Artigo Original 1 - A Construção do Conhecimento dos Enfermeiros Perante a Nova Classificação da Úlcera por Pressão

Authors

  • Lívia Gomes Marques Enfermeira. Especialista em Estomaterapia pela UERJ. Enfermeira líder do HUPE/UERJ e do Hospital Pró Cardíaco.
  • Manoel Luís Cardoso Vieira Enfermeiro. Especialista em Enfermagem do Trabalho pela Escola de Enfermagem Luiza de Marillac. Professor Substituto do Departamento Médico Cirúrgico da Faculdade de Enfermagem da UERJ e líder de equipe no HUPE/UERJ.
  • Sandra Regina Maciqueira Pereira Enfermeira. Doutoranda em Enfermagem. Professora Assistente do Departamento Médico Cirúrgico da Faculdade de Enfermagem da UERJ. Enfermeira do Hospital Pró Cardíaco.

Abstract

ResumoEste estudo emergiu de observações e diálogos com os enfermeiros a respeito das dificuldades na classificação de úlceras por pressão. Os objetivos são identificar o conhecimento dos enfermeiros acerca da classificação de úlceras por pressão e descrever a adaptação dos enfermeiros à nova classificação das úlceras por pressão. Trata-se de um estudo descritivo-exploratório, com abordagem qualitativa, realizado nas enfermarias de clínica médica geral de um hospital universitário. A população entrevistada foi constituída de 18 enfermeiros que prestam assistência aos pacientes com úlceras por pressão. Observou-se que esses enfermeiros obtiveram um índice acima de 50% de acerto na classificação das úlceras por pressão; observou-se também que esse percentual subiu para mais de 80% quando os enfermeiros possuem cursos de especialização. Foi constatado que, para ocorrer a produção do conhecimento, são necessárias sucessivas aproximações. Pode-se perceber que quando o ser humano está diante de um novo saber, ele negligencia os saberes já consolidados e comete equívocos. Todos os sujeitos foram unânimes ao considerar que a nova classificação de úlceras por pressão trouxe benefícios para o cuidado e que o conhecimento prévio de uma classificação facilita o aprendizado de uma nova proposta. Conclui-se que esses enfermeiros obtiveram uma adaptação a essa nova classificação de úlceras por pressão; entende-se também que essa nova classificação traz benefícios para a vida profissional dos mesmos, podendo garantir uma melhor qualidade na assistência ao paciente.Descritores: Úlceras por pressão. Enfermagem. Conhecimento.AbstractThis study emerged from observations and conversations with nurses about the difficulties in classifying pressure ulcers. We
aimed at identifying the nurses’ knowledge of pressure ulcer classification and at describing their adaptation to the new pressure
ulcer classification. This quantitative, descriptive and exploratory study was conducted in general medical wards of a university
hospital. The sample consisted of 18 nurses who provided care to patients with pressure ulcers. The percentage of correct
classifications of pressure ulcers was above 50%, and this percentage increased to 80% when nurses had specialization. We
found that knowledge is required through successive approximation. One can see that when individuals are exposed to a new
knowledge they neglect the knowledge already established and make mistakes. All participants considered that the new pressure
ulcer classification has brought benefits for patient care and that a previous knowledge of pressure ulcer staging facilitates the learning of a new classification. It was concluded that these nurses became adapted to the new pressure ulcer classification, and that this classification brought benefits to their professional life and can result in better quality of patient care.Descriptors: Pressure Ulcers. Nursing. Knowledge.ResumenEste estudio surgió a partir de observaciones y conversaciones con las enfermeras acerca de las dificultades con la clasificación de las úlceras por presión. Los objetivos fueron: identificar el conocimiento de las enfermeras sobre la clasificación de las úlceras por presión y describir la adaptación de las enfermeras a la nueva clasificación de las úlceras por presión. Se trata de un estudio descriptivo – exploratorio con abordaje cualitativo. Fue realizado en el servicio de internación de medicina general de un hospital docente. La población entrevistada fue constituida por 18 enfermeros que atendían a pacientes con úlceras por presión. Se observó que estos enfermeros obtuvieron un índice superior a 50% de aciertos en la clasificación de las úlceras por presión y también se observó que los puntajes de los enfermeros que realizaron cursos de especialización fue superior al 80%. Se constató que para producir conocimientos se requiere aproximaciones sucesivas. También fue posible verificar que cuando los seres humanos se enfrentan a un nuevo conocimiento, no tienen en cuenta los conocimientos ya aprendidos y cometen errores. Hubo unanimidad en las respuestas de los sujetos al reconocer que la nueva clasificación de las úlceras por presión trajo beneficios para
el cuidado, y que el conocimiento previo de esa nueva clasificación de úlceras facilita el aprendizaje de una nueva propuesta. Se concluye que estos enfermeros se adaptaron a esta nueva clasificación de las úlceras por presión, así también se reconoce los beneficios que trajo esta nueva clasificación para su vida profesional garantizando una mejor calidad en la atención de los pacientes.Palabras clave: Úlceras por Presión. Enfermería. Conocimiento.IntroduçãoO objeto deste estudo foi a adaptação à nova classificação de úlceras por pressão por enfermeiros de unidades de clínica médica de um Hospital Universitário.O conhecimento é imprescindível à produção de nossa existência. Os seres humanos necessitam conhecer para poder entender o mundo, para averiguar os fatos, para poder discernir o certo do errado, para buscar a verdade, para interpretar e transformar o mundo. O conhecimento é, portanto, uma ferramenta essencial para que a sociedade possa fazer intervenções1.Para que ocorra a construção do conhecimento, é necessário que aconteçam ações de ordem física e/ou mental sobre objetos que levam ao desequilíbrio, resultando assim tanto em assimilação ou acomodação dessas ações quanto em construção de esquemas ou conhecimentos2. Dessa forma, quando a pessoa não consegue assimilar o estímulo, ela tenta fazer uma acomodação desse novo conhecimento, ocorrendo, em seguida, uma assimilação; somente após essa etapa, o equilíbrio é alcançado.Assim, entende-se que a assimilação do conhecimento é o processo cognitivo pelo qual uma pessoa integra (classifica) um novo dado perceptual, motor ou conceitual às estruturas cognitivas prévias3. E o próprio Piaget2 diz que assimilação é (...) uma integração às estruturas prévias, que podem permanecer invariáveis ou são mais ou menos modificadas por esta própria integração, mas sem descontinuidade com o estado precedente, isto é, sem serem destruídas, mas simplesmente acomodando-se à nova situação.Sendo assim, o ser humano tenta continuamente adaptar os novos estímulos recebidos aos esquemas que ele já possui até aquele momento. No entanto, em alguns casos, essa acomodação não ocorre, pois a pessoa não consegue assimilar o estímulo novo, ou seja, não existe uma estrutura cognitiva que assimila a nova informação em função das particularidades do novo estímulo1, 4.Atualmente, observa-se uma grande busca por conhecimentos, sendo um reflexo disso a ampliação de cursos de pós-graduação voltados tanto para áreas especializadas como gerais, demonstrando a consciência da importância de uma educação continuada. Porém, muitos ainda encontram obstáculos quanto à aprendizagem e à assimilação do conhecimento.O conhecimento sobre as UP por parte dos profissionais que prestam cuidados aos pacientes é fundamental para a qualidade do cuidado prestado, pois a assistência prestada será prejudicada se a habilidade e o conhecimento estiverem sendo utilizados inadequadamente5. A classificação sistematizada das UP, baseada na perda tissular e profundidade anatômica, é um fator importante no processo avaliativo e preventivo do paciente com esse tipo de lesão. Dentre as classificações existentes para UP, aquela desenvolvida pela National Pressure Ulcer Advisory Panel (NPUAP)6 tem se constituído em ferramenta objetiva que oferece ao profissional alguns subsídios a fim de possibilitar a efetividade do tratamento e avaliação da evolução da lesão. Assim, a utilização dessa ferramenta propicia uma abordagem sistematizada para o tratamento das feridas crônicas7.Úlcera por pressão é uma lesão localizada na pele e/ou no tecido ou estrutura subjacente, geralmente sobre uma proeminência óssea, resultante de pressão isolada ou de pressão combinada com cisalhamento6.Vale ressaltar que, além da classificação adotada pelo NPUAP, outra bastante utilizada é aquela estabelecida pelo European Pressure Ulcer Advisory Panel (EPUAP), mais conhecida como Pressure Ulcer Classification (PUCLAS), já em sua segunda versão e com tradução para o português. Sua principal característica diferenciadora é a utilização de quatro categorias, denominadas graus8. Esta não será abordada neste artigo.Ao longo de alguns anos, devido a muitas semelhanças existentes entre as classificações de UP por categorias ou por graus, os membros do EPUAP e do NPUAP reuniram-se e desenvolveram uma definição e um sistema internacional comuns que pudessem ser empregados internacionalmente. Ambas classificações implicam que há uma progressão dos estágios I ao IV, o que nem sempre ocorre. Ao buscra-se integração entre ambas classificações, sugeriu-se o termo neutro categoria para substituir as palavras estágio e grau, possibilitando, dessa forma, uma designação não hierárquica6.A seguir apresentam-se as categorias conforme estabelecidas pelo NPUAP6, traduzidas e publicadas por Santos e Caliri9:
  • Suspeita de lesão tissular profunda: área localizada de pele intacta com coloração púrpura ou castanha, ou bolha sanguinolenta devida a dano no tecido mole, decorrente de pressão e/ou cisalhamento. A área pode ser precedida por um tecido que se apresenta dolorido, endurecido, amolecido, esponjoso e mais quente ou frio comparativamente ao tecido normal.
  • Categoria I: pele intacta com hiperemia de uma área localizada que não embranquece, geralmente sobre proeminência óssea. A pele de cor escura pode não apresentar esbranquecimento, mas sua cor pode diferir da pele ao redor.
  • Categoria II: perda parcial da espessura dérmica. Apresenta-se como úlcera superficial com o leito de coloração vermelha pálida, sem esfacelo (tecido amarelado, antes denominado fibrina). Pode apresentar-se ainda como uma bolha (preenchida com exsudato seroso), intacta ou aberta/rompida.
  • Categoria III: perda de tecido em sua espessura total. A gordura subcutânea pode estar visível, sem exposição de osso, tendão ou músculo. Esfacelo pode estar presente sem prejudicar a identificação da profundidade da perda tissular. Pode incluir descolamento e túneis.
  • Categoria IV: perda total de tecido com exposição óssea, de músculo ou tendão. Pode haver presença de esfacelo ou escara em algumas partes do leito da ferida. Frequentemente inclui deslocamento e túneis.
  • Úlcera que não pode ser classificada: lesão com perda total de tecido, na qual a base da úlcera está coberta por esfacelo (amarelo, marrom, cinza, esverdeado ou castanho) e/ou há escara (marrom, castanha ou negra) no leito da lesão.
Embora existentes desde a década de 80 e atualizadas nos últimos anos, no Brasil, muitos enfermeiros ainda não se apropriaram desses conhecimentos acerca das classificações das UP, em prol da melhoria da qualidade da assistência de enfermagem, principalmente para a prevenção de tipo tão grave de ferida crônica como as UP. Por meio de observações e diálogos com os enfermeiros, constatou-se que existem, de fato, dificuldades a respeito da classificação das UP, levando a frequentes erros no entendimento das definições das categorias, principalmente no que diz respeito às categorias III e IV. Essas ocorrências podem levar tanto a erros na prescrição de enfermagem, quanto a possíveis agravos ao paciente.Desse modo, considerando-se a importância do conhecimento para a vida profissional do enfermeiro, elaborou-se o seguinte problema de estudo: como os enfermeiros das enfermarias de clínica médica de um hospital universitário da cidade do Rio de Janeiro percebem a inserção da nova classificação de úlceras por pressão (UP) no seu cotidiano de trabalho?Diante disso, as seguintes questões foram levantadas:- Os enfermeiros possuem confiança para classificar as úlceras por pressão?- Os enfermeiros possuem facilidade para se adaptar à nova classificação de úlceras por pressão?Para atender às questões de pesquisa, os seguintes objetivos foram estabelecidos para o presente estudo: identificar o conhecimento dos enfermeiros acerca da classificação de úlceras por pressão e descrever a adaptação dos enfermeiros à nova classificação das úlceras por pressão.A relevância do estudo está pautada no fato de que a classificação precisa das UP é de grande importância para o paciente, para o enfermeiro e para a instituição, pois para o primeiro possibilita uma redução no tempo em que ficará longe de sua família e reduzirá o risco de contrair uma infecção nosocomial; em relação ao segundo, orientará os enfermeiros a um cuidado preventivo, sistemático e individualizado para a clientela que esteja sujeita a essa entidade mórbida; e, por fim, para a terceira, possibilita um melhor atendimento e redução tanto do período de internação em decorrência dessa problemática quanto dos gastos para a solução/cura da úlcera.MétodosEste é um estudo descritivo-exploratório, com abordagem quantitativa. Essa abordagem conhece os fatos e fenômenos da realidade, visando a descrevê-los e interpretá-los, e utilizando, para isso, coleta e ordenação de dados, fundamentadas na racionalidade, na lógica e na probabilidade10. Já a pesquisa descritiva observa, registra, analisa e correlaciona fatos e, dessa forma, acaba por estudar fenômenos e fatos do mundo físico, sem que o pesquisador interfira na realidade11.O campo de estudo constituiu-se de quatro enfermarias de clínica médica geral de um Hospital Universitário, situado na cidade do Rio de Janeiro.A escolha desse local justifica-se por ser um hospital-escola, de grande porte, com grande número de enfermeiros e voltado prioritariamente para o conhecimento e assistência de média e alta complexidade, tendo como missão a responsabilidade pela formação profissional de diferentes categorias profissionais. A clínica médica foi selecionada por ser um setor que possui um contingente maior de pacientes com UP.A coleta de dados foi realizada no período de 21 de outubro a 4 de novembro de 2009, após a aprovação do estudo pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital em questão, sob o parecer número 2446/2009, atendendo à resolução 196/ 96 do CNS/MS12, que normatiza os aspectos éticos em pesquisa com seres humanos. Após a aprovação do Comitê, realizou-se contato com o Serviço de Treinamento da instituição, visando à aderência dos sujeitos; solicitou-se, então, à equipe que os possíveis participantes fossem apresentados aos autores da presente pesquisa. Assim, apresentouse aos sujeitos do estudo o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), contendo: título da pesquisa, objeto, objetivos e demais esclarecimentos a respeito da pesquisa, além de comprometimento dos pesquisadores em sua publicação. Após assinatura do TCLE e sanadas as dúvidas elencadas pelos participantes, deu-se inicio à coleta dos dados, em sala cedida pelo Serviço de Treinamento do Hospital, situado próximo ao local de trabalho dos sujeitos da pesquisa, evitando transtornos de deslocamento e de ausência no ambiente de trabalho.A amostra foi constituída de enfermeiros e residentes em enfermagem, independentemente do tempo de graduados, que atenderam aos seguintes critérios de inclusão: ser contratado ou efetivo do plantão diurno, visto que não existiam, na época da coleta de dados, enfermeiros no período noturno nas unidades selecionadas; estar no efetivo exercício de sua profissão, ou seja, o enfermeiro não poderia estar em férias ou em licença de qualquer natureza (a fim de estar diretamente com a clientela em questão); e aceitar participar voluntariamente da pesquisa. Aos profissionais das demais categorias de enfermagem foram excluídos ao atender-se a Lei 7498/8613, que regulamenta o exercício profissional e expressa, em seu parágrafo 11 - alínea m, serem privativos do enfermeiro os cuidados de enfermagem de maior complexidade técnica, cuidados esses que exijam conhecimento de base científica para a tomada de decisões imediatas.A população do estudo era composta de 18 enfermeiros que prestavam assistência a pacientes com UP no referido hospital, à época da coleta de dados. Desses, dez foram selecionados, pois quatro enquadraram-se no Boletim de Inspeção Médica (BIM), dois não foram encontrados no período determinado previamente para a coleta de dados e dois já haviam participado do teste piloto.Os instrumentos de coleta de dados foram testados previamente com dois enfermeiros da clínica médica do hospital, não sendo consideradas necessárias quaisquer modificações, posteriormente à análise dos resultados. O instrumento de coleta de dados incluiu um primeiro questionário sobre dados sóciodemográficos, com seis itens referentes a faixa etária, perfil profissional e características da formação educacional dos enfermeiros; o segundo formulário consta de 18 itens enumerados, referentes às categorias das UP; e o terceiro referese ao questionário de avaliação da adaptação à nova classificação de UP, composto de seis questões.A coleta de dados ocorreu em cinco fases:Fase 1: Esclarecimento sobre os objetivos da pesquisa e entrega do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para aqueles que aceitaram participar da pesquisa.Fase 2: Preenchimento do questionário de dados sócio-demográficos.Fase 3: Exposição verbal, de 25 minutos de duração, com explicação da nova classificação de UP, proposta pelo NPUAP6,9, utilizando-se apresentação visual, por meio de recurso de multimídia. A apresentação continha 18 imagens de UP, organizadas em arquivo digitalizado no programa Power Point-Microsoft. Cada imagem continha legenda com as características da UP e havia três imagens para cada uma das seis categorias da classificação do NPUAP6,9. Justifica-se o uso da legenda pelo fato de as imagens não se encontrarem em 3D, o que poderia dificultar a categorização das lesões. O tempo utilizado para a apresentação de cada imagem foi de 35 segundos, baseando-se no tempo mínimo de 20 segundos para fixação das imagens14. O tempo foi mensurado por meio de um relógio analógico e a duração total da exposição foi de 10 minutos e 30 segundos. A apresentação foi realizada em sala cedida pelo Serviço de Treinamento e Avaliação de Enfermagem.Fase 4: Preenchimento do segundo formulário - pós-teste imediato, no qual o enfermeiro marcou as categorias referentes a cada imagem de UP apresentada na fase anterior. Esta fase visou a avaliar os conhecimentos adquiridos, imediatamente após a exposição verbal. Como a amostra incluiu 10 indivíduos, chegou-se ao total de 180 avaliações.Fase 5: Após o término do pós-teste, ocorreu o preenchimento do questionário de avaliação da adaptação da nova classificação de UP. Após a coleta, os dados foram organizados em tabelas e gráficos, tabulados e analisados com base no referencial teórico e com o apoio da estatística descritiva (frequencias absolutas e percentuais). Os resultados referem-se às respostas dos enfermeiros, comparando-as com a classificação do NPUAP6,9 como gabarito formal.Resultados e discussãoEste estudo avaliou a adaptação dos enfermeiros perante um novo conhecimento, qual seja, a classificação de UP estabelecida pelo NPUAP6,9. O avanço da tecnologia do cuidar, a padronização de um método e sua aplicabilidade correta garantem a melhoria mais rápida do paciente e o reconhecimento do trabalho prestado pelo enfermeiro.Na amostra, oito são mulheres; todos se encontram na faixa etária dos 23 aos 29 anos, tendo 26 anos como média de idade. Outra característica observada entre os participantes é o tempo de formação ou de profissão, inferior a cinco anos. Apenas três possuem cursos de especialização, o que indica que a educação formal só foi obtida através do curso de graduação (Tabela 1), reiterando a necessidade de busca mais intensa de cursos de atualização em direção à maior e melhor qualificação profissional, o que já está indicado pelo fato de a maioria estar cursando a residência.Ao contabilizar o total de acertos de cada enfermeiro participante da pesquisa, pode-se observar que todos obtiveram índice de acerto acima de 50% na classificação das úlceras; apenas três enfermeiros acertaram mais de 80% dos itens, índice superior aos 60% recomendados. Segundo Fernandes e Caliri5, é necessário que o profissional tenha conhecimento sobre a classificação de UP para que seja garantido um cuidado de boa qualidade. Além disso, para ocorrer aprendizagem, no mínimo, um dos seguintes pontos deve acontecer: aumento dos conhecimentos e melhoria das habilidades15.Como já mencionado, apenas três enfermeiros possuíam cursos de especialização em enfermagem, dois em cardiologia e um em emergência. Desses, dois obtiveram um grau elevado de acertos. Ao considerar-se que um dos enfermeiros com elevado grau de acertos não é especialista em enfermagem, pode-se relacionar o fato a inúmeros outros aspectos, desde pessoais à própria atualização oferecida como parte do projeto. Vygotsky16 afirma que algumas pessoas possuem grande potencial de aprendizagem que os possibilita assimilar com maior facilidade as informações passadas por outras pessoas. Essa informação é confirmada por Lunardelli-Lara, Tanamachi, Lopes Jr17, ao afirmarem ser necessária uma relação entre determinado nível de desenvolvimento e a capacidade potencial de aprendizagem, como ocorreu no presente caso.Tabela 1: Distribuição dos participantes segundo idade, genero e perfil profissional.Rio de Janeiro; 2009Tabela1Ao avaliar as dificuldades relatadas e os erros cometidos, dois enfermeiros que apresentaram menos erros indicaram que não tiveram dificuldades na classificação, diferentemente de um terceiro na mesma condição, mas que apresentou dificuldades. O mesmo autor Vygotsky16 considera a chamada zona de desenvolvimento proximal, na qual a pessoa que já possui representações consolidadas e maduras acerca de determinado fenômeno consegue realizar conexões com o que está sendo transmitido e promover a assimilação do saber esperado. Pulaski18 diz que o aprendizado humano muda continuamente, tornando-se mais refinado a cada aprendizagem. Por fim, Kirkpatrick e Kirkpatrick15 afirmam que essa adaptação proporciona a melhoria das competências e atitudes dos enfermeiros.Fato interessante observado foi que um enfermeiro descreveu já possuir o conhecimento prévio da nova classificação, porém, ao ser avaliado, apresentou menor número de acertos comparativamente aos demais participantes. Dessa forma, percebe-se que não houve a internalização, pois, apesar do contato prévio com a nova classificação de UP, não houve solidificação desse saber4,16.Constata-se que as maiores dificuldades relatadas pelos sujeitos foram nas categorias de úlceras que não podem ser classificadas e na suspeita de lesão tissular profunda, o que não condiz com os erros cometidos no pós-teste. Por exemplo, o enfermeiro que obteve 50% de erros, em particular nas categorias II e em úlcera que não pode ser classificada, não referiu dificuldades para classificar as lesões, assim como o enfermeiro que obteve 38,9% de erros cometidos na categoria I. Isso ocorre, quando o indivíduo aprende algo novo e trabalha dentro dos próprios pressupostos e idéias consolidadas19 e é nesse momento em que se apresentam mais dificuldades na aplicação do novo saber, pois o sujeito se encontra em processo de construção de novas idéias e saberes.As categorias que apresentaram maior número de acertos foram as sinalizadas como sendo as de maior dificuldade. Já as demais categorias, sobre as quais os enfermeiros possuíam maior conhecimento e aproximação, foram as que apresentaram maior quantitativo de erros. Parece que os enfermeiros preocuparam-se mais com as novas informações que estavam sendo ministradas (as novas categorias) do que com as mudanças que ocorreram nas categorias presentes na antiga classificação. Nesse sentido, os enfermeiros estavam experimentando o dinamismo do equilíbrio, visando ao domínio do objeto do conhecimento que estava sendo constituído naquele momento4.Notou-se também que todos os enfermeiros da pesquisa concordaram com o entendimento de que o conhecimento prévio sobre alguma classificação de UP facilita o novo aprendizado. Isso reforça o que Vygotsky16 afirma, ou seja, é através do conhecimento prévio que as novas informações são consolidadas, possibilitando um crescimento intelectual.A nova classificação também foi interpretada por todos os entrevistados como sendo mais completa que a anterior, indo ao encontro do seu objetivo de ser mais explicativa e de fácil compreensão evitando que as UP sejam confundidas com outros tipos de lesões de pele6. Além disso, os enfermeiros referiram que a nova classificação trouxe benefícios ao seu trabalho. Apesar disso, seis participantes disseram ter dificuldades na utilização da nova classificação.Ao se analisarem os resultados, embora se constate que o índice de acertos em cada categoria foi elevado, as categorias II e III apresentaram os menores índices. Parece ter havido confusões entre as categorias, em função dos conhecimentos prévios da classificação anterior, mais antiga. Essa ocorrência pode ser confirmada perante o erro apresentado na categoria II, que foi confundida com Suspeita de Lesão Tissular Profunda, visto que em ambas há o aparecimento de bolhas, que se diferenciam pelo seu conteúdo, segundo a nova classificação de UP6. Também ocorreram equívocos na categoria IV, confundida com úlcera que não pode ser classificada. Na classificação anterior, nas categorias III e IV, a necrose e o esfacelo estavam presentes em toda a base da úlcera, variando quanto à área. Porém, na classificação mais recente, são designadas como Úlcera que Não pode ser Classificada., ao interferirem em sua avaliação mais precisa. Provavelmente, tais equívocos ocorreram porque os indivíduos não fizeram uma assimilação com significação e incorporação dos novos dados2.Houve apenas associação e memorização das categorias, sendo confundidas posteriormente. Como Wadsworth3 esclarece, muitas vezes, torna-se difícil para o ser humano absorver todo o conteúdo que é passado e, dessa forma, obter a compreensão do todo. Por mais que os sujeitos tenham tido um bom aproveitamento, ocorreram pequenos equívocos que os levaram ao erro3. No estudo, os entrevistados cometeram confusões entre as categorias da nova classificação de UP e aquelas presentes na antiga, de 1987, o que é aceitável, já que o conhecimento está sendo remodelado pelos sujeitos.Algumas limitações devem ser mencionadas no presente estudo como algumas dificuldades para a realização da coleta de dados, pela incompatibilidade de horário de alguns participantes, quando não podiam se ausentar do serviço no horário marcado, gerando atraso de algumas entrevistas. Além disso, houve problemas no tocante à provisão dos recursos audiovisuais, já que estes nem sempre estavam disponíveis para utilização.Esta pesquisa pode contribuir como fonte de informação e conhecimento para os enfermeiros, pois, dentre suas responsabilidades, está a prática atualizada, agindo como coordenador da assistência, facilitando o uso de equipamentos e atuando como educador e elaborador de procedimentos e rotinas a partir de seu envolvimento nas pesquisas. Ressalta-se que, concomitantemente ao desenvolvimento do estudo, os enfermeiros foram atualizados por meio de uma aula, ministrada pelos autores do presente artigo, sobre a nova classificação de UP, possibilitando, certamente, a prestação de um cuidado mais direcionado aos pacientes e elevando, assim, a qualidade da assistência prestada.ConclusãoConstata-se que os enfermeiros possuem conhecimento prévio sobre a antiga classificação de UP, que difere da classificação abordada neste estudo. Mesmo assim, a adaptação à nova classificação ocorreu de forma satisfatória, destacando-se as aptidões do enfermeiro, que são, dentre outras: sistematizar, contextualizar e direcionar o melhor cuidado. Além disso, esta pesquisa mostrou também que o conhecimento prévio sobre determinado assunto torna a assimilação e aquisição de uma nova informação mais fácil, embora não eximindo os profissionais de falhas.A avaliação dos resultados mostrou ainda que os enfermeiros estavam satisfeitos com a nova classificação de UP proposta pelo NPUAP, ao afirmarem, por exemplo, que a mesma trouxe benefícios para sua vida profissional. Frente aos resultados, recomenda-se que as instituições favoreçam o desenvolvimento de educação permanente de seus profissionais além da necessidade de inserção desse tipo de conhecimento específico desde a graduação em enfermagem.

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Published

2016-03-23

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1.
Marques LG, Vieira MLC, Pereira SRM. Artigo Original 1 - A Construção do Conhecimento dos Enfermeiros Perante a Nova Classificação da Úlcera por Pressão. ESTIMA [Internet]. 2016 Mar. 23 [cited 2024 Nov. 11];11(1). Available from: https://www.revistaestima.com.br/estima/article/view/80

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