@article{Rios_Velôso_2016, title={Artigo Original 2}, volume={8}, url={https://www.revistaestima.com.br/estima/article/view/58}, abstractNote={<p><strong>Cuidados de Enfermagem na Prevenção de Úlcera por Pressão em um Hospital Público de Feira de Santana, Bahia</strong></p><div class="Resumo"><strong>Resumo</strong></div><div class="Resumo">Este estudo teve por objetivos conhecer os cuidados de enfermagem e as dificuldades e/ou facilidades encontradas para prevenir úlcera por pressão (UP) em uma instituição hospitalar pública de Feira de Santana, Bahia. É um estudo qualitativo, onde foram entrevistados sete profissionais de enfermagem de uma unidade de Clínica Médica e, posteriormente, aplicado um roteiro de observação sistemática para complementar os dados coletados. A mudança de decúbito, a massagem de conforto e a hidratação da pele foram citadas como as medidas preventivas mais utilizadas. A deficiência de recursos humanos e materiais e a falta de um protocolo de prevenção de UP na unidade foram apontadas como as maiores dificuldades para prevenir a UP. Como facilidade, os entrevistados citaram a colaboração de familiares/acompanhantes dos pacientes na prestação de alguns cuidados. Os resultados demonstraram que é necessária a provisão suficiente de recursos humanos e materiais bem como a adoção de um protocolo para a prevenção de UP na unidade e que a educação em serviço e em saúde devem ser consideradas pelos gestores e profissionais como ferramentas importantes para a melhoria da assistência, visando à diminuição da incidência dessas lesões nos pacientes hospitalizados.</div><div class="Resumo"><strong>Descritores:</strong> Úlcera por pressão. Prevenção & Controle. Cuidados de Enfermagem.</div><div class="Resumo"><strong>Abstract</strong></div><div class="Resumo">The aim of this study was to evaluate the nursing care, and the difficulties and/or availability of resources for the prevention of pressure ulcers in a public hospital in Feira de Santana, Bahia, Brazil. This was a qualitative study in which seven professional nurses from a medical ward were interviewed. Also, an instrument for systematic observation of practice was administered to the nurses to obtain additional information. Repositioning, gentle massage, and the use of skin moisturizers were reported as the measures most used for prevention of pressure ulcers. The lack of human and material resources and absence of pressure ulcer prevention protocols in the medical ward were reported as the major difficulties in the prevention of pressure ulcers. As a positive aspect, the nurses reported the participation of family members or companions in the care of patients. The results showed the need for appropriate human and material resources, and the establishment of a pressure ulcer prevention protocol in the ward. Also, managers and health professionals should consider nurse training in the provision of health services as an important tool for the improvement of health care, in order to reduce the incidence of these lesions in hospitalized patients.</div><div class="Resumo"><strong>Descriptors:</strong> Pressure ulcer. Prevention & Control. Nursing care.</div><div class="Resumo"><strong>Resumen</strong></div><div class="Resumo">Este estudio tuvo por objetivos conocer los cuidados de enfermería y las dificultades y/o facilidades que encuentran para la prevención de úlcera de presión en un hospital público en Feira de Santana, Bahía, Brasil. Es un estudio con abordaje cualitativo, donde fueron entrevistados siete profesionales de enfermería en una unidad de Medicina, y posteriormente fue aplicado un guía de observación sistemática para complementar los datos recolectados. El cambio de postura, el masaje para confortar e hidratación de la piel fueron citadas como las medidas preventivas más utilizadas. La deficiencia de recursos humanos, materiales y la ausencia de un protocolo de prevención de úlcera de presión en la unidad, fueron apuntadas como las dificultades más grandes. Los entrevistados citarón como facilidades la colaboración de los familiares de los pacientes en algunos cuidados. Los resultados mostraron que es necesaria la provisión suficiente de recursos humanos y materiales, y la implementación de un protocolo de prevención de úlcera de presión en la unidad. La educación en el servicio y en la salud deben ser considerados por los gerentes y profesionales como instrumentos importantes para la mejora de la asistencia, con la intención de disminuir la incidencia de estas lesiones en los pacientes hospitalizados.</div><div class="Resumo"><strong>Palabras-Claves: </strong>Úlcera por presión. Prevención y Control. Cuidados de enfermería.</div><div class="Conteudo"><strong>Introdução</strong></div><div class="Conteudo">A úlcera por pressão (UP) destaca-se como uma complicação comum em pacientes críticos hospitalizados, principalmente naqueles com a mobilidade física prejudicada, tornando-se um sério problema e um desafio para a enfermagem<sup>1</sup>. Além da dor, desconforto e sofrimento causados ao paciente, os custos relacionados com o tratamento dessas lesões são consideravelmente mais altos do que os custos para a sua prevenção.</div><div class="Conteudo">Em março de 2004, a <em>European Pressure Ulcer Advisory Panel</em> (EPUAP) realizou um inquérito de prevalência de UP em um hospital universitário da Suécia em pacientes internados nos departamentos das áreas cirúrgica/ortopédica, médica e geriátrica (n=369/ 89,3% dos pacientes elegíveis), apresentando, em cada um destes setores, prevalências de 17,3%, 26,7% e 50,0%, respectivamente2. No Brasil, em estudo prospectivo em um hospital universitário que acompanhou durante três meses 211 pacientes considerados em risco para desenvolver UP, observou-se uma incidência global de 39,8% dessas lesões<sup>3</sup>. Em outro estudo, em duas Unidades de Terapia Intensiva de um hospital privado de Natal/ RN, com 40 pacientes internados, foram diagnosticadas 25 UP em estágio I em 50,0% desses pacientes<sup>4</sup>.</div><div class="Conteudo">Na prevenção da UP, além da inspeção diária da pele e identificação de fatores de risco, outras medidas são necessárias, tais como: mudanças posturais do paciente, hidratação da pele com emolientes – sem massageá-la, proteção da pele contra exposição excessiva de umidade e o uso de superfícies de apoio que redistribuam a pressão (travesseiros e almofadas de espuma, por exemplo)<sup>5</sup>.</div><div class="Conteudo">Atualmente, as ações dos profissionais de saúde são caracterizadas quanto à qualidade do cuidado, tendo em vista o aparecimento ou não de UP em pacientes hospitalizados<sup>6-7</sup> e a enfermagem, por permanecer em maior contato com os pacientes no período da hospitalização, desempenha um papel fundamental na prevenção destas lesões. Desta forma, percebeu-se a importância em conhecer os cuidados realizados e as facilidades e/ou dificuldades mencionadas por profissionais de enfermagem na prevenção de UP nos pacientes hospitalizados.</div><div class="Conteudo"><strong>Métodos</strong></div><div class="Conteudo">Este é um estudo qualitativo cujos dados foram coletados em uma unidade de Clínica Médica (CM) da maior Instituição hospitalar pública do interior da Bahia, responsável por atender a população da cidade de Feira de Santana – a 107km da capital Salvador – e região (municípios circunvizinhos). A instituição em questão foi escolhida por seu caráter público e geral e por ser campo de prática das disciplinas profissionalizantes do curso de Enfermagem da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Escolheu-se, especificamente, a CM por ser uma unidade de internação que atende a indivíduos com problemas diversos de saúde, dentre os quais muitos são portadores de doenças crônicas e que, durante a hospitalização, encontram-se geralmente debilitados e acabam permanecendo longos períodos confinados ao leito, ficando susceptíveis a apresentar alterações na integridade da pele. Além disso, há a enfermaria para pacientes neurológicos, cujos pacientes geralmente encontram-se em estado grave, acamados, com déficit neuromotor, em uso de medicamentos sedativos e apresentam percepção sensorial e mobilidade física prejudicadas, caracterizando-se como um grupo de risco para o desenvolvimento de UP.</div><div class="Conteudo">A referida unidade de CM possui 40 leitos e não dispõe de Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) e protocolos para prevenção e tratamento de UP.</div><div class="Conteudo">Os sujeitos do estudo foram todos os profissionais de enfermagem, de nível médio e superior, atuantes – no período da coleta dos dados – na assistência dos turnos da manhã e tarde na unidade de CM. Por se tratar de um estudo qualitativo - onde o aprofundamento e abrangência da compreensão do objeto que está em foco é mais levado em consideração que o critério numérico - à medida que se observou uma repetição das informações, o número de participantes foi limitado.</div><div class="Conteudo">A técnica utilizada para a coleta de dados foi a entrevista semi-estruturada cujo roteiro constou de perguntas referentes à caracterização sóciodemográfica da amostra (sexo, idade, formação, titulação acadêmica, tempo de trabalho na área assistencial e o tempo de trabalho na referida unidade de CM) e de duas perguntas abertas norteadoras: 1) “Quais os cuidados de enfermagem para prevenção de úlcera por pressão realizados por você nesta unidade?” e 2) “Quais as facilidades e/ou dificuldades encontradas por você para prevenir a úlcera por pressão?”.</div><div class="Conteudo">As entrevistas foram previamente agendadas de acordo com a disponibilidade de horário dos entrevistados, sendo realizadas e gravadas após autorização dos sujeitos, na própria unidade de CM. Posteriormente, realizaram-se cinco observações sistemáticas no período de 28/05/2009 a 08/07/ 2009, nos turnos da manhã e tarde, durante aproximadamente duas horas em cada turno. Para tanto, seguiu-se um roteiro onde foram descritas as ações realizadas para a prevenção de UP e as facilidades e/ou dificuldades encontradas pelos profissionais de enfermagem na prestação desse cuidado. Foram observados tanto os profissionais de enfermagem entrevistados quanto os não entrevistados, dando-se preferência para a observação do primeiro grupo.</div><div class="Conteudo">Após a transcrição das entrevistas, realizaram-se as três etapas da análise temática: préanálise, exploração do material e tratamento dos resultados obtidos e interpretação<sup>8</sup>, complementando as informações coletadas com os dados obtidos na observação sistemática.</div><div class="Conteudo">O estudo se apoiou em critérios éticos vigentes nas Diretrizes e Normas de Pesquisa em Seres Humanos, resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde<sup>9</sup> e a coleta de dados só foi iniciada após a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Feira de Santana (CEP/UEFS), parecer nº 009/ 2009 e, posteriormente, após a autorização da Diretoria Geral do Hospital onde os dados foram coletados, ofício nº 795/2009. Os entrevistados aceitaram participar voluntariamente da pesquisa após a leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, no qual estavam explícitas todas as informações sobre o estudo, inclusive seus objetivos, metodologia e possível publicação dos resultados em meios acadêmico e científico.</div><div class="Conteudo"><strong>Resultados e Discussão</strong></div><div class="Conteudo">A amostra constituiu-se de sete profissionais de enfermagem, dentre os quais três enfermeiros e quatro técnicos de enfermagem, a maioria do sexo feminino e com idade entre 28 e 51 anos. O tempo de formação profissional variou entre 1 e 28 anos e o tempo de trabalho na área assistencial variou entre 1 e 15 anos, sendo que o profissional que possuía maior tempo de formado trabalhava há 3 anos e 5 meses na área assistencial. O tempo de trabalho na unidade de CM variou de 6 meses a 8 anos e nenhum dos enfermeiros entrevistados possuía pós-graduação na área do cuidado específico, em Estomaterapia ou Dermatologia. Os técnicos de enfermagem entrevistados afirmaram ter assistido apenas a uma atualização em serviço sobre o cuidado de feridas há mais ou menos 1 ano, na própria unidade de CM.</div><div class="Conteudo">Após a análise do conteúdo dos discursos, estes foram distribuídos em quatro categorias: Cuidados de enfermagem para prevenir a UP;<em>Recursos humanos; Instrumentos de trabalho e recursos materiais; e A participação de familiares e acompanhantes na prevenção de UP</em>, apresentados e discutidos a seguir.</div><div class="Conteudo"><strong>Cuidados de enfermagem para prevenir a UP</strong></div><div class="Conteudo">Todos os entrevistados citaram realizar a mudança de decúbito dos pacientes acamados, no entanto, a maioria o faz insuficientemente, como se pôde observar nas falas e corroborar durante a observação sistemática:</div><div class="Conteudo">“Fazemos a mudança de decúbito, sempre que necessário. [...] Às vezes temos dificuldade por causa da deficiência de funcionários e não realizamos a cada duas horas.” (Entrevistado 1)</div><div class="Conteudo">“Faço a mudança de decúbito de duas em duas horas quando o paciente tem no prontuário [<em>quando está prescrito</em>]. Se não, só na hora do banho e quando o acompanhante chama pra mudar o decúbito.” (Entrevistado 2)</div><div class="Conteudo">“Faço a mudança de decúbito na hora do banho. [...] O correto seria fazer de duas em duas horas.” (Entrevistado 3)</div><div class="Conteudo">“Faço a mudança de decúbito a cada duas horas ou ajudo o acompanhante a fazer.” (Entrevistado 4)</div><div class="Conteudo">“O correto seria fazer de duas em duas horas ou de uma em uma hora, dependendo do paciente; algumas prescrições são de quatro em quatro horas. Mas na nossa realidade não conseguimos fazer com menos de quatro horas por causa do quantitativo profissional.” (Entrevistado 5)</div><div class="Conteudo">“O correto seria fazer a mudança de decúbito a cada duas horas. Mas na prática a gente não consegue devido a demanda muito grande para a enfermagem.” (Entrevistado 6)</div><div class="Conteudo">“O certo é fazer de duas em duas horas ou de quatro em quatro horas, mas aqui, infelizmente, devido a demanda, a gente não faz. Aí acaba sendo uma vez por período: uma vez na manhã, uma vez à tarde e uma vez à noite.” (Entrevistado 7)</div><div class="Conteudo">Os entrevistados informam que o correto é mudar o decúbito do paciente acamado a cada duas horas, no entanto, têm dificuldade para realizar essa mobilização com tal freqüência. As atuais Diretrizes da <em>European Pressure Ulcer Advisory Panel (EPUAP) e da National Pressure Ulcer Advisory Panel (NPUAP)</em> advertem que a freqüência de mudanças posturais será determinada pela tolerância do tecido do indivíduo e dependerá de suas condições (estado geral, avaliação da pele, grau de atividade e mobilidade) e da superfície de apoio que está utilizando5. A higiene corporal, as trocas de fraldas descartáveis e de lençóis de cama, a massagem de conforto e hidratação tópica com cremes hidratantes ou óleo de girassol foram outras técnicas citadas:</div><div class="Conteudo">“Troco a fralda quando o paciente tá com diurese ou fezes. [...] E a massagem de conforto, que é feita após o banho, com óleo de girassol.” (Entrevistado 1)</div><div class="Conteudo">“Quando ainda há a integridade da pele, lavo com água e sabão, logo após enxugo e aplico óleo de girassol ou creme hidratante. [...] A troca de lençóis, isso é importante; e manter a pele do paciente sempre seca e arejada também.” (Entrevistado 4)</div><div class="Conteudo">“A hidratação da pele a gente pode fazer na própria superfície com óleo de girassol [...]” (Entrevistado 5)</div><div class="Conteudo">“É usado óleo de girassol, passando nas áreas que estão mais maceradas; aí a gente tenta fazer a hidratação, a lubrificação da pele. [...] E a troca da fralda descartável [...]” (Entrevistado 6)</div><div class="Conteudo">“A massagem de conforto no corpo todo com óleo de girassol, a gente faz na hora do banho.” (Entrevistado 7)</div><div class="Conteudo">A pele do paciente deve ser mantida limpa e livre de umidade com o auxílio de fraldas descartáveis, quando necessário, atentando para a troca das mesmas e dos lençóis de cama que se tornam úmidos com a transpiração<sup>10</sup>. Atualmente, as massagens de conforto estão contra-indicadas na existência de inflamação aguda ou onde existe a possibilidade de vasos sanguíneos danificados ou pele frágil<sup>5</sup>. A hidratação tópica com emolientes nas áreas de proeminências ósseas, sem massageálas, evita o ressecamento e conseqüente risco de lesão da pele nesses locais<sup>5-6</sup>.</div><div class="Conteudo">Um entrevistado citou o uso de luvas d’água sob os calcâneos dos pacientes como medida preventiva:</div><div class="Conteudo">“Normalmente essa prevenção é feita também colocando bolsas de água, a gente pega a luva e enche de água e coloca na região calcânea.” (Entrevistado 6)</div><div class="Conteudo">Este e outros dispositivos, como o tipo roda d’água ou almofadas do tipo argola com orifício no meio, também foram citados por outros enfermeiros para prevenir a UP<sup>11</sup>, mas estão contraindicados<sup>5- 6,12</sup>.</div><div class="Conteudo">Apesar de terem sido citados na entrevista, não foram encontrados pacientes em uso desses dispositivos, durante a fase de observação sistemática. O suporte nutricional e o apoio psicológico aos pacientes foram mencionados por apenas um entrevistado como medidas preventivas importantes:</div><div class="Conteudo">“[<em>Como medidas preventivas</em>] a manutenção da hidratação e alimentação do paciente, atenção, diálogo e conversas informais com os pacientes, quando possível, para minimizar o estresse [...]” (Entrevistado 5)</div><div class="Conteudo">Sempre que um paciente apresentar deficiência nutricional, sua causa deve ser investigada e corrigida, oferecendo-se a suplementação alimentar necessária. Indivíduos desnutridos apresentam proeminências ósseas salientes, desidratação e descamação da pele, o que os leva ao maior risco de desenmvolvimento de feridas<sup>13</sup>. Muitos estudos destacam a desnutrição, as alterações na função imunológica, a hipoalbuminemia, baixos níveis de hemoglobina e a baixa aceitação alimentar como responsáveis pelo aumento do risco de desenvolvimento de UP<sup>14</sup>.</div><div class="Conteudo">O ato da internação hospitalar por si só já é fator estressante. Desse modo, a assistência prestada pela equipe de enfermagem requer atenção e suporte às questões emocionais do indivíduo, procurando oferecer uma assistência humanizada por meio de orientações e esclarecimentos compreensíveis, levando em conta as características pessoais e sociais de cada pessoa. As necessidades de bem-estar, conforto, segurança e confiança podem ser alcançadas por meio do diálogo estabelecido entre o profissional de saúde e o cliente, minimizando o seu estresse.</div><div class="Conteudo">Um entrevistado falou sobre a dificuldade em identificar os fatores de risco nos pacientes:</div><div class="Conteudo">“Alguns fatores de risco dá pra identificar claramente, porque você está vendo realmente as condições socioeconômicas do paciente, idade [avançada], patologias de base... Mas outros não dá pra identificar, pois o quantitativo profissional existente não é suficiente para que a gente possa assistir o paciente como deveria.” (Entrevistado 5)</div><div class="Conteudo">Apesar dos fatores intrínsecos dos pacientes contribuírem substancialmente para o surgimento de UP, o número insuficiente de profissionais de enfermagem para assisti-los também foi citado pelos entrevistados, como uma dificuldade para a prevenção dessas lesões.</div><div class="Conteudo"><strong>Recursos humanos</strong></div><div class="Conteudo">O déficit no número de funcionários foi apontado como uma importante dificuldade para promover uma assistência de enfermagem de boa qualidade na prevenção da UP, como já descrito nas categorias anteriores e corroborado nas seguintes falas:</div><div class="Conteudo">“A média que a gente tem aqui é de dez a doze pacientes por técnico de enfermagem. Então pra gente estar fazendo medicação, dando assistência e outros cuidados mais, é muito difícil pra promover uma assistência de qualidade que realmente deve ser dada.” (Entrevistado 4)</div><div class="Conteudo">“É uma demanda enorme... Não tem como ficar de qualidade [<em>a assistência de enfermagem</em>].” (Entrevistado 6)</div><div class="Conteudo">A Resolução COFEN nº 293/2004, que fixa e estabelece parâmetros para o dimensionamento do quadro de profissionais de enfermagem nas unidades assistenciais das instituições de saúde e assemelhados, dispõe sobre o número de profissionais de enfermagem por turno e categorias de tipo de assistência<sup>15</sup>. O padrão estabelecido é de três a cinco enfermeiros e de quatro a seis auxiliares e/ou técnicos de enfermagem nos turnos da manhã e tarde para a assistência de cuidados mínimos e intermediários em uma clínica de 20 leitos. Considerando que a unidade de CM, onde foram coletados os dados, possui 40 leitos, com 100,0% de taxa de ocupação em todos os turnos, o total de pessoal de enfermagem nos turnos da manhã e tarde deveria ser de seis a dez enfermeiros e de oito a doze auxiliares e/ou técnicos de enfermagem. Assim, constata-se que há um número insuficiente de profissionais para um atendimento de boa qualidade nessa unidade, o que leva a um problema de ordens gerencial e política e à reflexão quanto ao papel enquanto profissionais de saúde sobre o “agir politicamente” junto aos gestores, para que melhores condições de trabalho sejam requeridas e obtidas.</div><div class="Conteudo"><strong>Instrumentos de trabalho e recursos materiais</strong></div><div class="Conteudo">A deficiência de alguns recursos materiais e equipamentos como óleos, cremes hidratantes e superfícies de suporte, também foi apontada como dificuldade para a prevenção de UP na unidade:</div><div class="Conteudo">“A massagem de conforto é feita com óleo de girassol, sempre que a família dispõe. [...] O colchão caixa de ovo também não é disponibilizado pelo hospital, a gente solicita pra família, mas às vezes eles não têm recurso e aí a gente não instala o colchão.” (Entrevistado 1)</div><div class="Conteudo">“Não tem almofadas no hospital e tem paciente que não tem condições de trazer porque mora em outra cidade. Colchão a mesma coisa: tem gente que não pode comprar.” (Entrevistado 2)</div><div class="Conteudo">“O hospital não fornece [<em>o colchão especial do tipo ‘caixa de ovo’</em>], aí tem famílias que não tem condições de comprar e acaba ficando sem.” (Entrevistado 3)</div><div class="Conteudo">“Faltam materiais e aí os próprios familiares que se comprometem em adquirir.” (Entrevistado 6)</div><div class="Conteudo">“Sobre as almofadas, é correto, mas eu não coloco porque na realidade do hospital não tem.” (Entrevistado 7)</div><div class="Conteudo">Durante a observação sistemática, observou-se que, além da deficiência de alguns recursos, outros existentes no hospital não são adequados para promover a correta prevenção, como os colchões de espuma desgastados e de pouca espessura (entre 7 e 11cm) e algumas camas inadequadas para realizar a mobilização dos pacientes, pois não dispõem de grades de proteção ou não movimentam a cabeceira, dificuldades estas apontadas também por alguns entrevistados:</div><div class="Conteudo">“[...] colchões inadequados em relação ao peso do paciente e a própria densidade do colchão; as macas e os leitos não são adequados pra gente fazer a manipulação do paciente [...] “(Entrevistado 5)</div><div class="Conteudo">“[...] os leitos sem grades para pacientes graves e acamados dificulta estar posicionando corretamente, mudando o decúbito do paciente, por não ter como apoiá-lo na cama.” (Entrevistado 7)</div><div class="Conteudo">Os custos relacionados ao tratamento da UP são muito altos, pois envolvem gastos com curativos especiais, antibióticos, cremes e pomadas além do próprio custo da hospitalização do paciente, sendo significativamente mais elevados do que os custos para a prevenção dessas lesões. Estudo relata que o tratamento de uma UP em estágio IV pode ter um custo que varia de $25,000 a $75,000, enquanto a sua prevenção custaria menos de $500, incluindo tempo de enfermagem, material adequado, cuidados com a pele e suplementação nutricional<sup>16</sup>. Neste sentido, prevenir a UP deveria ser prioridade nas Instituições hospitalares, principalmente públicas, onde os recursos financeiros geralmente são limitados.</div><div class="Conteudo">A falta de um protocolo específico para a prevenção de UP para nortear o trabalho de toda a equipe de saúde também é outro fator que dificulta a continuidade da assistência e compromete a sua qualidade, como foi apontado nas entrevistas:</div><div class="Conteudo">“Não há uma assistência continuada. [...] Eu dou uma assistência em determinado paciente, só que o colega seguinte que vai assumir a escala às vezes não dá continuidade ao meu trabalho. Então fica difícil, interrompe o trabalho.” (Entrevistado 4)</div><div class="Conteudo">“Apesar de ser úlcera de decúbito, a gente vai fazer a mesma coisa [que em outras feridas] até que tenha um protocolo específico para estarem padronizadas. Então se o enfermeiro ou médico faz o que é o correto, outro profissional pode não entender porque não tá seguindo um protocolo.” (Entrevistado 5)</div><div class="Conteudo">Estudos demonstram que a adoção de protocolos sistematizados é eficaz para a prevenção da UP, evidenciado pela redução da sua incidência<sup>17- 18</sup>. Desta forma, as instituições hospitalares de todo o mundo deveriam adotar protocolos específicos para a prevenção de UP, adequados à realidade da instituição e de sua clientela, como medida essencial para a redução desse tipo de lesão.</div><div class="Conteudo">A participação de familiares e acompanhantes na prevenção de UP Durante o período da hospitalização, os familiares/acompanhantes recebem constantemente orientações da equipe de saúde quanto a alguns cuidados simples que podem ser auxiliados por eles, como o banho no leito, a troca de fraldas descartáveis e a mudança de decúbito do paciente. Por estarem em contato direto e contínuo com os pacientes nas unidades abertas de internamento, muitas vezes são esses acompanhantes que primeiro observam alguma alteração no estado de saúde-doença do paciente, inclusive as alterações de pele. As falas de alguns entrevistados constatam a importância da participação desses familiares/ acompanhantes:</div><div class="Conteudo">“O acompanhante ajuda, está sempre nos alertando pra fazer a mudança de decúbito.” (Entrevistado 4)</div><div class="Conteudo">“Os familiares são uma grande ajuda. Eles auxiliam no banho no leito, auxiliam também na alimentação... Porque nem sempre a gente vai encontrar um técnico [de enfermagem] disponível. [...] Às vezes temos três técnicos [de enfermagem], mas tem dias que ficam dois. Então, quem vai realmente auxiliar nesses cuidados é o acompanhante ou familiar.” (Entrevistado 6)</div><div class="Conteudo">“Como facilidades pra prevenir as úlceras, a gente conta com o apoio dos acompanhantes na mudança do decúbito.” (Entrevistado 7)</div><div class="Conteudo">Autores afirmam que “o acompanhante pode contribuir não só afetivamente, mas também na prestação de alguns cuidados que vêm em benefício do paciente”<sup>19</sup> e que o profissional de enfermagem deve intervir predominantemente na orientação e treinamento de pacientes e familiares quanto aos cuidados preventivos à UP<sup>12</sup>. Muitas vezes, a prevenção não é adequada devido à falta de conhecimento por parte dos cuidadores acerca da identificação da UP em seu estágio inicial e do desconhecimento dos fatores de risco que levam a essas lesões<sup>6</sup>. Estudo realizado na Espanha, para avaliar o nível conhecimento de enfermeiros espanhóis sobre as orientações existentes para a prevenção e tratamento de UP, o nível de aplicação desse conhecimento na prática clínica e os fatores profissionais e educacionais que influenciam o conhecimento e a prática, demonstrou que, embora a maioria das recomendações sobre os cuidados para UP é bem conhecida pelos enfermeiros, há um grupo de intervenções sobre os quais eles têm conhecimento insuficiente e baixa taxa de execução20. Assim, o cuidado educativo deve ser estimulado, levando-se em conta o contexto sócio-econômico e cultural dos familiares e pacientes para que as informações dadas sejam claras e adequadas à sua realidade, visando à diminuição da incidência de UP.</div><div class="Conteudo"><strong>Considerações Finais</strong></div><div class="Conteudo">A UP causa muita dor e desconforto aos pacientes e familiares e requer gastos elevados do setor saúde para o seu tratamento. Sua prevenção, apesar de abordar medidas simples, não é uma adequado de recursos humanos e materiais, exige que os profissionais de saúde e cuidadores estejam atentos aos fatores de risco que, em poucas horas, podem levar ao desenvolvimento dessas lesões em pacientes hospitalizados. É, portanto, um problema que merece atenção especial dos profissionais e gestores de saúde.</div><div class="Conteudo">Neste estudo, procurou-se conhecer a realidade dos cuidados de enfermagem e as condições disponíveis para prevenir UP em pacientes hospitalizados em uma unidade de CM de uma instituição hospitalar pública brasileira.</div><div class="Conteudo">Os entrevistados apontaram o déficit no número de profissionais de enfermagem, a deficiência de recursos materiais e a falta de protocolos específicos para a prevenção de UP como importantes dificuldades para promover uma assistência de enfermagem eficaz e de boa qualidade na prevenção dessas lesões. Observou-se que o desconhecimento de alguns profissionais acerca de algumas práticas preventivas também pode ser prejudicial à qualidade do cuidado. A participação dos familiares/acompanhantes dos pacientes foi apontada como um fator facilitador no cuidado preventivo de UP. Acredita-se que a implementação de programas educacionais voltados aos profissionais de saúde, gestores e cuidadores deve ser vista como ferramenta importante para a melhoria de qualidade da assistência, pois o conhecimento acerca do problema e de seus fatores de risco pode contribuir satisfatoriamente para a redução da incidência de UP, evitando danos aos pacientes hospitalizados e custos hospitalares dispensados para o tratamento dessas lesões. A adoção de protocolos de prevenção específicos para UP constitui-se em medida igualmente importante e complementar e, como tal, deve ser considerada pelas instituições.</div><p><strong><br /></strong></p>}, number={2}, journal={Estima – Brazilian Journal of Enterostomal Therapy}, author={Rios, Luzana Cirqueira and Velôso, Ivis Braga Pereira}, year={2016}, month={Mar.} }