Revisão 2

Authors

  • Diba Maria Sebba Tosta de Souza Professora da Disciplina de Enfermagem Cirúrgica do Curso de Enfermagem da Faculdade de Ciénans Médicas Dr. José Antônio Garcia Cestinha - UNIVAS. Mestre em Enfermagem, EEUSP. Pós-graduada em Estomaterapia. Especialista em Enfermagem de Centro Cirúrgico e Centro de Material Esterilizado.
  • Vera Lúcia Conceição de Gouveia Santos Professora Doutora do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica da Escola de Enfermagem da USP. Coordenadora do Curso de Especialização em Enfermagem em Estomaterapia da Escola de Enfermagem da USP.

Abstract

Úlceras por Pressão e Envelhecimento

Introdução
O envelhecimento humano pode ser definido como um conjunto de modificações fisiológicas irreversíveis, inevitáveis e consequentes a uma alteração da homeostasi¹', sendo melhor caracterizado pela redução progressiva da reserva homeostática dos sistemas orgânicos. Esse declínio (homeostenose) começa na quinta década, é progressivo e varia conforme o indivíduo².Tradicionalmente, nos EUA, a população idosa tem sido definida como aquele segmento que está com 65 anos ou mais. Entretanto, essa definição não reconhece as alterações físicas e sócio-econômicas sofridas por pessoas idosas, conforme elas envelhecem. Adicionalmente, o número rapidamente crescente de pessoas incluídas entre os idosos levou à necessidade de sub-agrupamentos etários, quais sejam: idosos novos, idosos e idosos mais velhos, respectivamente para as pessoas de 65 a 74, 75 a 84 e 85 anos e mais3.Muitos dos declínios, comumente associados com o envelhecimento, na verdade, podem ser mais efeitos do que causas de doenças. A obesidade, por exemplo, afeta os sistemas circulatório e renal e, principalmente, o metabolismo de açúcar contribuindo para os distúrbios degenerativos e encurtamento da vida. Estilos de vida mais saudáveis podem permitir que um número cada vez maior de jovens e adultos de meia idade mantenha um nível elevado de funcionamento físico em boa parte da idade mais avançada'. Porém, quando isso não é totalmente possível, e a capacidade funcional não é minimamente preservada, para o desenvolvimento das atividades de vida diária, deficiências de mobilidade, de percepção sensorial, controle esfincteriano e deterioração do estado nutricional, podem contribuir para o surgimento de alterações corno as úlceras por pressão (UP).Inúmeros estudos, que comprovam os altos índices de prevalência e incidência de UP entre idosos, especialmente os institucionalizados — e que não constituem objeto deste estudo - apontam para o permanente desafio para a equipe de saúde, em busca de medidas preventivas mais eficazes frente às importantes consequências para o indivíduo idoso, para a família e, certamente, para as instituições. Úlceras por pressão: aspectos gerais
Do ponto de vista semântico, vários termos têm sido utilizados para denominar as UP, entre os quais, escara, úlcera de decúbito e ferida de pressão. No entanto, a expressão -úlcera por pressão vem sendo consagrada internacionalmente, à medida que a pressão é o fator etiológico mais importante na gênese dessas lesões.Embora sejam inúmeras as definições propostas para a UP, tem-se adotado aquela estabelecida pelo National Pressure Ulcer Advisory Panei (NPUAP), para o qual essa lesão é "uma área localizada de morte celular que se desenvolve quando um tecido mole é comprimido entre uma proeminência óssea e uma superfície dura, por um prolongado período de tempo"5.Bergstron et aí6 mencionam que fator importante, no processo avaliativo e preventivo do paciente com UP, é o estadiamento dessas lesões. Trata-se de classificação sistematizada da UP, baseada na profundidade anatômica de perda tissular, e que também se encontra estabelecida pelo NPUAP e adotada pela Agency for Health Care Policy and Research — AHCPR7, atualmente chamada de Agency for Healthcare for Research and Quality (AHRQ). Em fevereiro de 1998, foi aprovada a nova descrição para a UP em estágio 1, sendo que os estágios II a IV não apresentaram mudanças:estágio I: é uma alteração observável relacionada com pressão na pele íntegra, cujos indicadores comparativos à área adjacente ou oposta do corpo podem incluir mudanças em urna ou mais das seguintes condições: temperatura da pele (aquecimento ou resfriamento), consistência tecidual (sensação de firmeza ou de amolecimento) e/ ou sensibilidade (dor, prurido). A lesão apresenta-se como uma área definida de hiperemia persistente na pele pouco pigmentada, ao passo que, em peles mais escuras, a úlcera pode manifestar-se como tonalidades persistentes de vermelho, azul ou púrpura;estágio II: é uma perda parcial de espessura da pele, envolvendo epiderme, derme ou ambas. A UP é superficial e apresenta-se, clinicamente, corno abrasão, uma bolha/vesícula ou cratera rasa;estágio III: é uma perda de pele na sua espessura total, envolvendo danos ou necrose do tecido subcutâneo, que pode se estender até a faseia subjacente, sem aprofundar. Clinicamente, a úlcera apresenta-se como urna cratera profunda, com ou sem comprometimento do tecido adjacente; eestágio IV: perda de pele na sua espessura total, com uma extensa destruição, necrose dos tecidos ou dano nos músculos, ossos ou estruturas de suporte (por exemplo: tendão ou cápsula articular). A formação de túneis ou de tratos fistulosos também pode estar associada às úlceras por pressão neste estágio.Em 1987, Braden e Bergstron8 elaboraram um esquema conceituai acerca da etiopatogenia para o desenvolvimento das UP, envolvendo dois determinantes etiológicos críticos: a intensidade e duração da pressão e a tolerância dos tecidos para suportarem essa pressão.A pressão, aplicada com grande intensidade durante um curto período, ou com menos intensidade durante um período mais longo, resulta no fechamento capilar. Tecidos são privados de oxigenação e nutrientes e produtos metabólicos tóxicos acumulam-se. Fluídos intersticiais retêm proteínas, desidratam células e irritam os tecidos. Tudo isso leva à acidose tecidual, aumento da permeabilidade capilar e edema, contribuindo para a morte celular. Como fator significativo para o desenvolvimento de UP, a intensidade e a duração da pressão estão relacionadas à capacidade de percepção sensorial, mobilidade e atividade9,10,11,12.Quanto à tolerância tissular, como o segundo determinante crítico na gênese das UP, relaciona-se à capacidade do tecido em distribuir e compensar a pressão exercida sobre ele contra a estrutura do esqueleto'', influenciando na condição e integridade da pele e das estruturas de suporte. A tolerância tissular está relacionada a fatores extrínsecos como umidade, fricção e força de cisalhamento e a fatores intrínsecos como nutrição, idade e pressão arteriolar.A maioria das UP ocorre na metade inferior do corpo. Mais de 95% de todas as UP desenvolvem-se em cinco clássicas localizações: sacra/coccígea, grande trocânter, tuberosidades isquiáticas, calcâneas e maléolos laterais10,14,12,15. A região sacro/coccígea concentra grande número de UP, principalmente quando o paciente possui incontinências, constituindo-se em área onde há maior risco para a fricção e o cisalhamentol6. Ainda segundo Jensen'' as UP mais graves estão na região trocanteriana. Embora as UP ocorram mais freqüentemente em áreas de proeminências ósseas, podem desenvolver-se em qualquer lugar em que haja compressão tissular que cause isquemia e hipóxia14.Além da pressão e da tolerância tissular, outras forças mecânicas integram a intrincada rede na formação das UP, como a fricção e o cisalhamento. A força de cisalhamento atinge mais comumente as regiões sacra e coccígea.Outros fatores extrínsecos e intrínsecos contribuem para o aparecimento de UP. Enquanto os fatores extrínsecos incluem a fricção e o cisalhamento associados à umidade'', os fatores intrínsecos consistem na perda da sensibilidade e diminuição da força muscular ou da mobilidade, a incontinência, a infecção, a anemia, a desnutrição proteica e a idade avançada19.
Úlcera por pressão e envelhecimento A maioria dos idosos tem um ou mais problemas crônicos. Quase a metade (49%) tem artrite; 35% têm hipertensão arterial e 31% têm doenças cardíacas. Outras condições são comuns como as deficiências visuais e sensoriais em geral, o diabetes e o comprometimento ortopédico3.Quanto à associação de idade e Úlcera por Pressão (UP), Allman''' a explica, através das consequências das mudanças que ocorrem na pele devidas ao envelhecimento, tornando-a mais frágil e vulnerável à ação dos fatores extrínsecos como pressão, fricção, forças de cisalhamento e umidade, já mencionados antes.A pele do idoso apresenta uma série de alterações resultantes do processo do envelhecimento intrínseco (cronossenescência) e de fatores do meio ambiente, especialmente a radiação ultravioleta (actinossenescência). A pele envelhecida participa das alterações involutivas, que ocorrem nos diversos setores do organismo, sendo classificadas em dois tipos: intrínseca-cronológica (genético) ou patológica (genético ou não)- e extrínseca. A senescência é, portanto, uma consequência biológica do tempo de vida. Já a pseudo-senescência, decorre da agressão de fatores ambientais sobre a pele humana durante a sua existência¹.A avaliação da pele do idoso baseia-se em critérios fisiológicos como hidratação, modificações da secreção sebácea, modificações das glândulas sudoríparas e permeabilidade; e critérios biológicos, baseados nas alterações do tecido conjuntivo e das quatro macromoléculas da matriz intercelular: o colágeno, a elastina, as proteoglicanas e as glicoproteínas de estrutura, assim como os fibroblastos que as sintetizam1.Nos idosos, os critérios histológicos e ultra-estruturais apresentam distinções na epiderme senil, que se diferencia da epiderme normal por um pequeno número de células mitóticas basais, com aumento das células bloqueadas, que seriam a fonte de uma queratinização prematura iniciada na própria membrana basal, além de diminuição das organelas metabolicamente mais ativas, contribuindo para maior espessura da epiderme, mais cosinofilia, maior aplainamento celular e aumento dos espaços intercelulares acima das camadas mais profundas¹.Quanto à membrana basal, na microscopia eletrônica de varredura, entre a 7ª e a 10ª décadas, observam-se alargamento e aplainamento das papilas dérrnicas e perda do pregueamento da lâmina basal. As células de Langerhans estão significativamente diminuídas, principalmente nas áreas expostas ao sol, o que explicaria a diminuição da resposta imune e a predisposição para o câncer cutâneo; os melanócitos, enzimaticamente ativos, diminuem de 10% a 20% a cada década, a partir de uma certa idade. Na derme, os fibroblastos começam a produzir menor quantidade de colágeno do tipo I, ao passo que o colágeno do tipo III aumenta. Os ácidos mucopolissacarídeos apresentam-se como um sedimento amorfo. As fibras do colágeno são rarefeitas, muitas vezes fragmentadas, separadas por grandes áreas contendo substância fundamental. Essas modificações interferem nas propriedades mecânicas da pele: força tênsil, resistência, elasticidade e extensibilidade¹.Sampaio e Rivitti²¹ relatam que o conteúdo de água da pele idosa está diminuído pela sua menor fixação, consequente à menor quantidade de mucopolissacarídeos, principalmente o ácido hialurônico. Pelas próprias alterações das fibras e órgãos terminais, as funções de percepção podem estar diminuídas, o mesmo ocorrendo com as funções secretoras sudorípara e sebácea. A importante função imunológica desse órgão pode estar diminuída, principalmente por diminuição das respostas inflamatórias, por sua vez, consequentes à redução da microcirculação e do número de células inflamatórias na derme, inclusive os mastócitos. Por essas razões, o idoso responde menos a irritantes químicos e à radiação ultravioleta.As fibras elásticas sofrem modificações, tornam-se levemente densas, desintegram-se e desaparecem da zona papilar e ficam rarefeitas na derme profunda. Há uma redução de aproximadamente um terço dos corpúsculos de Paccini e Meissner que apresentam, ainda, alterações de forma e tamanho. A percepção sensorial está diminuída, porém a sensibilidade dolorosa está exacerbada¹.Pinto22 descreve que os pacientes idosos são particularmente susceptíveis às infecções de pele e tecidos moles. A degeneração dos pequenos vasos sanguíneos na derme, a percepção alterada da dor e de outros estímulos sensoriais, a diminuição da resposta inflamatória e de reparo dos tecidos, a restrição ao leito são eventos que favorecem o surgimento de lesões de pele nesses pacientes, principalmente as UP. Essas úlceras frequentemente tornam-se infectadas, elevando a morbimortalidade. A infecção deve-se a múltiplos patógenos, como bastonetes Gram-negativos, cocos Gram-positivos e anaeróbios.Hayflick23 comenta que, embora existam doenças de pele associadas à idade, a pele normal envelhecida não tem significado clínico. De maneira oposta, Kligman24 afirma que dois terços de todas as pessoas com mais de setenta anos têm distúrbios de pele suficientemente sérios para fazê-los procurar um médico. Muitos idosos têm várias afecções de pele. Ressecamento e prurido, calosidades, granulações, micoses e alterações nas unhas são queixas bastante comuns que levam os idosos a procurar tratamento.Todas essas características, que atribuem maior fragilidade à pele, tornam-na mais vulneráveis ao desenvolvimento de UP.Quanto à capacidade de cicatrização em idosos, a resposta nervosa menos eficiente da pele combinada a uma queda do sistema imunológico também podem ser responsáveis pela redução ou retardamento da resposta inflamatória aos fatores irritantes. A capacidade reduzida do sistema imunológico intrínseco pode fazer com que essas pessoas exponham-se mais tempo a um fator irritante antes do aparecimento de uma resposta, como a hiperernia, retardando a probabilidade de intervenção24.Além das condições mencionadas, segundo Bryant25 o aumento de co-morbidades também contribui significativamente para o aumento do trauma tissular, constituindo mais um fator para o desenvolvimento de UP.A seguir, destacam-se algumas condições especiais que têm sido consideradas como fatores de risco para o desenvolvimento de UP em idosos. • Demência Os indivíduos idosos apresentam, naturalmente, dificuldades ocasionais em buscar itens na memória - geralmente manifestada corno queixas sobre achar palavras - e apresentam uma redução da taxa de processamento de informação. Em contraste, a demência é unia disfunção adquirida, persistente e progressiva da função intelectual, com repercussões em domínios cognitivos múltiplos, um dos quais é a memória2.A demência é a quarta maior causa de morte nos Estados Unidos e sua prevalência dobra a cada cinco anos na população idosa, atingindo cerca de 30 a 50% aos 85 anos. As mulheres sofrem desproporcionalmente, seja como pacientes - mesmo depois de compensada a idade - seja como dispensadora de cuidados².A deficiência do paciente demente deve representar um importante declínio na função e deve ser grave o bastante para interferir com o trabalho e a vida em sociedade. As deficiências mentais em pacientes idosos são, com frequência, o resultado de outras síndromes, que coexistem frequentemente com a demência: a depressão e o delírio2Cerca de 80% dos casos de demência, entre idosos, são causados por problemas cardiovasculares, como hipertensão ou uma série de pequenos derrames; pela Doença de Parkinson - transtorno neurológico progressivo caracterizado por tremor, rigidez, lentidão de movimentos e postura instável - ou ainda pela Doença de Alzheirner26.A Doença de Alzheimer é um transtorno cerebral degenerativo progressivo que, pouco a pouco, destitui as pessoas de inteligência, consciência e mesmo de sua capacidade de controlar as funções corporais, podendo levar ao óbito4.Os fatores de risco para a doença de Alzheimer são a idade avançada, o histórico familiar e o gênero feminino; enquanto para a demência vascular são Os mesmos do enfarte, isto é, idade avançada, sexo masculino, raça negra, hipertensão, tabagismo, enfarte do miocárdio prévio, fibrilação atrial, diabetes e hiperlipidemia2. Essas doenças mentais interferem na percepção sensorial do idoso e, consequentemente, na capacidade de aliviar o desconforto concorrendo, mais uma vez, para o maior risco de desenvolvimento de UP13• Imobilidade A mobilidade e atividade constituem a capacidade de aliviar a pressão por meio de movimento, sendo um dos fatores de risco mais importantes para formação de UP13.A redução da mobilidade é uma importante causa de declínio induzido pela hospitalização de pessoas idosas, sendo geralmente tratável após a identificação de suas causas. Cerca de 10% dos pacientes hospitalizados com mais de 70 anos apresentam declínio na sua capacidade de realizar tarefas de vida diária, muitas vezes resultante de reduções na mobilidade, que podem ser evitadas. Os riscos do repouso no leito são múltiplos para os idosos e, além, de serem graves, são de desenvolvimento rápido e reversão lenta².As alterações no sistema cardiovascular, consequentes à imobilização, podem ocorrer rapidamente e implicam em deslocamento ou perda de fluídos, redução do pico de absorção de oxigênio e frequência cardíaca aumentada ao repouso. As alterações mais marcantes ocorrem no músculo esquelético, com perda da velocidade de contração e força. A tromboflebite e a embolia pulmonar são riscos adicionais sérios. No paciente idoso confinado ao leito, os riscos de hipotensão postural, quedas, ruptura da pele e embolia pulmonar aumentam rapidamente em poucos dias. Adicionalmente, a recuperação dessas alterações é lenta².As principais causas da imobilidade são fraqueza, rigidez, dor, desequilíbrio e problemas psicológicos.Quanto à imobilidade, como fator de risco para desenvolvimento de UP em idosos, manifesta-se principalmente nas doenças crônicas prolongadas, independentemente do nível de consciência, e nas afecções agudas, quando o paciente permanece inconsciente ou sedado por certo tempo, que pode até ser curto. A susceptibilidade aumenta em idosos com lesão medular e na desnutrição grave, na qual a atrofia da musculatura faz com que a proteção sobre as proeminências ósseas esteja diminuída27.
• Quedas e problemas de locomoção Trinta por cento dos idosos apresentam quedas por ano, incluindo metade das pessoas com idade acima de 80 anos; destes, 25% apresentam lesões graves e cerca de 5%, fraturas².As quedas são a sexta causa de morte entre pessoas idosas e contribuem para 40% das internações em casas de repouso. As fraturas do quadril e o medo das quedas são as causas principais de perda de independência. Além disso, envolvem altas taxas de mortalidade (aproximadamente 205/ano) em mulheres idosas com fratura do quadril, particularmente, se estiverem debilitadas antes da fratura².Outras complicações como perda de confiança e independência, hematoma subdural crônico, desidratação, desequilíbrio hidroeletrolítico, úlcera por pressão, rabdomiólise e hipotermia, aumentam a morbidade e mortalidade nessa clientela². • Umidade A umidade é um fator de risco significante para o desenvolvimento da UP, ao acarretar a diminuição da tolerância tissular. A umidade da pele pode estar relacionada a alterações do nível de consciência e outras complicações do sistema neurológico periférico. Dentre essas complicações, estão as incontinências urinária e anal e a transpiração excessiva, que necessitam de grande atenção da equipe de saúde para detecção e solução do problema. Outros fatores, que também contribuem para a exposição do paciente à umidade, são as secreções dos drenos, drenagens de feridas e restos alimentares8.A perda do controle esfincteriano tem um grande impacto psicológico e social e, geralmente, contribui para a internação do paciente.Frequentemente, o idoso é rotulado "incontinente" e nenhuma tentativa é feita para se esclarecer o tipo de incontinência ou para se instituir o tratamento adequado. Embora frequente, é problema geralmente não informado².A incontinência em pacientes idosos pode ser transitória ou permanente e sua classificação encontra-se no Quadro 1.
• Desnutrição A desnutrição afeta um número importante de pessoas idosas e, geralmente, precede a hospitalização, devido à dependência nos cuidados pessoais. A perda não intencional de peso acima de 5%, em um mês, ou de 10%, em seis meses, merece uma avaliação².Segundo Rena e Barra28 o paciente senil, em sua maioria, é desnutrido e desidratado crônico por razões social, psicológica e fisiológica. A necessidade calórica diária está reduzida de 10 a 25% com o avançar da idade, porém, sua necessidade protéica não se altera; no entanto, a ingestão de proteínas encontra-se em geral reduzida, em função da dificuldade de mastigação, de deglutição, tabus alimentares e falta de estímulo dos que convivem com o idoso para uma alimentação adequada.O Quadro 2 lista as causas de perdas não intencionais de peso em idosos, sugerindo aspectos importantes a serem observados em sua avaliação. Lueckenotte" afirma que as complicadas relações entre nutrição e processo de envelhecimento são um campo de conhecimento em contínua evolução e a detecção precoce de fatores de risco, comprovadamente associados a problemas relacionados com a nutrição, podem retardar ou impedir o surgimento de doenças e suas complicações subsequentes.Silva e Chaves27 afirmam que longas internações e permanência em unidades de terapia intensiva levam os pacientes à desnutrição crônica. Esta reflete diretamente na diminuição da massa muscular - que protege as protuberâncias ósseas — e na diminuição do panículo adiposo de uma maneira geral, também contribuindo para a formação das UR • Desidratação Conforme mencionado, Rena e Barra28 afirmam que o paciente idoso possui desnutrição e desidratação crônicas por diferentes razões.A quantidade de água corpórea total declina (15 a 20%) com o progredir da idade, com redução dos componentes intra e extracelulares, provocando maior susceptibilidade a graves complicações, consequentes às perdas líquidas e à maior dificuldade para rápida reposição do volume perdido. Essa retração do compartimento hídrico, associada ao incremento do componente lipídeo (20 a 40%), é sumamente importante em muitas particularidades da farmococinétfarmococinética dos idosos30.Curiati e Alencar31 citam que o estado de hidratação é de difícil determinação no idoso, pois o turgor da pele perde o valor devido às suas alterações senis, que fazem com que a elasticidade esteja extremamente reduzida; a língua e a mucosa oral estão habitualmente menos úmidas por diminuição natural de secreção salivar; a mucosa conjuntival pode estar menos brilhante pela redução do número de células caliciformes, responsáveis pela integridade do filme lacrimal. No entanto, estar ciente do estado de hidratação do organismo do idoso é extremamente importante, porque ele é mais sujeito ao desequilíbrio hidrossalino, com maiores riscos de complicações.A fragilidade do envelhecimento, associada às condições mórbidas mencionadas como as alterações do estado neurológico e mental, do estado nutricional, da mobilidade, da atividade e das continências anal e urinária, caracterizam uma população propensa à formação, recidiva e complicações de UP, panorama geral que tem levado ao aumento da necessidade de sua institucionalização. Úlcera por Pressão e a institucionalização de idosos Número surpreendentemente elevado dos chamados "velhos mais velhos" - aqueles com mais de 85 anos -precisam de pouca assistência médica mas 50% dos idosos demandam assistência nas atividades diárias de seu cuidado pessoal' e, aproximadamente, 24% estão em clínicas de repouso. Em 1990, quase 18% estavam confinados em casa.As Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI) são estabelecimentos voltados para o atendimento integral institucional, tendo como público alvo, em nosso meio, as pessoas com 60 anos e mais, dependentes ou independentes, que não dispõem de condições para permanecer com a família ou em seu domicílio. Essas instituições, conhecidas por denominações diversas -abrigo, asilo, lar, casa de repouso, clínica geriátrica e ancionato - devem proporcionar serviços nas áreas social, médica, psicológica, de enfermagem, fisioterapia, terapia ocupacional, odontologia e outras, conforme as necessidades de tal segmento etário.Segundo o Manual de Funcionamento da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Seção São Paulo, esse tipo de atendimento deve ser realizado em locais físicos adequados e equipados para proporcionar cuidado, mediante pagamento ou não, durante um período indeterminado. Esses locais devem produzir um ambiente residencial, mantendo as características de um lar. Não devem ser marcados pelo isolamento, afastados da vida urbana, nem constituir espaço de uniformização da vida de seus usuários.Em nosso meio, porém, a realidade das ILPI apresenta dificuldades com relação à manutenção da saúde dos idosos, principalmente porque estes, muitas vezes, apresentam declínio do sistema orgânico, com doenças que causam as mais diversas alterações, tornando-os debilitados e vulneráveis.Desse modo, o que se tem constatado é que a institucionalização de idosos tem propiciado, contrariamente ao estabelecido e desejado, o isolamento, a privação sensorial, a imobilização e, com freqüência, a maior deterioração do estado geral. A permanência em casas de repouso, muitas vezes, pode ser estressante para o idoso, fazendo-o utilizar a negação para diminuir a percepção de um ambiente que não lhe é agradável, situação indesejada e para cuja solução se sente impotente.Para Carvalho e Fernandez, a institucionalização é uma situação estressante e desencadeadora de depressão que leva o idoso a passar por transformações de todos os tipos. Alguns autores denominam esse processo de "rito de passagem" pois, nesse ambiente, o idoso vê-se isolado de seu convívio social e adota estilo de vida diferente do seu (horário das refeições e atividades, falta de intimidade, controle de medicações etc.). Tal isolamento social leva-o à perda de identidade, de liberdade, de auto-estima, ao estado de solidão e, muitas vezes, de recusa da própria vida, o que justifica a alta prevalência de doenças mentais nos asilos. Considerações Finais Em uma época em que o envelhecimento das populações é realidade, inclusive em nosso meio, torna-se fundamental o conhecimento sobre esse processo e suas implicações, principalmente relacionadas à saúde e as modificações do panorama epidemiológico das doenças e alterações crônicas, dentre as quais encontram-se as UP.As mudanças tanto físicas, sociais, psíquicas, como familiares e afetivas, além dos fatores de risco descritos neste artigo, têm apontado o idoso - principalmente aquele que necessita de institucionalização — como um grupo vulnerável ao desenvolvimento desse tipo de ferida crônica.Desse modo, espera-se que este artigo de atualização, onde se buscou integrar os aspectos gerais sobre as UP, o envelhecimento e a institucionalização de idosos, possa contribuir para a reflexão e análise mais aprofundadas, principalmente, acerca da prevenção — baseada na avaliação de risco - diagnóstico c intervenções precoces da UP, como item fundamental na educação, investigação c assistência em saúde dessa clientela.


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Published

2006-03-01

How to Cite

1.
Souza DMST de, Santos VLC de G. Revisão 2. ESTIMA [Internet]. 2006 Mar. 1 [cited 2024 Mar. 29];4(1). Available from: https://www.revistaestima.com.br/estima/article/view/182

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