Artigo Original 2

Authors

  • Manuela de Santana Pi Chillida Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela UNICAMP. Pós-graduada em Estomaterapia. Professora do Curso de Graduação em Enfermagem da UNIP - Campinas. Orientadora da pesquisa.
  • Ivone Ferreira Cardozo Graduandos do Curso de Enfermagem da Universidade Paulista UNIP - Campinas.
  • Rose Luciana Trausi Lima
  • Maria Cecilia Rodrigues da Silva
  • Poly Jeferson dos Santos

Abstract

Custo com equipamentos especializados para estomas: estudo em um serviço do interior do estado de São Paulo1Cost with specialized equipment for ostomy: a study in service of the state of Sao Paulo 
ResumoEste artigo tem como objetivo analisar o custo médio de equipamentos especializados para estomas. Trata-se de uma pesquisa retrospectiva, realizada em um serviço especializado em uma cidade no interior de São Paulo. Foram coletados dados em 432 prontuários. A maioria da população era do sexo masculino, com mais de 60 anos e a neoplasia maligna foi o diagnóstico que mais originou estomas, sendo que a freqüência de complicações foi de 20%. O custo médio por paciente foi de R$ 172,52, sendo que os pacientes do gênero feminino, aqueles com urostomias e aqueles com estomas definitivos apresentaram maior custo médio.Palavras Chaves: Custos/análise de custo. Equipamento. Economia. Derivação urinária.AbstractThis article aims to analyze the cost of specialized equipment for ostomy. This is a retrospective study, performed in a specialized service in a town in the interior of São Paulo. Data were colected in 432 records. The majority of the population was male, aged over 60 and cancer was the diagnosis that resulted in more stomata, and the frequency of complications was 20%. The average cost per patient was US$ 70,00, while the female patients, those with urostomy and showing definite stomas, showed a higher average cost.Key words: Costs/analysis of cost. Equipament. Economy. Urinary diversion.Artigo OriginalA International Ostomy Association, por meio da Declaração dos Direitos dos Estomizados, tem como objetivo principal garantir a todas as pessoas com estomas o direito à qualidade de vida satisfatória. Para que isso se concretize, são necessárias políticas públicas que garantam o acesso a serviços com equipe especializada para seu atendimento e equipamentos adequados1 .No Brasil, apesar da ampla rede de servi- ços de atendimento à pessoa com estoma, há gran- de desigualdade na distribuição de recursos materiais e humanos com qualificação adequada, uma vez que as grandes maiorias dos enfermeiros especializados estão concentrados no Estado de São Paulo2.Atualmente, a Portaria no 1230 de 04/10/99 inclui nove itens na tabela do Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS (SIA - SUS), o que significa um avanço político uma vez que na portaria anteri- or não havia critérios de planejamento para aquisi- ção e distribuição de equipamentos coletores, adjuvantes e barreiras protetoras de pele, essenciais para o processo reabilitatório dessa clientela, no entanto, ainda falta a construção de uma política especializada, uma vez que a portaria não contém especificidades do atendimento à pessoa com estoma2,3.Estudo recente em literatura nacional apon- tou que existem correlações do custo com impor- tantes fatores como o sexo, diagnóstico, tipo de estoma e tempo de estomia, além de tempo de seguimento no serviço especializado, o que poderá colaborar para a melhoria do atendimento de de- mandas específicas, ao serem consideradas4, po- rém, na literatura nacional, há escassez de pesquisas relacionadas ao custo dos serviços que atendem à pessoa com estoma, bem como de variáveis que interferem no custo do atendimento nestes servi- ços.A implantação de qualquer sistema de informação sobre custos requer o cumprimento de alguns pré-requisitos básicos, como o estabelecimento de um diagnóstico minucioso a respeito das rotinas administrativas, dos insumos consumidos, da mão-de-obra utilizada, bem como dos produtos intermediários e finais fornecidos pela Unidade de Saúde5.É preciso identificar os "centros de custos" que compõem o estabelecimento, entendendo um determinado espaço físico, onde atua uma equipe de trabalho com tarefas complementares, que consomem recursos diversos para gerar um ou mais produtos com características. Do ponto de vista gerencial, pode ser de interesse tratar a definição dos centros de custo a partir da idéia de estabelecer o "custeamento por responsabilidade", é necessária a avaliação sistemática das despesas e custos das diversas atividades desenvolvidas pelas Unidades de Saúde, representando, portanto, uma significativa fonte de informações para a tomada de decisão5.Os custos crescentes e recursos escassos têm afetado todos os prestadores de serviços de saúde, não houve outro momento em que as organizações de saúde tiveram de operar com mais eficiência ou ter mais cuidado com as restrições de custos. O crescimento exponencial dos custos em saúde está diretamente relacionado a uma série de fatores, tais como: o emprego de novas tecnologias; o aumento da expectativa de vida da população; o crescimento da demanda por atendimento, a universalização do acesso à saúde; a escassez de mão de obra qualificada, acarretando baixa produtividade; a má gestão das organizações, devido à incapacidade administrativa dos profissionais de saúde; a não implantação de sistemas de controle de custos6.O profissional de Enfermagem precisa estar preparado para responder aos novos desafios gerenciais com os quais vai se deparar em sua atividade profissional, entre os quais o gerenciamento de Custos dos Serviços de Saúde, contribuindo para a viabilidade de atendimento à saúde, tanto no setor público como no privado6.A Organização Mundial de Saúde aponta a enfermeira como o profissional da área de saúde com maior potencial para assegurar uma assistência rentável, ou seja, eficaz em função dos custos6.Visando a necessidade da assistência mais eficiente e eficaz no atendimento à pessoa com estoma, é necessário discutirmos a otimização dos recursos materiais que incluem os equipamentos e adjuvantes utilizados por estes usuários7 .A discussão referente ao uso da tecnologia na saúde deve contemplar aspectos relacionados à avaliação dos custos, no sentido de garantir a viabilidade das instituições do sistema de saúde, assegurando a universalidade, equidade e qualidade no atendimento da população7.É relevante a implantação de pesquisas nesta área, de modo a assegurar o uso adequado do financiamento que é garantido pela legislação. Especialmente aqueles que dizem respeito ao custo direto/indireto em áreas específicas que demandam uma baixa complexidade de cuidado, porém, com resolutividade e baixo custo, trazendo benefícios concretos a qualidade de vida e reabilitação.ObjetivosCaracterizar a população atendida por um serviço de referência às pessoas com estomas no interior do Estado de São Paulo e descrever o cus- to com equipamentos especializados.MétodosTrata-se de um estudo descritivo e retros- pectivo8, realizado a partir dos prontuários de to- dos os pacientes atendidos em um serviço de refe- rência à pessoa com estoma do interior do Estado de São Paulo, após aprovação do Comitê de Ética da Universidade Paulista - UNIP (331/08).Foi utilizado para a coleta de dados ins- trumento elaborado pelas autoras, sendo que, para sua construção, foram utilizados dados pertinentes aos custos com equipamentos e adjuvantes descri- tos em literatura. O instrumento foi composto por três partes: a primeira para obtenção das caracte- rísticas demográficas; a segunda, para as caracte- rísticas clínicas e a terceira para identificação quan- titativa e qualitativa dos equipamentos coletores, adjuvantes e protetores de pele distribuídos pelo serviço entre setembro/07 e agosto/08.A coleta de dados foi efetuada no mês de setembro de 2008, pelos próprios pesqui- sadores.Após a coleta, foi realizada a estimativa dos custos dos equipamentos e adjuvantes levan- tados, a partir do registro de pregões negociados em 2008 e, a partir da consulta ao Diário Oficial do Estado de São Paulo, foi possível o acesso aos preços dos produtos. O cálculo do custo mensal deu-se apenas em relação aos materiais e estão descritos em reais.Após coleta de dados foi elaborado o banco de dados no software Microsoft Excel 2003. Os dados foram tabulados e analisados a partir de estatística descritiva.Resultados e DiscussãoOs resultados são dos 432 prontuários foram analisados de acordo com a seqüência dos objetivos propostos, e os dados referentes à caracterização sóciodemográfica dos sujeitos estudados estão apresentados na Tabela 01.A idade variou de 1 ano e dois meses a 94 anos, com média de 60 anos, sendo a maioria do gênero masculino (53%).Pudemos constatar que o tempo de cirurgia variou entre 18 dias e 39 anos, com média de 5 anos e 4 meses, havendo alta concentração de pacientes que realizaram a cirurgia em até 1 ano (25,7%), seguido por pacientes que realizaram a cirurgia há mais de 10 anos (16%).Ao investigarmos o órgão exteriorizado, constatamos que 270 (62%) apresentavam colostomia, 117 (27%) ileostomia e 45 (10%) urostomia, não foi possível identificarmos o órgão exteriorizado em 1% dos prontuários.Em relação ao tempo do estoma, a maioria das confecções (50%) era definitiva. O percentual de não informados 52 (12%) foi elevado, levando a reforçar a importância da efetiva anotação de todos os dados dos pacientes em seus prontuários. Este dado colabora com estudo o encontrado por Chilida, que ressaltou a importância do registro adequado de dados em prontuários, para os levantamentos estatísticos, efetividade e continuidade do atendimento ao paciente e construção de pesquisas9.Ao analisarmos o diagnóstico médico, verificou-se que o mais significativo foi a neoplasia maligna(61%), por outro lado, identificamos que os estomas eram originários também por acidentes/traumas (6%), oclusão intestinal (6%), doença inflamatória intestinal (4%), diverticulite (4%). Outras doenças representaram 15% dos diagnósticos que geram estomas, como: mal- formações congênitas, megacólon, síndrome de Fournier, entre outras.Este achado colabora com estudos anteriores em que a maioria dos estomas foi confeccionado por neoplasia maligna910,11. Este dado é esperado devido aos cânceres de cólon e reto serem uns dos tumores mais freqüentes em países industrializados, sendo o segundo em freqüência, e a sua incidência tem predomínio nas idades mais avançadas, em consonância com o envelhecimento da sociedade11.As complicações relacionadas aos estomas acometeram 86 (20%) estomizados. Em estudos nacionais e internacionais há grande variação na incidência de complicações, no entanto, seu aparecimento está intimamente relacionado ao local de confecção do estoma1011,12. Isso ressalta a importância da demarcação do local de construção do estoma.As principais complicações encontradas neste estudo foram retração (8%), hérnia periestoma (4%) e prolapso, encontrado em 2% dos pacientes.Foi possível observar pelos prontuários que os equipamentos, adjuvantes e barreiras protetoras são entregues aos pacientes, familiares e a outras pessoas que buscam estes dispositivos. Isso pode ocorrer pelo elevado tempo de atendimento no serviço, média de 5 anos, mas pode significar um número baixo de consultas que respaldem a escolha adequada do equipamento e, especialmente, a avaliação de sua durabilidade.O custo médio mensal por indivíduo foi de R$ 172,52, com alto desvio-padrão (R$ 160,09), e o custo mediano é R$ 114,40, bem abaixo da média, o que evidencia que a presença de valores extremos pode afetar os resultados.Este dado mostrou-se elevado em comparação ao apresentado em outro estudo com uma população de 635 sujeitos, em que em um dos serviços, o custo médio mensal por indivíduo foi R$137,70 e, no segundo serviço, foi de R$ 144,004.A tabela 4 descreve a média de custos dos pacientes em relação ao gênero, tipo de estoma e diagnóstico que levou ao estoma.O custo médio mensal foi maior entre as mulheres, em urostomizados e nos pacientes com estoma definitivo, resultados similares ao mesmo estudo acima referido4. Os pacientes que construíram estomas devido à Síndrome de Fournier apresentaram maior custo, R$ 273,54, seguido pela diverticulite, R$ 177,06, e neoplasia maligna, R$ 176,99.Os pacientes com complicações apresentaram maior custo que os pacientes que não apresentam complicações.ConclusõesA maioria da população era do sexo masculino, com mais de 60 anos e a neoplasia maligna foi o diagnóstico que mais originou estomas, sendo que a freqüência de complicações foi de 20%. O custo médio por paciente foi de R$ 172,52, sendo que os do gênero feminino, os com urostomias e aqueles com estomas definitivos apresentaram maior custo médio.Considerações FinaisEste estudo permitiu estabelecer o custo mensal do uso de equipamentos coletores, adjuvantes e barreiras protetoras de pele para 18 - Rev Estima - Vol 6 (4) 2008 estomizados, em uma cidade do interior de São Paulo. Porém, não foram realizadas correlações estatísticas entre as variáveis que nos permitam entender os dados estatisticamente significantes em relação aos custos para esta população. Vale ressaltar que, além de estudos sobre o custo com materiais, é extremamente necessário estudos sobre os custos deste serviço, tendo em vista o número de consultas/dia, número de pacientes admitidos no serviço, custo total do paciente, incluindo-se o material e os equipamentos e adjuvantes utilizados.

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Published

2016-03-23

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1.
Chillida M de SP, Cardozo IF, Lima RLT, Silva MCR da, Santos PJ dos. Artigo Original 2. ESTIMA [Internet]. 2016 Mar. 23 [cited 2024 Mar. 28];6(4). Available from: https://www.revistaestima.com.br/estima/article/view/47

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