Reflexão

Authors

  • Maria Angela Boccara de Paula Enfermeira Estomaterapeuta (TiSOBEST). Prof Assistente Doutor do Departamento de Enfermagem da Universidade de Taubaté.

Abstract

A Prática do Especialista na Diversidade


IntroduçãoNo campo das ciências da vida, e especialmente em medicina, as especialidades surgiram no início de suas práticas, com finalidade de qualificar o desempenho profissional1, principalmente em função dos avanços tecnológicos. O processo de especialização é considerado "um mecanismo estratégico adotado pelas profissões para manter sob controle os avanços e os novos conhecimentos"2.No Brasil, após a reforma universitária de 1968, e principalmente a partir de 1972, os cursos de graduação em Enfermagem passaram a oferecer a possibilidade de se cursar várias especialidades, em cursos de habilitação ou especialização, pós-graduação lato-sensu ou mesmo em pós-graduação strictu-sensu3.Os grandes e rápidos avanços na área tecnológica levaram os profissionais de saúde à necessidade rigorosa e constante de reciclagem e atualização técnico-científica, tornando-se quase que imperativo para estes os cursos de pós-graduação, para o acesso ao mercado de trabalho qualificado4.Os especialistas em enfermagem, em virtude das variadas necessidades em saúde, acabaram percebendo na prática diária que o saber deve ser constantemente atualizado, para poder atender as exigências da clientela e do mercado de trabalho, que requerem renovação rápida e precisa na maneira de pensar e agir5. Deparam-se com caminhos e campos de atuação diversos e novos e um leque de possibilidades em diferentes níveis de complexidade, não apenas relacionadas a prática clínica, mas também nas áreas administrativas, educacionais, de pesquisa e desenvolvimento profissional.Para se atingir estes objetivos com eficiência e qualidade, é necessário estarmos bem preparados como profissionais e especialistas para a diversidade dos desafios relacionados à qualidade dos serviços prestados, à prática diferenciada, aos dilemas éticos, à liderança, ao trabalho como carreira, à atualização e à diferença cultural da clientela6.Assim, é possível perceber que a prática especializada do enfermeiro na diversidade envolve questões extremamente amplas e complexas. O próprio momento histórico-social no qual vivemos, onde a globalização e a diversidade cultural, religiosa e social estão presentes, nos coloca frente a situações diferentes, nas quais residem o contraste de culturas e etnias e frente aos quais é necessário estarmos preparados para este cuidar voltado para as minorias étnicas, além de estarmos compartilhado-o com profissionais de várias etnias e culturas6,7,8.O profissional em enfermagem deverá também estar formalmente preparado para lidar com estes aspectos tão fundamentais das relações humanas, como respeito pelas crenças, saberes e necessidades individuais e/ou grupais e que compõem o processo de cuidar, que caracteriza o objeto de trabalho da enfermagem.Desta forma, o enfermeiro especialista encontra-se em um processo de desenvolvimento e adequações do seu cuidar, frente às novas e diferentes tecnologias, possibilidades de atuação e conceitos que constantemente são re-elaborados e assimilados. Estes, por fim, sendo adequados a nossa realidade, acabam tendo como objetivo melhorar e desenvolver o acesso à qualidade do cuidado para a clientela por nós assistida e, consequentemente, buscando o desenvolvimento, reconhecimento e satisfação pessoal/profissional, individual e coletivo, além da expansão dos limites da nossa prática, conhecimentos e habilidades no cuidar em enfermagem. Tem se ressaltado que "o cuidado é tido como um domínio central, dominante e unificador da enfermagem e, enquanto a cura não pode efetivamente ocorrer sem o cuidado, este pode ocorrer sem a cura"9.Nesta última década tem-se estabelecido e dado muito valor na prática baseada em evidências, cuja demanda tem, gradativamente, se imposto. Esta prática implica na necessidade de buscarmos conhecimentos da pesquisa séria, critica e seletiva, da literatura especializada e geral, a fim de termos nesta busca recursos primários e essenciais, para a atuação profissional10.Estarmos abertos e dispostos, para este processo, significa também monitorar, antecipar e aproveitar as transformações e estar pronto para mudar sempre10.Poderemos ainda contribuir para uma prática de enfermagem, mais consciente e segura, de maior efetividade e maior prazer profissional e pessoal quando nos transformamos em produtores e divulgadores de conhecimentos, especialmente por meio da pesquisa10,11. Reforçando a idéia de que a pesquisa, juntamente com a educação, são os pontos de partida na geração de novos conhecimentos e comportamentos5.O especialista, no seu caminhar, frequentemente se encontra frente à diversidade, de maneira tão ampla englobando paradigmas fortemente presentes no nosso dia-a-dia. Esta diversidade que nos obriga a continuar caminhando, a produzir, a realizar, nos faz crescer como pessoas e profissionais e nos direciona à prática avançada do especialista, o qual vem se tornando cada vez mais apto a realizar sua prática profissional com bases científicas fortes, aliadas ao cuidado humanizado, que considera o ser humano como singular, com dimensões social, histórica, cultural, biológica, espiritual e política, que influencia e é influenciado pelo meio em que vive e pelas interações que estabelece com os outros.A diversidade é um valor humano reconhecido porque se sabe que é na integração entre as diferenças humanas de qualquer ordem - raça, religião, sexo, cultura, formação - que reside a riqueza de uma comunidade e a vitalidade de um sistema. Assim, podemos afirmar que o especialista em enfermagem, por meio da diversidade de suas atividades, pode ser um importante elemento na reconstrução da qualidade da assistência, principalmente nos aspectos que se referem ao compromisso do profissional de orientar os objetivos sociais de seu trabalho, de acordo com as necessidades dos clientes.Desta forma, sem a pretensão de ter esgotado o assunto, a prática do especialista na diversidade surge como uma dimensão importante no contexto e percurso da profissão. Perceber a importância e a diferença do cuidado baseado na união do técnico com o "humano", a necessidade de atualização constante, de maneira tanto formal como informal, de se estar voltado às transformações, à produção de novas pesquisas e, consequentemente, à qualidade de vida do homem por inteiro, definem a trajetória necessária para o especialista em enfermagem manter-se atuante e necessário no contexto da saúde no país, contribuindo para o desabrochar de uma nova representação do enfermeiro na sociedade e seu reconhecimento enquanto profissional ÚNICO, FUNDAMENTAL e ESSENCIAL no contexto das profissões da saúde.O especialista em Enfermagem está efetivamente escrevendo sua história com a força do sonho, do mito que se torna real por meio do cuidado, pois "tudo o que existe e vive precisa ser cuidado para continuar a existir e a viver"12.

Downloads

Download data is not yet available.

References

Scraiber LB. O Médico e seu trabalho: limites da liberdade. São Paulo: Hucitec, 1993.

Machado MH. Formação médica e inserção no mercado de trabalho. Medicina Conselho Federal, janeiro 1999:23-4.

Nakamae DD. Novos caminhos da enfermagem. São Paulo: Cortez;1987.

Meis LA. A busca do saber. Médico. Hosp Clínicas Faculdade Medicina USP. 1998; 1(2):30-4,.

Cesaretti IUR, Dias SM. Estomaterapia: uma especialidade em evolução. Acta paul. Enf.out- dez 2002; 15(4):79-86.

Santos VLCG. Cuidados Avançados em estomaterapia: vislumbrando o terceiro milênio.Rev.Escola Enfermagem USP. 1999; 33:1-3.

Krasner D. Valuing Diversity- a fondation stone of advanced wound caring. Ostomy,wound management. 1999; 45(5):4-6.

Saver C. Nursing in the new milenium. NSA/ Imprint. 1999;46(1):32-6.

Lenneberg E. Role of enterostomal therapist and stoma rehabilitation clinics. Cancer.1971;28(1):266-9.

Santos VLCG. A estomaterapia através dos tempos. In: Santos VLCG, Cesaretti IUR. Assistência em estomaterapia: cuidando do ostomizado. São Paulo: Atheneu; 2000. p. 1-17

Boccara de Paula MA. O Significado de ser especialista para o enfermeiro Estomaterapeuta [dissertação]. São Paulo: escola Enfermagem USP; 2000.

Boff L. Saber Cuidar : ética do humano - compaixão pela terra. Petrópolis: Vozes; 2000.

Published

2008-12-01

How to Cite

1.
Paula MAB de. Reflexão. ESTIMA [Internet]. 2008 Dec. 1 [cited 2024 Apr. 19];6(4). Available from: https://www.revistaestima.com.br/estima/article/view/244

Issue

Section

Article

Most read articles by the same author(s)

1 2 3 > >>