversas regiões do Brasil. Porém, do ponto de vista da empresa, percebemos que sempre é possível contribuir com sugestões de opções em dispositivos, uma vez que trabalhamos com um número muito grande de itens, e alguns deles podem representar muitas vezes uma solução simples para um problema supostamente complicado.BRÊDA – A realidade que vemos com os especialistas da área de Estomaterapia é que existe uma luta constante para obter maior autonomia nas instituições para, inicialmente, haver um trabalho de demarcação do local apropriado para a confecção do ostoma e também dos fatores relacionados com a prevenção de úlcera por pressão, sem falar na importância de adequar aos pacientes os dispositivos de acordo com padrões qualitativos e da relação custo/benefício. A Coloplast não só oferece produtos como também apóia os profissionais por meio de treinamentos e informações.ESTIMA – A sua empresa desenvolve ou já desenvolveu algum tipo de inovação de produtos e técnicas na área da Estomaterapia? E em pesquisas?MARCELO – A Hollister está constantemente buscando ouvir e atender as necessidades dos profissionais de saúde no mundo inteiro, com a finalidade de melhorar a qualidade de vida dos clientes. Isso é parte fundamental da Missão Mundial da Hollister.BRÊDA – Internacionalmente temos um projeto chamado: Coloplast Ostomy Forum, em que os Enfermeiros Estomaterapeutas do mundo inteiro discutem técnicas, procedimentos, desenvolvimento e lançamento de produtos novos para pacientes ostomizados.ESTIMA – Qual é a meta de sua empresa em relação à Estomaterapia?MARCELO – A Hollister acredita e investe nesse profissional como um verdadeiro parceiro para a melhoria na qualidade de vida dos ostomizados. Entendemos que, quanto melhor preparado, mais o profissional irá contribuir para a melhoria da qualidade de vida do cliente final e para o desenvolvimento desse mercado.BRÊDA – Podemos reafirmar que a Coloplast é e sempre será empresa parceira da comunidade profissional e dos usuários de produtos nas três áreas em que atua.ESTIMA – Como é a relação entre sua empresa e a Sociedade Brasileira de Enfermagem em Estomaterapia (SOBEST)? MARCELO – Considero ótima, sob uma forte base ética que é fundamental numa relação entidade–empresa.BRÊDA – É excelente e melhora cada vez mais, pois estamos intimamente posicionados para apoiar a SOBEST no seu crescimento e desenvolvimento, fortalecendo assim a comunidade de profissionais.


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2003-06-01

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1.
Estima R. Entrevista. ESTIMA [Internet]. 2003 Jun. 1 [cited 2024 Mar. 28];1(2). Available from: https://www.revistaestima.com.br/estima/article/view/125

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