Artigo Original 1 - Perfil Profissional de Enfermeiros Estomaterapeutas Egressos da Universidade de Taubaté

Authors

  • Mirela de Souza Chaves Dias Enfermeira. Especialista em Estomaterapia pela Universidade de Taubaté.
  • Maria Angela Boccara de Paula Enfermeiro Estomaterapeuta TiSobest .Professor Assistente Doutor do Departamento de Enfermagem, Coordenador do curso de especialização em Estomaterapia e Docente do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Humano da Universidade de Taubaté.
  • Ana Beatriz Pinto da Silva Morita Enfermeiro Estomaterapeuta. TiSobest. Coordenador do curso de especialização em Enfermagem em Estomaterapia da Universidade de Taubaté e do curso de Enfermagem da Faculdade Teresa D’Avila em Lorena

Abstract

Introdução: O enfermeiro especialista em estomaterapia é definido como aquele que possui conhecimento específico e habilidades para cuidar de pessoas estomizadas, com feridas agudas e crônicas, fístula e incontinência anal e urinária. Objetivo: caracterizar o perfil profissional dos enfermeiros egressos do Curso de especialização em Enfermagem em Estomaterapia da Universidade de Taubaté. Método: Estudo descritivo com abordagem quantitativa. Coleta de dados ocorreu por meio de questionário semiestruturado contendo 15 perguntas enviado por correio eletrônico para 148 enfermeiros, porém apenas 30 profissionais responderam correspondendo ao quantitativo final de pós-graduados em estomaterapia, entre os anos de 2001 a 2011. Resultados: predomínio do gênero feminino 96,6% (29), 66,6% (20) estava acima de 36 anos. Todos já atuaram na área de estomaterapia, (93,3% (28) permaneciam atuando, destes 73,3% (22) com menos de dez anos de atuação. Dezessete (55,11%) participantes trabalharam ou trabalhavam em hospitais. As áreas assistencial, de ensino e pesquisa foram as mais relatadas pelos estomaterapeutas. Todos pretendiam permanecer na área e, destes 66,6% (20) referiram estar satisfeitos, 86,6% (26) dos participantes realizavam cursos de atualização regularmente e destes, 69,9% (21) referiram frequentá-los no mínimo duas vezes ao ano. Não havia aposentados no grupo. Conclusão: os estomaterapeutas participantes na maioria tinham menos de dez anos de atuação, permaneciam satisfeitos com a especialidade, sendo o trabalho predominante realizado em hospitais na qualidade de enfermeiros assistenciais e permaneciam se atualizando.Descritores: Mercado de trabalho. Enfermagem. Especialidades de enfermagem.AbstractThe enterostomal therapy nurse has specific knowledge and skills to care for ostomy patients and those with acute and chronic wounds, fistulae, and anal and urinary incontinence. Objective: To determine the professional profile of nurses who had completed the specialization program in enterostomal therapy nursing at the University of Taubaté. Methods: This was a quantitative descriptive study. Data were collected through a semi-structured 15-item questionnaire sent by e-mail to 148 nurses who graduated in enterostomal therapy from that institution between 2001 and 2011; however, only 30 professionals responded to the survey, corresponding to the final sample. Results: Most respondents were women (96.6%, n =29) and aged 36 years or older (66.6%, n = 20). All participants had worked in enterostomal therapy; 28 remained working in the area and 22 (73.3%) of them had less than 10 years of experience. Seventeen (55.11%) respondents had worked or were working in hospitals. The nurses reported being engaged mostly in patient care, teaching or research. All participants intended to stay in the area, 20 (66.6%) were satisfied with their field of work, 26 (86.6%) reported taking refresher courses regularly and 21 (69.9%) of them attended such courses at least twice a year. None was retired. Conclusion: Most participating enterostomal therapy nurses had less than ten years of experience, were satisfied with their field of work, had worked in hospitals as attending nurses, and regularly took refresher courses.Descriptors: Job market. Nursing. Nursing specialties.ResumenIntroducción: El enfermero especialista en estomaterapia se define como aquel que tiene conocimientos y habilidades específicas para cuidar de pacientes ostomizados con heridas agudas y crónicas, fístulas e incontinencia anal y urinaria. Objetivo: determinar el perfil profesional de las enfermeras egresadas del curso de especialización en Enfermería en estomaterapia de la Universidad de Taubaté. Método: Estudio descriptivo con abordaje cuantitativo. Los datos fueron recolectados a través de un cuestionario semi-estructurado con 15 preguntas enviadas por correo electrónico a 148 enfermeras, de las cuales, sólo 30 profesionales respondieron, correspondiendo a la cantidad final de post-graduados en estomaterapia entre los años de 2001 a 2011. Resultados: predominio del sexo femenino 96,6% (29), 66,6% (20) eran mayores de 36 años. Todos han trabajado en el área de estomaterapia, 93,3% (28) seguían trabajando, el 73,3% de ellos (22) tenían menos de diez años de actuación. Diecisiete (55,11%) participantes trabajaron o trabajaban en los hospitales. Las áreas asistencial, docente y de investigación fueron las más reportadas por los estomaterapeutas. Todos pretendían permanecer en esa área y, de ellos, el 66,6% (20) refirió estar satisfecho, el 86,6% (26) de los participantes realizaban regularmente cursos de actualización y de éstos, 69,9% (21) informaron frecuentar su curso mínimamente dos veces por año. Conclusiones: La mayoría de los participantes tenían menos de diez años de actuación y estaban satisfechos con la especialidad, trabajando principalmente en los hospitales, como enfermeras asistenciales, y seguían actualizándose.Palabras clave:Mercado de trabajo. Enfermería. Especialidades de enfermería.IntroduçãoA Enfermagem desde seus primórdios vem percorrendo uma trajetória evolutiva, desde a assistência prestada pelos religiosos até a Enfermagem Moderna, com Florence Nightingale, seguida pelos teoristas de Enfermagem que fundamentam a assistência, o ensino e a pesquisa¹.A Enfermagem têm se esforçado para criar seu corpo próprio de conhecimentos, estabelecendo-se como uma disciplina no cuidar do ser humano².A escolha de uma especialidade é um importante momento de transformação pessoal e social. À medida que há o avanço da tecnologia, abrem-se novos campos de atuação exigindo-se o aprendizado especializado³.As especializações em enfermagem são fundamentais para estimular o aprimoramento, a competência e a realização de pesquisas, abrindo novos campos para os enfermeiros². O enfermeiro especialista é aquele que tem o domínio frente às teorias, flexibilidade no uso das mesmas, o saber agir nas reais necessidades do cliente, das relações com outras áreas, utilizam a intuição, o raciocínio e a experiência do próprio cliente².O enfermeiro especialista em estomaterapia é definido como aquele que possui conhecimento específico e habilidades para cuidar de pessoas estomizadas, com feridas agudas e crônicas, fístula e incontinência anal e urinária³.A história do início da estomaterapia é dividida em duas dimensões temporais: a primeira, da idade antiga até o ano de 1949 e a segunda, da década de 1950 até a atualidade, quando evolui como especialidade. A primeira dimensão temporal passa a delinear o perfil geral da estomaterapia e engloba dois eventos: a evolução das técnicas cirúrgicas em estomas e a criação de dispositivos para uso de pessoas estomizadas. A segunda dimensão temporal destaca-se além da continuidade dos avanços técnicos e científicos da abertura de estomas, evolução tecnológica dos dispositivos, há também a formação de grupos de pessoas estomizadas4.Em 1955, na segunda dimensão temporal, apareceu o primeiro relato da enfermagem com relação ao cuidado de pessoas com estomas de Elise Sorense, enfermeira dinamarquesa, que inventou a primeira bolsa adesiva descartável, composta de bolsa confeccionada de plástico e tendo óxido de zinco na superfície adesiva. Esta bolsa foi manufaturada pela empresa Coloplast e bem aceita pelas pessoas estomizadas4.Nesta época notou-se que o estomizado necessitava muito mais do que uma boa e efetiva técnica cirúrgica para a reabilitação, mas também era necessária atenção aos aspectos relacionados com os cuidados pós-operatórios, balanço hidroeletrolítico, sexualidade, ajustamento à nova condição, manuseio da bolsa e controle da dor. Tudo isso levou Rupert Turnbull, médico cirurgião, a convidar uma de suas pacientes, Norma Gill que para auxiliá-lo nessa atividade, já que era ileostomizada devido à retocolite ulcerativa e tinha cuidado durante dois anos de sua avó colostomizada por câncer de reto. Então em 1958, Turnbull contrata Norma Gill para atuar na Cleveland Clinic Foundation (EUA) como “técnica em estomia”, surgindo oficialmente a estomaterapia5.A partir deste momento Cleveland Clinic torna-se um centro de treinamento, em 1961 foi aberto o primeiro curso de estomaterapia oficial do mundo, os primeiros alunos foram estomizados e algumas enfermeiras, e tinha ênfase nos aspectos práticos do cuidado5.Em 1968, por sugestão do Dr Turnbull com apoio de Norma Gill fundou-se a primeira organização de estomaterapeutas através da NorthAmerican Association of Enterostomal Therapists (NAAET) e em 1971, International Association for Enterostomal Therapy (IAET), que atualmente é a Wound, Ostomy and Continence Nursing Society (WOCN). Neste tempo também se formaram outros cursos em vários outros países5.A primeira associação de pessoas estomizadas criada oficialmente foi em 1962 em Cleveland com o apoio de Norma Gill e Turnbull denominada United Ostomy Association (UOA). Na década de 1970, as associações de estomizados ajudaram a construir a Estomaterapia como especialidade em todo mundo. A organização destas pessoas foi desenvolvida para suprir a falta de recursos humanos e materiais especializados e/ou como continuidade da assistência profissional estabelecida somente no âmbito hospitalar, o que ajudou no processo de reabilitação das pessoas estomizadas4.Em 1975 foi criada a International Ostomy Association (IOA), na América Latina, a Association Latinoamericana de Ostomizados (ALADO). No Brasil foi criada também, em 1975, o Clube de Colostomizado do Brasil em Fortaleza. Em 1985 foi fundada a Sociedade Brasileira de Ostomizados (SBO), o que auxiliou no fortalecimento das associações que passaram a conseguir benefícios como a compra e distribuição de dispositivos junto ao governo federal4.Como o interesse pela estomaterapia, como especialidade espalhava-se no mundo, em 1978 surge a idéia de constituir um órgão representativo, internacional, surgindo então o World Council of Enterostomal Therapists – an association of nurses (WCET), que tem como objetivo promover a identidade da especialidade e proporcionar a troca de informações entre especialistas que possibilita além do desenvolvimento técnico e científico na área, a padronização de condutas e técnicas, que visa a melhoria da qualidade do desempenho do especialista, e assim, consequentemente, a qualidade da assistência prestada à pessoa estomizada, bem como para a pessoa com feridas de qualquer natureza e de incontinência anal ou urinária¹.A estomaterapia no Brasil destacou-se por três importantes marcos: a formação dos primeiros estomaterapeutas, a criação do curso de Especialização em Enfermagem em Enfermagem em Estomaterapia e a fundação da Sociedade Brasileira de Estomaterapia: ostomias, feridas e incontinências, a SOBEST4.Na década de 80 alguns enfermeiros foram para países como Estados Unidos, Colômbia e Espanha em busca de conhecimento especializado e trouxeram este conhecimento, motivando outros enfermeiros no trabalho com estomizados, organizando a assistência especializada em hospitais e ambulatórios da rede pública e assim, colaboraram para o desenvolvimento da especialidade no Brasil5.Em 1990 foi criado o primeiro curso de Especialização latu sensu em Enfermagem em Estomaterapia, na Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP) e tem sua programação com carga teórico-prática mínima de (360h), baseado nas normas e padrões exigidos pelo WCET, sendo reconhecido pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), Conselho Federal de Educação e de Enfermagem, bem como pela SOBEST e WCET4.Um marco da estomaterapia brasileira, em 1992 foi a fundação da SOBEST, entidade científica e cultural, que realiza eventos como jornadas, simpósios, congressos, cursos em todo o Brasil e está aberta a todos os profissionais que atuam na área.Em 2003 criou a Revista Estima, veículo oficial de divulgação da especialidade que trata dos conhecimentos científicos e atuais da estomaterapia. A SOBEST contribui na regulamentação das atribuições das atividades do estomaterapeuta e dos cursos de especialização no país5,6.Desde a criação do primeiro curso de Especialização em Enfermagem em Estomaterapia no Brasil, devido ao incentivo dos enfermeiros que se especializaram na área e a grande demanda de pessoas estomizadas, com feridas agudas ou crônicas e incontinência, levou a criação de outros cursos. Em 1999 em Fortaleza surgiu o 2º curso do país e, em 2000, na Universidade de Taubaté (UNITAU), em São Paulo5.A criação desses cursos contribuiu para o aumento do número de enfermeiros especialistas. Atualmente o Brasil possui dezesseis cursos de Especialização em Enfermagem em Estomaterapia, sendo doze devidamente credenciados pelo WCET e referendados pela SOBEST e quatro em processo de análise6.No Brasil, a criação dos cursos de especialização também contribuiu para a melhoria da qualidade da assistência prestada proporcionando amadurecimento da assistência, ensino, pesquisa, assessoria e consultoria, ampliando o leque de funções do especialista, além de estimular a organização e representação da classe através da SOBEST, fortalecendo a especialidade4,5.A estomaterapia é uma especialidade em expansão e possui crescimento no mercado nacional por atuar em várias áreas, não apenas nas atividades assistenciais, como também de ensino, pesquisa, administração, vendas, assessoria e consultoria. O estomaterapeuta pode atuar em serviços públicos, privados, ambulatórios, clínicas, consultórios médicos, consultórios especializados em Estomaterapia, assistência domiciliária e tem a possibilidade de ter seu próprio empreendimento6.Com o aumento dos cursos de Estomaterapia no Brasil, não se sabe onde estão os profissionais e se estes atuam na especialidade. Diante desta realidade surgiram alguns questionamentos que fomentaram a realização deste estudo: Os enfermeiros estomaterapeutas atuam na especialidade após o curso? Em que área da especialidade?Atuam na assistência, ensino, pesquisa, auditoria, consultoria e assessoria técnica?ObjetivoCaracterizar o perfil profissional dos enfermeiros egressos do Curso de especialização em Enfermagem em Estomaterapia da UNITAU.MétodosEstudo descrito, com abordagem quantitativa, realizado na Pró-Reitoria de Pesquisa e pós-graduação da Universidade de Taubaté. Participaram do estudo 30 enfermeiros que receberam o certificado de conclusão de curso de especialização em Enfermagem em Estomaterapia pela UNITAU. A Coleta de dados foi realizada por meio de questionário contendo duas perguntas abertas e 13 fechadas, enviado via correio eletrônico a 148 enfermeiros, porém apenas 30 profissionais responderam, correspondendo ao quantitativo final de pósgraduados em estomaterapia participantes, entre os anos de 2001 a 2011. O questionário foi devolvido pelo mesmo meio que foi enviado, juntamente com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Cabe ressaltar que os enfermeiros que não possuíam email cadastrado nos registros do curso, foram contatados via telefone para atualizar endereço eletrônico. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética e pesquisa da Universidade de Taubaté (CEP nº 550/11), após aprovação foi encaminhado ofício solicitando autorização a Pró-reitoria de Pesquisa e pós-graduação para busca dos contatos no banco de dados da secretaria do curso. Assim que autorizado foi realizado o levantamento dos ex-alunos e realizado o contato.Resultados e DiscussãoNo que tange ao abordar gênero dos participantes obteve-se 3,3% (1) de homens e 96,6% (29) de mulheres, fato que corrobora com o encontrado na literatura, pois não se pode desconsiderar a formação histórica da profissão. Sabe-se que continua sendo predominantemente feminina e, não poderia ser diferente na especialidade de estomaterapia, ainda que o número de homens em seu quadro profissional tenha aumentado a profissão, por vezes, é encarada como de “essência feminina” 7,8.No tocante a idade dos enfermeiros participantes do estudo 50% (15) estava entre 36 a 50 anos, enquanto que 16,6% (5) estavam acima de 51 anos. Na faixa etária entre 26 a 35 anos havia 33,3% (10). O fato de 66,6% (20) dos enfermeiros estarem com mais de 36 anos pode estar relacionado a dados que indicam que os universitários hoje incluem proporções significativas de alunos mais velhos 9,10,11.O curso de pós-graduação em estomaterapia praticamente manteve o número de alunos por turma em um recorte de tempo de dez anos. A frequência a um curso de pós-graduação pode estar relacionada ao desejo de alcance de um diferencial na obtenção de uma colocação no mercado de trabalho e assunção a determinados cargos. E ainda devido às demandas do mercado de trabalho, especialmente dos grandes centros. Vinte e três enfermeiros participantes (76,6%) atuavam em São Paulo, três (10%) no Rio de Janeiro e quatro (13,3%) em Minas Gerais. Importante ressaltar que 100% trinta permaneciam na região sudeste.Vinte o oito (93,3%) dos enfermeiros estavam atuando na área de estomaterapia e, destes 33,3% (10) como mostra a tabela 2 com tempo de até 10 anos. Os cenários peculiares da área hospitalar e de atenção primária à saúde deixam de ser exclusivos do mercado de trabalho e avocam para uma atuação de variadas possibilidades de expansão, tanto no âmbito da abrangência quanto ao direcionamento dos processos de trabalho pelo enfermeiro. Momento em que o profissional vivencia sua autonomia12São exigências do mercado de trabalho profissionais muito qualificados, com autonomia para tomada de decisões, competentes para rapidamente incorporar tecnologias, e responsabilizar-se por dar respostas aos problemas dos mais diferentes processos de produção e cursos de pós-graduação pode ser uma estratégia para tal13.A experiência profissional, o envolvimento institucional e a estabilidade adquirida pelo tempo de serviço são fatores que estimulam nos profissionais em permanecer na instituição ou em uma área de atuação. A tabela 2 mostra que 26,6% (8) dos enfermeiros tinham mais de 11 anos de atuação na área. E ainda, o tempo de trabalho pode estar relacionado a experiência, a proposta de trabalho de uma instituição e satisfação individual. Fatos relevantes, haja vista que, impactaram na saída de 6,6% (2) dos enfermeiros da área como evidenciado na tabela 3 e 614.O fato de 6,6%, ou seja, dois enfermeiros não estarem atuando na área pode ser reflexo de conflitos decorrentes da visão histórica da profissão, da estrutura de poder organizacional expressa por políticas, leis e regras, aparentemente impessoais, mas que referendam e garantem o poder de grupos dominantes que ainda estão presentes no imaginário da sociedade. Conflitos que clamam por atitudes mais apropriadas ao desenvolvimento da autonomia pelo enfermeiro, para que aos poucos esse imaginário popular não tenha sustentação na prática12. O trabalho de enfermagem como instrumento do processo de trabalho em saúde, subdivide-se ainda em vários processos de trabalho como: cuidar/assistir, administrar/gerenciar, pesquisar e ensinar. Mesmo na especialidade há como atuar em vários desses campos como vemos na tabela 4. Dentre esses, o cuidar e o gerenciar são os processos mais evidenciados no trabalho do enfermeiro pois permeiam por serem necessários no objeto da enfermagem. As atribuições específicas do enfermeiro são oficializadas na lei nº 7.498/86, que regulamenta o exercício profissional da enfermagem. Portanto consultórios médicos ou clínicas não têm despertado o interesse dos profissionais, o que pode estar ligado à autonomia, proposta de trabalho ou satisfação profissional. A chefia de serviço e unidade de enfermagem, planejamento, organização, coordenação, execução e avaliação dos serviços de assistência de enfermagem, consultoria e auditoria, além dos cuidados diretos de enfermagem a clientes são o foco dos enfermeiros15.É imprescindível considerar que o conhecimento de como têm sido absorvidos os profissionais da saúde, em particular da enfermagem, constitui parâmetro importante para as instituições de ensino que têm o papel de formar pessoas para atender não somente o mercado de trabalho, mas também para responder às demandas sociais e de saúde e, especialmente, contribuir para a transformação da sociedade. A área hospitalar pelo que foi evidenciado no estudo absorveu ou absorve ainda a maior parte dos enfermeiros num total representando por 55,11 % (17)16.Num mundo em constante transformação, acessar um espaço para ascensão social e econômica é um desafio, principalmente porque se observa que as mudanças ocorridas com o desenvolvimento científico e tecnológico e com a globalização da economia têm afetado o mercado de trabalho. As inovações tecnológicas e organizacionais e o acirramento da competição internacional e nacional têm interferido na capacidade de absorção da oferta de novos trabalhadores, assim como na qualidade da inserção ocupacional. Os profissionais que se encontram preparados para um constante aprimoramento e para a criação de propostas que diferenciem o produto no qual trabalham são prestigiados16.Dez (33,3%) demonstraram insatisfação com a área. As justificativas para tal afirmativa pode estar no fato de a maioria das instituições de saúde do nosso país ser caracterizadas pela baixa remuneração, excesso de trabalho, trabalho por turnos, precariedade dos recursos materiais, insuficiência de recursos humanos, insegurança no trabalho, dificuldades de comunicação e de relacionamentos. Isso tudo faz com que o profissional entre em sofrimento psíquico. O elevado percentual associado ao que encontramos na literatura refletindo sobre as condições de trabalho podem ter relação com o elevado número de enfermeiros que atuam em área hospitalar, 40.7% (12)17.No entanto, 66,6% (20) dos enfermeiros estavam satisfeitos com o mercado e 100% (30) deles pretendiam continuar atuando. Para prosseguir na área e ter satisfação um dos pilares mais importantes é o exercício da autonomia que é imprescindível no mercado de trabalho, que tem como pano de fundo as transformações que vêm ocorrendo com o trabalho do enfermeiro no mundo globalizado. Assim, permitindo ao enfermeiro exercer a autonomia que detém com criatividade e resolutividade, consequentemente havendo seu crescimento como profissional12.O investimento na capacitação profissional pode estar contribuindo para que 13,3% (4) dos enfermeiros não tivessem feito curso de atualização com regularidade na área. O dado nos remete a refletir sobre três aspectos, primeiro que a capacitação pode ser base para uma colocação no mercado e consequentemente pode reverter o que evidenciamos na tabela 7 onde 33,3% (10) demonstraram insatisfação com o mercado. Em segundo lugar, que pode não estar ocorrendo à capacitação dos enfermeiros regularmente justamente pelo aspecto financeiro. Afinal 100% (30) estavam atuando em estados circunvizinhos e com grande concentração de cursos e eventos científicos. E por último, os dados na tabela 3 onde 6,6% (2), não atuavam na área, portanto provavelmente não estavam se capacitando regularmente18.Buscar cursos na área de atuação é almejar ter competência profissional que é a capacidade de mobilizar e articular conhecimentos, colocar valores e habilidades em ação, necessários para o desempenho eficiente e eficaz de atividades requeridas pela natureza do trabalho e para a resposta aos problemas e situações de imprevisibilidade em dada situação e contexto cultural e 86,6% (26) dos enfermeiros tinham esse entendimento e afirmaram que faziam cursos19.A educação permanente constitui estratégia fundamental às transformações do trabalho para que venha a ser lugar de atuação crítica, reflexiva, propositiva, compromissada e tecnicamente competente, transformando o trabalho em um espaço democrático, onde todos são responsáveis por ensinar e aprender. São 21 enfermeiros representando 69,9% (17) com participação em no mínimo dois cursos por ano na área, ou 16,6% (5) com frequência superior a três cursos por ano12.ConclusãoOs estomaterapeutas participantes na maioria tinham menos de dez anos de atuação, permanecia satisfeita com a especialidade, grande parte estava trabalhando em hospitais como enfermeiros assistenciais e continuava se capacitando mesmo após o término do curso de especialização.

Downloads

Download data is not yet available.

References

Cesaretti IUR, Filippin MJ, Santos VLCG. Tendências em Estomaterapia. In: Santos VLCG, Cesaretti IUR. Assistência e Estomaterapia: cuidando do ostomizado. São Paulo: Editora Atheneu; 2000.p. 479-494.

Cianciarullo TI. Especialização: a Contextualização do Futuro da Enfermagem. In: Santos VLCG, Cesaretti IUR. Assistência e Estomaterapia: cuidando do ostomizado. São Paulo: Editora Atheneu; 2000.p. 471-479.

Boccara de Paula MA, Santos VLCG. O Significado de Ser Especialista para o Enfermeiro Estomaterapeuta. Rev latinoam enfermagem 2003; 11(4): 474-482.

Cesaretti IUR, Dias SM. Estomaterapia: Uma Especialidade em Evolução. Acta Paul Enf 2002; 15(4): 79-86.

Santos VLCG. A Estomaterapia Através dos Tempos. In: Santos VLCG, Cesaretti IUR. Assistência e Estomaterapia: cuidando do ostomizado. São Paulo: Editora Atheneu; 2000.p. 1-17.

Associação Brasileira de Estomaterapia. Disponível em: URL: h t t p : / / w w w . s o b e s t . c o m . b r / index.php?option=com_content&task=view&id=9. Acessado em: fevereiro 2013.

Waldow VR. Cuidar: expressão humanizadora da enfermagem. 2ª ed. Petrópolis: Vozes; 2007.

Lopes MJM. O sexo do hospital. In: Lopes MJM, Meyer DE, Waldow VR. Gênero e Saúde. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. p. 76-105.

Birelo E, Domenico L.D, Aparecida C. As competências do graduado em enfermagem: percepções de enfermeiros e docentes. Costardi Ide Acta Paul Enferm 2006; 19(4): 394- 40.

Lopes GFJ, Ferraz BER. Caracterización del estrés en las enfermeras de unidades de cuidados intensivos. Rev. esc. enferm. USP, 2008 June ; 42(2): 355-362.

Dias SM, Cesaretti IUR. O Enfermeiro Estomaterapeuta e a Assistência em Estomaterapia: Emoções Representativas de Sofrimento e Prazer. Rev. Estima 2005; vol 3 (2).

Zanoto KF, Custódio DM de L, Elaine KD. Autonomia e trabalho do enfermeiro. Rev. Gaúcha Enferm. 2011 Set; 32(3): 487-494. Disponível em: http://www.scielo.br/ scielo.php

Alva HA, Cássia BS. Ensino de educação do curso de graduação de enfermagem. Ver Brás. Enferm vol 63 n1 brasilia jan 2010.

Formiga JMM, Germano RM, Vilar RLA, Dantas SMM. Perfil do enfermeiro/aluno do curso de especialização PROFAE/ RN; 2005. Disponível em: http:// www.observatorio.nesc.ufrn.br/texto_perfil05.pdf.

Brasil. Lei n. 7.498, de 25 de junho 1986. Dispõe sobre a regulamentação do exercício de enfermagem e dá outras providências. Diário Oficial da União, 26 jun 1986. Seção 1, p. 9.273-5

Puschel VA de A, Inacio MP, Pucci PPA. Inserção dos egressos da Escola de Enfermagem da USP no mercado de trabalho: facilidades e dificuldades. Rev. esc. enferm. USP, São Paulo, v. 43, n. 3, set. 2009. Disponível em <http://www.scielo.br/ scielo. php.

Matsuda LM, Fonseca SC, Trigo IMR, Ferel SM. O cuidado de quem cuida: reflexões acerca da (des) humanização do enfermeiro. Nursing (São Paulo). 2007; 10(109): 281-6.

Santos I, Castro CB. Características pessoais e profissionais de enfermeiros com funções administrativas atuantes em um hospital universitário. Rev. esc. enferm. USP. 2010 Mar; 44(1): 154-160.

Peres AM, Ciampone MHT. Gerência e competências gerais do enfermeiro. Texto Contexto Enferm. 2006; 15(3):492-9.

Published

2016-03-23

How to Cite

1.
Dias M de SC, Paula MAB de, Morita ABP da S. Artigo Original 1 - Perfil Profissional de Enfermeiros Estomaterapeutas Egressos da Universidade de Taubaté. ESTIMA [Internet]. 2016 Mar. 23 [cited 2024 Nov. 11];12(3). Available from: https://www.revistaestima.com.br/estima/article/view/92

Issue

Section

Article

Most read articles by the same author(s)

1 2 3 > >>