Artigo Original 2

Authors

  • Gabriela Mendes Cardozo Enfermeira. Membro do projeto de extensão: Cuidados de enfermagem a pessoas com feridas.
  • João Paulo Sanches Bermudes Enfermeiro. Docente do curso de Enfermagem da UENP/CLM. Membro do projeto de extensão: Cuidados de enfermagem a pessoas com feridas.
  • Lucas de Oliveira Araújo Enfermeiro. Docente do curso de Enfermagem da UENP/CLM. Membro do projeto de extensão: Cuidados de enfermagem a pessoas com feridas.
  • Ana Cândida Martins Grossi Moreira Enfermeira. Aluna do curso de mestrado em Enfermagem da UEM. Docente do curso de Enfermagem da UENP/CLM. Membro do projeto de extensão: Cuidados de enfermagem a pessoas com feridas.
  • Elis Martins Ulbrich Enfermeira. Aluna do curso de doutorado em Enfermagem da UFPR. Membro do Grupo de Estudos Multiprofissional em Saúde do Adulto (GEMSA).
  • Anice de Fátima Ahmad Balduino Enfermeira. Aluna do curso de doutorado em Enfermagem da UFPR. Membro do GEMSA.
  • Maria de Fátima Mantovani Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela USP. Docente do Departamento de Enfermagem da UFPR. Membro do Grupo de Estudos Multiprofissional em Saúde do Adulto (GEMSA)
  • Ricardo Castanho Moreira Enfermeiro. Aluno do curso de doutorado em Enfermagem da UFPR. Membro do GEMSA. Docente do curso de Enfermagem da UENP/CLM. Coordenador do projeto de extensão: Cuidados de enfermagem a pessoas com feridas.

Abstract

Contribuições da Enfermagem para Avaliação da Qualidade de Vida de Pessoas com Úlceras de Perna

ResumoEste estudo objetivou avaliar a qualidade de vida de pessoas com úlcera da perna. Trata-se de uma pesquisa de caráter quantitativo, realizada no ambulatório de uma universidade pública da cidade de Bandeirantes, PR. O critério de inclusão foi participação no projeto há mais de dois meses e comparecimento ao ambulatório no mês de setembro de 2010. Foram selecionados 15 participantes, mediante amostragem não-probabilística, de conveniência. Os preceitos éticos foram respeitados. Utilizaramse dois instrumentos: um questionário com questões sócio-demográficas e clínicas e o Índice de Qualidade de Vida de Ferrans e Powers - Versão Feridas (IQVFP-VF). Os dados foram analisados pela estatística descritiva e inferencial. A maioria dos participantes era do sexo masculino, de etnia branca, com ensino fundamental incompleto e que não trabalhava. O escore médio obtido para a qualidade de vida geral foi 22,27. Os itens que avaliaram satisfação com o fato de estar com a ferida e o tempo para cicatrização da ferida foram os que apresentaram menores escores médios; o item com maior escore médio foi a fé em Deus. O uso do IQVFP-VF permitiu identificar que a qualidade de vida geral e as dimensões Saúde e Funcionamento e Psicológico/ Espiritual obtiveram os menores escores; Considerou-se ainda que o instrumento mostrou-se adequado para utilização na consulta de enfermagem a pessoas com úlceras de perna.Descritores: Avaliação de Enfermagem. Qualidade de vida. Úlcera venosa.AbstractThis aim of this study was to evaluate the quality of life of people with leg ulcers. This was a quantitative study conducted in the outpatient clinic of a university hospital in Bandeirantes, PR, Brazil. The inclusion criterion was participation in the program for more than two months and a visit to the outpatient clinic in September 2010. Fifteen participants were selected using non-probability convenience sampling. The study was conducted following ethical principles. Two instruments were used: a questionnaire assessing sociodemographic and clinical characteristics of the participants, and the Ferrans and Powers Quality of Life Index-Wound Version (QLI). Descriptive and inferential statistics were used for data analysis. Most participants were male, White, unemployed, and had incomplete elementary education. The mean overall QLI score was 22.27. The lowest mean scores were reported on items that assessed ‘satisfaction of having an ulcer’ and ‘wound-healing time’; the highest mean score was obtained on the item assessing ‘Faith in God’. QLI scores showed that overall quality of life and the ‘health and functioning” and ‘psychological/spiritual’ subscales had the lowest scores, and that the ‘family” and ‘socioeconomic’ had the highest scores. The QLI was considered appropriate for use in the nursing consultation of patients with leg ulcers.Descriptors: Nursing assessment. Quality of life. Venous ulcer.ResumenEste estudio tuvo como objetivo evaluar la calidad de vida de las personas con úlceras en la pierna. Se trata de un estudio de investigación con abordaje cuantitativo, realizada en la clínica de una universidad pública en la ciudad de Bandeirantes, PR. El criterio de inclusión fue la participación en el proyecto hace más de dos meses y la asistencia a la clínica en el mes de septiembre de 2010. Fueron seleccionados 15 participantes mediante un muestreo no probabilístico de conveniencia. Las recomendaciones éticas fueron respetadas. Fueron utilizados dos instrumentos, un cuestionario con variables sociodemográficas y clínicas y, el segundo, fue el Índice de Calidad de Vida de Ferrans y Powers - versión heridas (ICVFP-VH).Los datos fueron analizados por estadística descriptiva e inferencial. La mayoría de los participantes fueron del sexo masculino, raza blanca, con nivel primario incompleto y no trabajaban. La puntuación promedio obtenida por la calidad de vida en general fue 22,27. Los ítemes que evaluaron la satisfacción de estar con la herida y el tiempo para la cicatrización fueron los que presentaron las menores puntuaciones promedios, y el ítem con la puntuación más alta fue la fe en Dios. El uso de la ICVFP-VH permitió identificar que la calidad de vida en general y las dimensiones de la salud y el funcionamiento psicológico / espiritual tuvieron puntuaciones más bajas. Finalmente, se considera que este instrumento sea adecuado para el uso durante la consulta de enfermería para las personas con úlcera en la pierna.Palabras clave: Evaluación en Enfermería. Calidad de vida. Úlcera venosa.IntroduçãoViver com uma úlcera na extremidade inferior traz uma série de mudanças na vida das pessoas e de seus familiares, muitas vezes difíceis de serem gerenciadas. Uma ulceração pode não ser apenas uma lesão física, mas algo que gera sofrimento sem precisar de estímulos físicos; tornase uma marca, pois fragiliza e incapacita o indivíduo para diversas atividades do seu cotidiano. Com isso, não pode ser tratada como um fato patológico isolado do contexto “ser e existir” do indivíduo, ao contrário, reflete em si mesmo outros problemas não orgânicos inflamatórios ou teciduais1,2.As úlceras que acometem a extremidade inferior dos pacientes são também denominadas de úlceras de perna e constituem uma das principais queixas daqueles que procuram o serviço de saúde por integridade da pele prejudicada. Isto porque o tratamento desse agravo requer curativos por período longo, proporcionando transtornos clínicofuncionais e estéticos que afetam a qualidade de vida desses pacientes, além de representar custo operacional alto, tanto individual quanto em saúde pública3. As úlceras de perna variam de acordo com sua causa, podendo ser de etiologia venosa, arterial, mista, traumática ou como complicação de uma doença crônica, como a úlcera hipertensiva ou o pé diabético.O Consenso Nacional Sobre Úlceras de la Extremidad Inferior (CONUEI)4 reconhece a úlcera de perna como uma condição que afeta de forma grave a qualidade de vida da pessoa que dela padece. Não obstante, sua relativamente baixa prevalência e seu mínimo risco de mortalidade (principalmente as de origem venosa) têm como consequência o fato de historicamente não ter recebido a atenção suficiente nem por parte dos profissionais de saúde nem pelos gestores. Embora tenha sido elaborada a partir da realidade espanhola, a opinião do CONUEI representa também a situação do brasileiro com úlcera de perna. Para Sangaletti5, apesar da escassez de publicações sobre a epidemiologia dessas úlceras, frequentemente estão presentes na prática cotidiana dos serviços de saúde.O CONUEI4, pautado em revisões de estudos epidemiológicos, aponta índices globais de prevalência de 0,10% a 0,30% e de incidência de 3 a 5 casos por mil habitantes por ano.As características descritas sobre as úlceras de perna configuram-na como um problema de saúde pública, haja vista a demanda de cuidados que exigem, não podendo ser aceitas como um problema normal ou corriqueiro, mas abordadas com comprometimento e continuidade de cuidado.Para Herber, Schnepp e Rieger6, o cuidado de pacientes com doenças crônicas é o foco de muitos pesquisadores de diferentes disciplinas. Uma questão que eles tentam responder é como os profissionais da saúde podem melhorar a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas cronicamente enfermas. Os autores consideram que o pontochave para o alcance desse objetivo inicia-se pela avaliação da qualidade de vida.A qualidade de vida (QV) é um assunto bastante abordado nas últimas décadas, a despeito do aumento da expectativa de vida7. Para Minayo, Hartz e Buss8, a partir dos anos 70, no âmbito da saúde, a qualidade de vida foi introduzida no campo das necessidades humanas fundamentais, materiais e espirituais cujo conceito é promoção da saúde.O termo qualidade de vida é polissêmico e não existe um consenso único acerca de seu conceito, pois é determinada pela subjetividade e envolve todos os componentes físicos, psicológicos, sociais, culturais e espirituais da condição humana9. Para o grupo de trabalho da Organização Mundial de Saúde sobre qualidade de vida, WHOQOLGROUP, qualidade de vida é a “percepção do indivíduo na sua posição de vida, no contexto da cultura e sistema de valores, os quais ele vive em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”10. No presente estudo, considerouse qualidade de vida como “a sensação de bemestar de uma pessoa que deriva da satisfação ou insatisfação com as áreas da vida importantes para ela”11.Tratando especificamente da qualidade de vida de pessoas com úlceras de perna, revisão sistemática6, realizada no período de 1990 a 2006, incluiu 24 artigos, cujos resultados foram agrupados em cinco domínios: físico (como dor), ocupacional (como restrição da capacidade no trabalho), social (como isolamento social), psicológico (como depressão) e impacto do tratamento da úlcera (como desconforto). Essas características refletem, em maior ou menor intensidade, o amplo espectro de repercussões da úlcera na vida dos pacientes e sua família. O ser humano tende a aproximar o grau de satisfação encontrado na vida familiar, amorosa, social e ambiental à própria estética existencial. Partindo-se da premissa de que a opinião do próprio indivíduo que possui uma úlcera de perna se traduz na sua manifestação sobre a qualidade de vida, cuja relação deve ser centrada nele e não na doença, a assistência prestada pelos profissionais da saúde assume a perspectiva da subjetividade do cuidado, na qual o próprio indivíduo direciona as práticas assistenciais12.Frente ao exposto, o objetivo deste estudo foi avaliar a qualidade de vida de pessoas com úlceras de perna, atendidas num ambulatório de uma universidade pública no Paraná.MétodosTrata-se de uma pesquisa de caráter exploratório e quantitativa, realizada no ambulatório da Santa Casa de Misericórdia do Município de Bandeirantes, Paraná, sede do projeto de extensão universitária intitulado “Cuidados de Enfermagem a Pessoas com Feridas”, da Universidade Estadual do Norte do Paraná, Campus Luiz Meneghel (UENP/ CLM).Os aspectos éticos seguiram a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que dispõe sobre pesquisa envolvendo seres humanos, e todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). A pesquisa foi autorizada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual do Norte do Paraná, com parecer no 065- 2010. A utilização do Índice de Qualidade de Vida de Ferrans e Powers - Versão Feridas (IQVFP-VF) foi autorizada pelas autoras.O critério de inclusão foi a participação do cliente no projeto há mais de dois meses e comparecimento ao ambulatório no mês de setembro de 2010. Foram selecionados 15 participantes com úlceras de perna de diferentes etiologias, mediante amostragem não-probabilística, por conveniência. Os dados foram coletados no mês de setembro de 2010, durante as consultas de enfermagem, com duração aproximada de 30 minutos.Para a coleta de dados, utilizaram-se dois instrumentos: um questionário com dados sóciodemográficos e clínicos (SDC) e o IQVFP-VF, construído e validado por Yamada e Santos9. O questionário SDC foi composto de questões fechadas que incluiu faixa etária, gênero, etnia, escolaridade, emprego, renda familiar, número de pessoas que moram no mesmo domicílio, tipo de ferida, tempo de evolução e número de feridas. Por sua vez, o IQVFP-VF é constituído de 68 itens, distribuídos em duas partes e em quatro dimensões. Cada parte contém 34 perguntas mensuradas em escala do tipo Likert, com amplitude de 1 a 6. Na primeira parte, as perguntas relacionam-se à satisfação do participante em relação aos aspectos de sua vida; já na segunda, o quanto aquele aspecto é importante para ele. As subescalas são Saúde e Funcionamento, Social-Econômico, Psicológico/ Espiritual e Família9.Para cada valor atribuído às perguntas da parte 1 do IQVFP-VF, subtrai-se 3,5. A escala passa a ter variação de -2,5 a 2,5. Essas novas pontuações obtidas nos itens satisfação são multiplicadas pelo valor da resposta atribuída ao mesmo item na parte 2 do instrumento, obtendo-se um valor único em cada item respondido. O escore total é produzido pela somatória de todos esses valores ajustados, dividido pelo total de itens respondidos. Até então, a variação possível é de -15 a +15. Para eliminar as pontuações negativas no escore final, soma-se 15 aos valores alcançados, o que resulta no escore total, passando a variar de 0 a 30, sendo a melhor qualidade de vida indicada pelos maiores valores13. Esse instrumento permite a produção de escores por item, para cada subescala e para a escala total9. Também foi proposta uma categorização para os escores14, visando a discutir os resultados: Muito Ruim (0 a 5), Ruim (6 a 11), Regular (12 a 17), Boa (18 a 23) e Muito Boa (24 a 30), e que será utilizada no presente estudo.Após a coleta de dados, esses foram tabulados em uma planilha Microsoft Office® Excel 2003 e exportados para o programa SPSS®, versão 13.0. Utilizou-se frequência absoluta e percentual para as variáveis sócio-demográficas e clínicas e as medidas de dispersão para o escore IQVFP-VF (média, desvio-padrão, máxima e mínima). Empregou-se o teste de correlação de Pearson (r) entre as variáveis sócio-demográficas e clínicas, definidas como variáveis independentes, e o IQVFP-VF, adotado como variável dependente. Calculou-se o Coeficiente de determinação (r2), elevando-se o r ao quadrado, para determinar a porcentagem de variação explicada por uma das variáveis em relação à outra. O nível de significância adotado foi de 5% (p = 0,05). Para a interpretação da correlação, adotaram-se os critérios de Pallant15: valores de r de 0,10 a 0,29 = pequena; 0,30 a 0,49 = moderada e de 0,5 a 1,0 = forte.ResultadosOs resultados apresentados abordam a distribuição dos participantes de acordo com as características sócio-demográficas e clínicas, IQVFP-VF e correlação entre as variáveis independentes e a variável dependente.Como se pode observar na Tabela 1, dos 15 pacientes, oito (53,3%) eram homens, adultos, que se autodenominaram como pertencentes à etnia branca, que estudaram até o ensino fundamental incompleto e não trabalhavam durante o período da coleta de dados. Com relação à renda familiar, a maioria recebia até dois salários mínimos e tinha 4 ou mais pessoas morando juntas no mesmo domicílio. Atinente às características clínicas, predominou a etiologia venosa (53,3%), com tempo de evolução maior que seis meses. O número de lesões apresentada pelos participantes variou de 1 a 3, com a maioria dos pacientes apresentando até duas lesões.Como se pode observar na Tabela 1, dos 15 pacientes, oito (53,3%) eram homens, adultos, que se autodenominaram como pertencentes à etnia branca, que estudaram até o ensino fundamental incompleto e não trabalhavam durante o período da coleta de dados. Com relação à renda familiar, a maioria recebia até dois salários mínimos e tinha 4 ou mais pessoas morando juntas no mesmo domicílio. Atinente às características clínicas, predominou a etiologia venosa (53,3%), com tempo de evolução maior que seis meses. O número de lesões apresentada pelos participantes variou de 1 a 3, com a maioria dos pacientes apresentando até duas lesões.O escore médio obtido para o IQVFP-VF foi de 22,27. Com relação às subescalas, nota-se que a relacionada à Saúde e Funcionamento foi a que apresentou o menor escore médio (19,13; DP= 5,95). Os itens que avaliaram satisfação com o fato

 

Tabela 1 - Caracterísiticas sócio-demográficas e clínicas das amostra. Bandeirantes; 2012Características sócio-demográficas(n)(%)   Faixa etária  <18 anos16,718 a 60 anos640,0>60 anos533,3   Gênero  Feminino746,7Masculino853,3   Etnia   Branco853,3Pardo426,7Negro213,3Asiático16,7   Escolaridade  Fundamental incompleto1386,6Fundamental completo16,7Médio16,7   Emprego  Sim640,0Não960,0   Renda familiar  1 salário320,02 salários853,33 ou + salários426,7   Número de Pessoas que moram no mesmo domicílio  2 pessoas533,33 pessoas213,34 ou + pessoas853,4   Tipo de ferida  Venosa853,3Pé diabético533,3Queimadura16,7Deiscência16,7   Tempo de evolução  <6 meses426,7>6 meses1173,3   N° de feridas  1640,02853,3316,7   n = número absolute; % = percentual.  

 

 

Tabela 2 - Escores médios obtidos nas subescalas do Índices de Qualidade de Vida - Versão Feridas (IQVFP-VF). Bandeirantes; 2010.IQV geral/SubescalasnMédiaDPMínimoMáximaIC 95%Saúde e funcionamento1519,135,9506,9028,4018,59 a 25,41Sócio-econômico1527,201,0526,2728,8027,07 a 28,28Psicológico/Espiritual1523,953,1220,3729,8322,16 a 25,73Família1529,280,6928,6330,0028,88 a 29,67QV Geral1522,273,7913,8128,7620,10 a 24,44DP = Desvio Padrão; IC 95% = Intervalo de Confiança de 95%

 

 

Tabela 3 - Correlação entre as variáveis sócio-demográficas e clínicas e o IQVFP-VF total (QV Geral). Bandeirantes; 2010.VariáveisIdadeEscolaridadeRenda FamiliarN° de pessoas que moram no mesmo domicílioTempo de evoluçãoN° de feridasIQVFP-VF0,0109-0,08120,5271*0,2680-0,0332-Idade1,0000-0,33340,23180,04160,03400,0615Escolaridade 1,00000,16850,15840,22270,0789Trabalho  0,18630,0831-0,18460,0000Renda familiar  1,00000,06970,20640,0000N° de pessoas que moram   1,00000,21490,3062No mesmo domicílio     0,4553Tempo de evolução    1,00000,1685N° de feridas     1,0000*Correlação de Pearson

 

de estar com a ferida e o tempo de cicatrização, ambos pertencentes a essa subescala, foram os que apresentaram menores escores médios, sendo 2,13 e 2,93, respectivamente.A Tabela 3 mostra que a variável renda familiar foi a única que apresentou correlação estatisticamente significativa (positiva e de forte magnitude) com o IQVFP-VF total (r=0,5271; p=0,043).A Tabela 4 confirma o resultado da Tabela 3, mostrando que a renda familiar apresentou coeficiente de determinação (r2) de 0,2778, com significância estatística (p=0,043). Esse dado permite inferir que cerca de 28% do aumento no escore do IQVFP-VF foi influenciado pelo aumento da renda familiar.DiscussãoNeste estudo sobre a qualidade de vida de pessoas com úlceras de perna, constatou-se que a maioria (80%) apresentou escores totais acima de 20, significando boa e muito boa qualidade de vida. Tal resultado foi semelhante ao valor atribuído pelos participantes no estudo de Yamada e Santos13, com 89 pacientes com úlceras venosas crônicas, no município de São Paulo. A comparação apresenta limitação, pois todos os participantes da referida pesquisa apresentavam úlcera de etiologia venosa.O participante com maior escore de IQVFP-VF foi uma idosa, que referiu não ter concluído o ensino fundamental, possuía renda familiar igual ou superior a três salários mínimos e morava com mais três pessoas no seu lar, não

 

Tabela 3 - Correlação entre as variáveis sócio-demográficas e clínicas e o IQVFP-VF total (QV Geral). Bandeirantes; 2010. IQVFP-VF Variáveisr2p valueIdade0,0000,969Escolaridade0,0070,774Renda familiar0,2780,043*N° de pessoas que moram no mesmo domicílio0,1470,158Tempo de evolução0,0010,907N° de feridas0,0040,828*p<0,05

 

apresenta comorbidades, e sua úlcera era de etiologia venosa, com duração de 50 dias. O participante com menor escore de IQVFP-VF foi um idoso, referiu não ter concluído o ensino fundamental, possuía renda familiar de dois salários mínimos e morava com mais duas pessoas no seu domicílio, apresentava histórico de hipertensão arterial, e sua úlcera também era de etiologia venosa, com duração de 20 anos.Com relação à influência do tempo de abertura da úlcera na qualidade de vida, há estudo que não identificou associação positiva entre elas16, porém considera-se que o tempo prolongado da lesão e a demora no período de cicatrização vêm acompanhados de sofrimento ao paciente, além de perda laboral, e repercute negativamente na qualidade de vida da pessoa com úlcera da perna17.A etiologia venosa é a principal causa das úlceras de perna, sendo responsável por cerca de 80% das úlceras que acometem as extremidades inferiores18 e causa significante impacto social e econômico devido à natureza recorrente e ao longo tempo decorrido entre o aparecimento da lesão e sua cicatrização. Dessa forma, devido à necessidade de terapêutica prolongada, a pessoa que possui esse tipo de lesão crônica necessita, frequentemente, de cuidados profissionais de saúde, além de se afastar do trabalho e aposentar-se precocemente19.O item com maior escore apontado foi a fé em Deus, para o qual todos os entrevistados assinalaram o valor máximo de importância e satisfação. Para algumas pessoas, mesmo com os reconhecidos avanços da tecnologia, a explicação sobrenatural para a manifestação de doenças permite elucidar e, às vezes, curar a maioria das enfermidades que acomete a população. Assim, a compreensão das necessidades dos indivíduos acometidos por feridas não deve se pautar apenas no conhecimento científico, mas também na avaliação e interpretação das crenças e religião, principalmente em cidades do interior do país.A religiosidade pode representar importante fonte de suporte e conforto para muitas pessoas, durante os períodos de sofrimento, trazendo-lhes serenidade para enfrentar suas adversidades. A religiosidade é uma estratégia de suporte frequentemente usada e muito útil para pessoas que sofrem de alguma morbidade. A fé em Deus atua como elemento positivo no enfrentamento da doença e, nesse âmbito, é interpretada como uma estratégia utilizada para lidar com as incertezas da doença e superar as situações de crise vivenciadas20.No tocante à renda familiar, variável que permaneceu em ambos modelos estatísticos, salienta-se que quando é baixa, pode interferir no tratamento da pessoa com úlcera de perna, pois, muitas vezes, ela prioriza as necessidades de sua família, como alimentação, vestimenta, educação, sobrando poucos recursos para aquisição de materiais para a terapia tópica, principalmente quando não fornecida pelas unidades de atenção básica ou nos centros de especialidades ou referência. A precariedade de recursos financeiros pode interferir inclusive no acesso (físico) à Unidade Básica de Saúde, comprometendo a adesão ao tratamento, condição que, na opinião de Malaquias21, deve ser considerada na elaboração do plano terapêutico.Com o maior escore médio entre todas as dimensões de qualidade de vida, verificou-se que os componentes da família têm influência positiva no aumento do escore de qualidade de vida das pessoas com úlceras de perna. Silva et al.22 afirmam que a qualidade de vida de uma pessoa está muito relacionada ao apoio que ela recebe da família. O envolvimento dos familiares, na elaboração do plano de cuidados de enfermagem, é uma estratégia que pode contribuir para a melhoria da qualidade de vida da pessoa com úlcera de perna e ao fortalecimento das relações familiares. Para Charepe e Figueiredo23, a família possui uma função dual de proteger social e psicologicamente seus membros. Quanto a essa função, a família é fundamentada nas ligações entre seus membros, as quais são possibilitadas pela comunicação e na compreensão mútua e sua configuração espacial é concebida a partir do locus onde as relações se estabelecem entre pessoas que têm laços próximos, moram no mesmo domicílio e se cuidam mutuamente24. Elsen25 ressalta que a família tem sido, em diferentes épocas, identificada como uma unidade que cuida de seus membros ao longo do processo de viver nas diferentes etapas da vida de cada ser humano.No que se refere aos escores obtidos em cada uma das subescalas, observou-se menor pontuação no domínio Saúde e Funcionamento, seguido do Psicológico/Espiritual. Esses achados convergem para os resultados de uma revisão sistemática realizada por Persoon et al.26, nas bases de dados Medline e Cinahl, em 2002, que incluiu 37 artigos, todos reportando o impacto negativo da presença da úlcera de perna sobre o indivíduo, ameaçando principalmente o funcionamento físico e psicológico, mas também o social, em menor intensidade. Um estudo desenvolvido na Europa, envolvendo 38 pacientes com úlcera de perna revelou que a dor, prurido, alteração da aparência, perda de sono e limitação funcional foram os efeitos mais relatados pelos pacientes, explicando também o maior comprometimento que a úlcera de perna exerce no domínio saúde e funcionamento16.Profissionais médicos e enfermeiros sugerem que os aspectos levantados na avaliação da qualidade de vida dos pacientes com úlcera de perna devem ser descritos nos guias e manuais de orientação para o cuidado de pessoas com esse agravo, bem como as estratégias de sucesso na amenização ou solução de cada um dos motivos que afeta a qualidade de vida e o bem-estar dos pacientes e seus familiares. O profissional de enfermagem possui um papel fundamental no que se refere ao cuidado integral e integrado do paciente, como também desempenha um trabalho de relevância no tratamento das úlceras de perna, ao ter maior contato com essa clientela, acompanhando a evolução das lesões, orientando e implementando a terapia tópica, além de fornecer suporte emocional ao indivíduo.Ressalta-se que o uso do IQVFP-VF permitiu atingir o objetivo proposto, pois, ao avaliar as pessoas com úlceras de perna, permitiu identificar não só a sua doença, mas o ser humano e o seu entorno, estabelecendo-se assim uma avaliação individualizada da sua qualidade de vida. Como contribuição para a prática profissional em Enfermagem, sugere-se a utilização desse instrumento na consulta de enfermagem a pessoas com úlceras de perna, dada sua facilidade de apicação e abrangência.As limitações deste estudo referem-se ao tamanho limitado da amostra e ao viés de seleção, pois os participantes selecionados eram atendidos no ambulatório de feridas. Sugere-se a realização de outras pesquisas com abrangência maior, tanto no que se refere ao número de participantes como também aos locais de recrutamento, como unidades básicas de saúde com estratégia de saúde da família.ConclusãoEste estudo sobre a qualidade de vida de 15 pacientes com úlceras de perna, participantes de um projeto de atenção específica no interior do Paraná, permitiu concluir que a qualidade de vida foi considerada por eles como boa e muito boa, ao atingirem valores superiores a 20, tanto total como nas subescalas ou dimensões. Os itens estar com ferida e tempo para cicatrizar foram os mais baixos, indicando impacto negativo sobre a qualidade de vida dessas pessoas.


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Published

2016-03-23

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1.
Cardozo GM, Bermudes JPS, Araújo L de O, Moreira ACMG, Ulbrich EM, Balduino A de FA, et al. Artigo Original 2. ESTIMA [Internet]. 2016 Mar. 23 [cited 2024 Mar. 28];10(2). Available from: https://www.revistaestima.com.br/estima/article/view/75

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